Televisão digital já arrancou. Milhares sem cobertura

Já arrancou a televisão digital terrestre (TDT) e o sinal analógico já começou a ser desligado. A primeira localidade do país a aderir foi Alenquer, onde foi desligado esta quinta-feira o sinal analógico do retransmissor local, que passou a emitir em sinal digital.

A TDT, que vem sobretudo melhorar a qualidade da imagem com a transmissão em alta definição, obrigou as habitações onde ainda se vê apenas os quatro canais da televisão pública a adquirir descodificadores do sinal ou a adquirir televisores tecnologicamente mais modernos e adaptados à revolução digital.

Investimentos indispensáveis a que as famílias residentes na vila de Alenquer não se deixem de ver televisão e os televisores ligados fiquem com o ecrã preto e com a seguinte informação: «As emissões da televisão analógica do retransmissor de Alenquer cessaram às 11.00 de 12 de maio de 2011. Pode continuar a receber televisão de forma gratuita, a partir do mesmo retransmissor, através da TDT. Precisa apenas do equipamento apropriado».

Alteração afecta poucas famílias

Uma mudança que, estima a Autoridade Nacional das Comunicações (ANACOM), deverá atingir apenas 16% dos moradores, entre 1.000 a 1.400 famílias de Alenquer, e que não deverá deixar sem televisão muitos lares detentores apenas dos quatro canais.

«Estamos convencidos de que não há ninguém que não tenha sido atingido pela informação», disse o presidente do organismo, José Amado da Silva, adiantando que «a ANACOM tentou prevenir tudo o que era possível para desmistificar negócios ilícitos».

Consciente de que a informação não chegou a toda a população, sobretudo aos idosos, o presidente da câmara, Jorge Riso, apelou à ANACOM para manter «uma campanha de proximidade junto das pessoas» no sentido de prestar «apoio técnico» a quem possa estar a sentir mais dificuldades nesta fase de mudança.

Depois de Alenquer, o apagão analógico vai ocorrer a 16 de junho no Cacém e a 13 de outubro na Nazaré. O alargamento da TDT a todo o país vai ocorrer a 26 de abril de 2012.

Milhares têm de comprar parabólicas

Mas se no arranque tudo parece estar a correr como previsto, o mesmo pode não acontecer daqui para a frente, As populações de 13 freguesias dos concelhos de Viana do Castelo e Caminha estão a mobilizar-se, através de um abaixo-assinado, para contestar a possibilidade de perderem o acesso gratuito ao sinal de televisão digital, em 2012.

A informação foi avançada à agência Lusa pelo autarca de Afife, uma das seis freguesias de Viana do Castelo que não será coberta pela rede terrestre de televisão digital.

«Segundo as consultas que fizemos à Portugal Telecom não está previsto qualquer emissor de TDT [Televisão Digital Terrestre] para estas freguesias, até agora abrangidas pelo emissor de Carreço. Entendemos que é uma discriminação que está a ser feita a esta população», afirmou Arlindo Ribeiro.

A isto, o autarca de Afife acrescenta que situação idêntica será vivida por mais sete freguesias do vizinho concelho de Caminha, o que totalizará uma população afetada na ordem das 15.700 pessoas. «É lamentável, porque todos estes consumidores pagam a sua contribuição para ter um serviço, sem mais custos», disse ainda.

Contactada pela Lusa, fonte da Portugal Telecom (PT), confirmou que algumas destas zonas não serão cobertas pela rede terrestre, mas assegurou que a cobertura «de todo o território está garantida», em termos complementares, pela receção via satélite.

«Se nós pagamos, na fatura da eletricidade, a mesma taxa de audiovisuais que a restante população porque é que teremos de pagar ainda mais, para comprar os recetores e antenas parabólicas? Não temos os mesmos direitos?», questiona-se Arlindo Ribeiro.