Peugeot: «Governo deixou setor em situação catastrófica» - TVI

Peugeot: «Governo deixou setor em situação catastrófica»

Diretor da marca em Portugal não compreende como é que se fez uma projeção de aumento da receita fiscal do IUC em 7%

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No dia em que se soube que a Peugeot Citroen vai cortar 8.000 empregos em França, a PSA de Mangualde já veio dizer que vai manter os postos de trabalho. O novo diretor geral da Peugeot avisa, no entanto, que a quebra de receitas em 47% do Imposto Único Automóvel (IUC) até maio se deve ao Governo ter ignorado «as evidências» de que as medidas tomadas «seriam uma consequência catastrófica» no setor.

Alfredo Amaral, o primeiro português a assumir o cargo máximo da Peugeot desde que a marca francesa está presente em Portugal, disse à Lusa que não compreende como é que o Governo fez uma projeção de aumento da receita fiscal do IUC em 7%, já que «todos os alertas sistematicamente feitos por várias entidades do setor puseram bem em evidência» que as medidas que estavam a ser tomadas teriam consequências daquela envergadura.

Para o diretor geral da Peugeot Portugal, «há uma completa desadaptação à realidade» e o Governo sabia perfeitamente que, ao aumentar a carga fiscal sobre os automóveis, estaria a condenar a aquisição de carros, impulsionando a quebra das vendas para metade.

«Temos a carga fiscal das mais fortes da Europa e se relativizar pela paridade de poder compra, temos os automóveis mais caros da Europa». «Com este clima instituído é natural que uma das primeiras reações do consumidor é travar a fundo».

Alfredo Amaral considera que o setor automóvel está a sacrificado para atingir o objetivo de redução das importações, o que «é um erro tremendo», porque ao «tomar uma iniciativa desse género não se está a proporcionar um desenvolvimento da economia».

Para o diretor geral da marca francesa, «a mobilidade é um elemento fundamental para um desenvolvimento económico» e, com a retração do consumo e aumento da carga fiscal automóvel, está-se «a sustentar que um futuro envelhecimento do parque automóvel com consequências que, levando ao limite, podermo-nos tornar numa Cuba da Europa, com um museu a circular».

Com as quedas nas vendas de carros a situarem-se em cerca de metade até junho, Alfredo Amaral refere que o setor tem vindo a adaptar-se ao mercado, obrigando a um corte de custos «enorme», embora não ao mesmo nível de grandeza que a queda nas vendas.

«Há um momento a partir do qual é impossível as estruturas darem as respostas que têm de dar. Pode levar-se ao limite em termos de eficiência das estruturas mas existe sempre um custo fixo que é fundamental para trabalhar».

Alfredo Amaral concorda com a visão da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), que estimou em fevereiro o encerramento de 2.600 empresas do setor este ano, correspondendo a 21 mil postos de trabalho, e considera que o Governo tem de dar incentivos ao setor: «O facto é que tudo aquilo que a ACAP evocou no início do ano e logo à seguir à aprovação do Orçamento do Estado, está-se a verificar e, por isso, temos muitas estruturas do comércio automóvel a fechar».

O responsável admitiu ainda que «dentro de um clima de crise», o grupo francês «não teria feito o investimento na panóplia de produtos que hoje tem», provocando aqueles 8 mil despedimentos em França.

Sobre o facto de algumas marcas conseguirem superar as vendas do ano passado, Alfredo Amaral considera «estranho» que haja «um crescimento das marcas especialistas [BMW, Mercedes e Audi] que, no seu conjunto, representam mais 5 pontos percentuais de quota de mercado relativamente ao ano passado», desconfiando de «algum artificialismo» como a introdução dos carros em Portugal e imediatamente exportados.
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