Roubini: guru diz que «será doloroso» cumprir o plano português - TVI

Roubini: guru diz que «será doloroso» cumprir o plano português

Economista considera que plano de austeridade previsto pela troika «tem de ser feito» e que o país deverá fazer o seu melhor para evitar a reestruturação da dívida

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Como é que um guru da economia mundial vê a crise que Portugal atravessa? Professor na Universidade de Nova Iorque, Nouriel Roubini é um dos maiores pensadores económicos da actualidade, tendo ficado conhecido como «o profeta da desgraça» por ter sido um dos poucos a prever a crise desencadeou a falência da Lehmon Brothers em 2008, a maior da história dos EUA.



Nouriel Roubini esteve esta tarde nas Conferências do Estoril e para ele Portugal só tem uma saída: « O país deverá fazer o seu melhor para evitar a reestruturação da dívida [e tem de cumprir o plano proposto pela troika]».



« Será doloroso, mas é necessário e tem de ser feito. E quem estiver no governo não terá outra opção senão tentar fazê-lo. [...] É claro que há incertezas porque não sabemos quem será eleito, se terá um governo de maioria, se haverá resistência social ou política. Não sabemos se esta austeridade e reforma fiscal vai dar resultado. Não há certezas, mas acho que tentar o plano A é a melhor opção e deve-se evitar a reestruturação da dívida».



Para Roubini, o plano da troika para Portugal é melhor do que aquele conseguido pela Grécia, onde se vê agora que as medidas de austeridade do resgate não estão a resultar. No seu entendimento, foram medidas demasiado austeras. «A Grécia adoptou o plano A, mas este infelizmente não funcionou. [...]Mais dinheiro implica perigos morais. A única solução é a reestruturação da dívida, adiando os prazos. Esta solução é viável e executável», considerou.



«Diria que o FMI já aprendeu a lição porque o programa [português] implica a redução do déficie orçamental de uma forma mais moderada e creio que talvez seria até melhor prolongar a redução do déficie até 2014».



Por isso, o grande desafio do futuro a breve prazo é este: «Espera-se que no próximo ano Portugal viva numa recessão. Mas será que Portugal consegue aguentar três anos numa recessão?»



Uma coisa é certa: «A retoma dos países periféricos não irá ocorrer muito brevemente».



Crítico em relação ao Banco Central Europeu, que não pressionou um resgate da Irlanda (foi apenas relativo ao sistema bancário e crítico tambémem relação à subida das taxas de juro demasiado cedo), Nouriel Roubini analisou também o estado da vizinha Espanha, onde «as coisas estão um pouco melhores do que noutros países» por via das poupanças elevadas, mas onde o desemprego a superar os 20 por cento (40 por cento no caso dos jovens) ao que se somam as «perdas no sistema bancário superiores ao que o governo espera» podem levar a um caminho dramático.

«Espanha é demasiado grande para falhar e demasiado grande para ser salva». Roubini considera que a os erros do passado podem pagar-se caro: «Durante a crise imobiliária, o ordenados estavam a subir mais do que a produtividade. Agora vê-se que o rei vai nu e são precisas reformas».



Como chegámos a esta situação



«Esta dívida começou com demasiada dívida privada... Quando a bolha rebentou pensava-se que era apenas um problema de liquidez e não de solvência, como veio a verificar-se». Para o analista, «não vale a pena sacudir a água do capote».



«A recessão podia ter-se tornado numa grande depressão, mas as medidas políticas conseguiram travar isso. O colapso da economia foi travado».



Numa aula de economia à escala mundial, Roubini sublinhou que «desta vez a crise é diferente de todas as outras». O economista considera ser este o principal problema: «Temos uma crise com demasiada dívida pública e privada».

Nouriel Roubini considera que este problema já foi identificado nos países que recorreram a ajuda externa, mas alerta para outros casos menos óbvios em risco de colapso económico: «Os vigilantes já detectaram isso na Grécia, na Irlanda e em Portugal, mas ainda não nos EUA ou Japão, onde a dívida pública já é 100% do PIB. O analista considera que poderá haver uma crise fiscal nos EUA e no Japão. E quando isso acontecer?
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