Krugman: Eleitores "odeiam austeridade, mas adoram o euro" - TVI

Krugman: Eleitores "odeiam austeridade, mas adoram o euro"

Paul Krugman

Nobel da Economia criticou a forma como o euro foi criado, mas admitiu que deixar a moeda única pode não ser a melhor opção.

O Nobel da Economia Paul Krugman defendeu esta segunda-feira que regressar às moedas nacionais seria “muito complicado”, não pela desvalorização dos depósitos, mas também politicamente, porque, apesar de “odiarem a austeridade”, os eleitores “adoram o euro”.

Numa conferência de homenagem ao economista José Silva Lopes, que morreu em abril, organizada pelo Banco de Portugal e que decorre em Lisboa, Paul Krugman criticou a forma como o euro foi criado, mas admitiu que deixar a moeda única pode não ser a melhor opção.

"Voltar para as moedas nacionais também não era possível. Ou melhor, era. Mas era muito complicado. Suponham que tínhamos decidido que vários países deviam sair do euro, isso é muito mais difícil do que não entrar”, disse o professor norte-americano.

Questionando que impactos teria a saída do euro nos bancos e nos depósitos, o Nobel da Economia admitiu que deixar a moeda única seria “um pesadelo, talvez um pesadelo temporário” e que “não seria impossível, mas muito difícil”.

Além disso, o Nobel da Economia 2008 defendeu que a saída do euro “está politicamente fora da discussão”, porque a maioria dos eleitores são favoráveis à moeda única.

“O público odeia o que aconteceu, a austeridade e o desemprego severo, mas adoram o euro. As pessoas não querem ver a sua moeda depreciada”, afirmou.

O economista, que é muito crítico da criação da união monetária europeia, sublinhou o seu ceticismo face ao euro, mas admitiu que “a dificuldade acabou por ser maior do que mesmo os mais céticos tinham pensado”.

“Ninguém antecipou o que ia acontecer na Europa do Sul. Ninguém viu que íamos ter ‘rios de dinheiro’ em algumas economias europeias que de repente iam parar, ninguém pensou nos problemas da banca sem um sistema comum de garantias bancárias”, enumerou o professor da universidade norte-americana de Princeton.

“Se os arquitetos [do euro] soubessem que ia ser assim, em 1992, provavelmente não o teriam feito”, afirmou o Nobel, acrescentando que o melhor a fazer seria voltar atrás no tempo e “não tomar essa decisão”.


Zona euro precisa de uma "verdadeira união bancária"


O economista Paul Krugman afirmou ainda que a zona euro precisa de “uma verdadeira união bancária” europeia, considerando que pensar que “a responsabilidade de apoiar os bancos em tempos difíceis é nacional é basicamente uma ideia maluca”.

Para o Nobel da Economia de 2008, “a ideia de que a responsabilidade de apoiar os bancos em tempos difíceis deve ser [uma responsabilidade] de nível nacional é basicamente maluca e é impor um risco constante”.

O economista entende que “é errado pensar nestas crises bancárias puramente como responsabilidade dos países onde elas ocorrem” e deu o exemplo da crise de 2008 nos Estados Unidos da América.

“Foi muito regional, não foi um problema nacional: 80% das perdas foram num só Estado, no Estado do Texas. Mas o Texas não teve de pagar por isso, o orçamento nacional é que pagou”, recordou Krugman.

O professor da Universidade de Princeton deu um exemplo de como funcionaria uma “verdadeira união bancária” na zona euro: “Imaginem Portugal a enfrentar a ‘troika’ e a pedir 25% do PIB [Produto Interno Bruto] como presente. É isso que deve acontecer se tiverem uma verdadeira união bancária”.

Krugman considera que isto “tem de acontecer” mas admite que “vai levar alguns anos e [que] não vai ser retrospetivo”, sublinhando que a Europa tem de ter em mente que “da próxima vez podem ser os países do Norte” a precisar de ajuda europeia.
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