BCP trava suspeitas de branqueamento de capitais do ex-vice angolano - TVI

BCP trava suspeitas de branqueamento de capitais do ex-vice angolano

TVI teve acesso ao documento que mostra que banco não participou às autoridades suspeitas denunciadas por Orlando Figueira, quando o antigo procurador estava no departamento de compliance do BCP

Uma auditoria feita pelo Banco Millennium BCP, que a TVI teve acesso, prova que terá sido o próprio banco a travar suspeitas de branqueamento de capitais, denunciadas pelo antigo magistrado, quando esteve a trabalhar no Compliance, o departamento que controla e analisa movimentações financeiras duvidosas. Suspeitas que punham em causa transferências de dinheiros por parte de Manuel Vicente, precisamente o homem que segundo a acusação na Operação Fizz, teria corrompido Orlando Figueira.

Segundo a investigação da TVI, o processo terá sido parado e acabou por não ser comunicado às autoridades, um mês depois de Orlando Figueira ter sido afastado do Departamento de branqueamento de capitais  do Millennium BCP.

Orlando Figueira quis denunciar às autoridades Manuel Vicente, o ex vice presidente de Angola, precisamente o homem que segundo a acusação, teria corrompido o procurador.

"Participar, esclarecer a proveniência dos fundos"

Neste caso, as transferências suspeitas terão ocorrido entre agosto e dezembro de 2013.

Em causa, um total de 784 mil euros, que envolviam ainda Marco Martins, enteado do número dois de José Eduardo dos Santos com 15 transferências que geraram alertas, e ainda um dos arguidos da operação Fizz- Armindo Pires, o homem de confiança de Manuel Vicente

Na auditoria pode ler-se, escrito pela mão do antigo magistrado, "participar, esclarecer a proveniência dos fundos"   

Estes movimentos não se enquadram no perfil do cliente que está associado a empresas que atuam na área do imobiliário... e por isso propõe-se participação dos movimentos analisados às autoridades"

Outros suspeitos

No role dos suspeitos que o Procurador queria denunciar, estavam ainda altas figuras do Estado angolano, como o ministro Pitra Neto, o homem que José Eduardo dos Santos, queria como seu sucessor ou ainda Catarino Avelino Santos, sobrinho do antigo Presidente de Angola.

Nas notas manuscritas a que a TVI teve acesso, o Procurador refere-se a este homem como familiar de José Eduardo dos Santos

Orlando Figueira pede mesmo para serem participados às autoridades nove depósitos suspeitos

Vários comités do banco travaram denúncias

O assunto era recorrente nos vários comités do banco. Orlando Figueira estava presente, queria denunciar, mas os processos  ficavam pendentes de comité em comité.

Vejamos alguns exemplos sobre o que aconteceu com  as denúncias sobre os protagonistas da operação Fizz, nomeadamente Manuel Vicente e Armindo Pires: no terceiro comité, datado de fevereiro de 2014, o assunto está pendente. No quarto, em março, mantém-se; no quinto, também , e por aí fora.

Para se ter uma ideia, das 28 reuniões realizadas, Orlando Figueira esteve presente em 18 onde foram analisados  205 processos. 

  • 130 foram reportados às autoridades; 
  • 64 não foram participados. 
  • os restantes 11 ficaram em situação pendente, entre os quais figuravam os  polémicos dossiês

A coincidência temporal e o envolvimento de Carlos Silva

A verdade é que o assunto nunca chegou a ser comunicado às autoridades, e estranhamente, essa decisão só foi tomada depois da saída de Orlando Figueira do Complaince Office

Na auditoria do Millennium, fica a saber-se que o comité do banco terá decidido não participar às autoridades, as suspeitas sobre Manuel Vicente e Armindo Pires, uma decisão tomada um mês depois de Orlando Figueira ter sido afastado daquele departamento.

Tendo em conta os documentos apresentados e as justificações obtidas, foi decidido não participar às autoridades. Esta decisão foi tomada a 31 de Março de de 2014, já depois de Orlando Figueira ter saído"

O mesmo destino teve outro dos processos que envolvia a movimentação de contas da empresa Rosecity, cujo beneficiário era o arguído Armindo Pires. A decisão de não participar às autoridades foi tomada três meses depois da saída do Procurador, a 22 de Outubro de 2014, em causa estavam quase 5 milhões de euros.

Tudo isto coincide com a saída no mínimo estranha de Orlando Figueira do departamento de Compliance. No Millennium Bcp corriam rumores que o antigo magistrado poderia estar a passar informação para fora. uma justificação pouco convincente já que a solução encontrada, segundo os administradores do banco, foi passarem-no para o Activo bank a ganhar precisamente o mesmo: 3.500 euros por mês para desempenhar funções de assessoria jurídica no conselho de administração de um banco que pertence ao mesmo grupo do Millennium Bcp, cujo vice presidente é o luso-angolano Carlos Silva

Orlando Figueira garante que foi ele que o levou a sair da magistratura, que o convidou a ir trabalhar para Angola e que lhe terá pago os 763 mil euros que o Ministério Público atribui a luvas por corrupção. 

O homem que não chegou a ser constituído arguido, mas que tem sido o mais falado no julgamento. O homem que afinal parece estar no centro de tudo e que segundo o antigo magistrado, deveria estar no lugar de Manuel Vicente.

BCP não comenta

A TVI tentou obter uma reação do Millenium BCP que disse não comentar um processo judicial em curso nem revelar informação sobre eventuais clientes do banco, por razões de sigilo.

O BCP sublinha ainda o facto de não ser visado neste processo.

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