Papéis do Panamá: como o Google virou Vilarinho contra a Mossack Fonseca - TVI

Papéis do Panamá: como o Google virou Vilarinho contra a Mossack Fonseca

  • Redação
  • Micael Pereira (Expresso) e Rui Araújo (TVI) do ICIJ (Consórcio Internacional dos Jornalistas de Investigação), com Pedro Candeias (Expresso)
  • 14 abr 2016, 18:00

Pesquisas na Internet levantaram dúvidas sobre Manuel Vilarinho. Correio eletrónico mostra conversa para esclarecimentos. “Há muito tempo (mais de 66 anos) que os meus bens são todos BRANCOS e não NEGROS”, diz Vilarinho

Podem tirar-se cinco conclusões dos documentos que constam nos Papéis do Panamá, que o Expresso e a TVI obtiveram no âmbito do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), com o nome de Manuel Vilarinho.

A primeira

O ex-presidente do Benfica quis, como o próprio assumiu ao ICIJ no passado sábado, abrir uma offshore através da Mossack Fonseca, usando uma empresa fachada do estado do Nevada, nos Estados Unidos, (a Gairns), o que facilitava a coisa. Vilarinho procurava evitar a penhora de bens e proteger o património após um “problema grave” que teve com o BES. A offshore chamava-se Soyland LLC.


A segunda

Vilarinho não estava sozinho, e nas assinaturas para a formação da dita empresa estavam outras cinco pessoas e havia um advogado português radicado na Suíça que fazia a ponte com a Mossack Fonseca.

A terceira

A Mossack Fonseca fez buscas pelo nome “Manuel Vilarinho” no motor de busca do FBI, da Interpol, e no Departamento de Justiça norte-americano, à procura de algo mais obscuro na vida do antigo presidente encarnado. Os funcionários da Mossack Fonseca avisaram Vilarinho do que estavam a fazer, que aquilo fazia parte de uma política “know your client”, “conhece o teu cliente”. Os resultados deram em nada. 

A quarta

Não há ferramenta como o Google, e foi com esta que o escritório panamiano chegou a duas notícias: o do envolvimento de Vilarinho no caso “Monte Branco” e de uma alegada agressão do empresário a uma stripper brasileira, em 2009. A Mossack Fonseca pediu uma e outra vez e em várias línguas, por e-mail, a Vilarinho para que este se justificasse face à tal política “know your client”. A troca de correspondência eletrónica, que o Expresso leu, é feita em inglês, francês e castelhano, e vai de lá para cá e de cá para lá, com a Suíça pelo meio. Vilarinho demora algum tempo a responder e é a resposta dele que nos leva à conclusão seguinte.
 
A quinta

Manuel Vilarinho não gostou que pusessem em causa aquilo que ele diz ser o seu bom nome e quando, por fim, responde à Mossack Fonseca, fá-lo nos seguintes termos, e em francês (a tradução é nossa):

“1 - Confirmo os detalhes da minha sociedade chamada SOYLAND LCC;
2 - A minha situação fiscal já foi regularizada antes da novela ‘Monte Branco’, porque, antes disso, tinha feito a Regularização Fiscal (RERT);
3 - Há muito tempo (mais de 66 anos) que os meus bens são todos BRANCOS e não NEGROS;
4 - Quanto ao assunto da brasileira fui julgado e absolvido;
5 - Depois de tudo isto o que escrevi antes, agora já não tenho necessidade de ter uma sociedade do tipo SOYLAND. Por isso, aproveito a ocasião de vos pedir a resolução da SOYLAND LCC. Cumprimentos.”


A troca de informações entre as partes a que o Consórcio Internacional de Jornalistas teve acesso termina com a Mossack Fonseca a pedir que o desejo de Vilarinho fosse cumprido. 

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