O presidente do Fórum para a Competitividade, Pedro Ferraz da Costa, não tem dúvidas de que caso se venha a aumentar o salário mínimo nacional (SMN), será mais difícil reduzir o desemprego.
«É indiscutível, mesmo que o tema não seja agradável, que se aumentarmos o SMN vamos criar mais problemas para recuperar a taxa de desemprego», assegura o empresário em entrevista à agência Lusa.
O antigo presidente da então Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) lembra que quando ocupou essas funções sempre votou contra a existência de um salário mínimo.
«As remunerações deviam ser fixadas em negociações entre as empresas e os sindicatos ao nível de diferentes setores», defende, admitindo que em determinados setores a remuneração mínima poderia ser o dobro do que é o SMN, desde que obtido por via negocial.
Ferraz da Costa considera que a fixação nacional de um salário mínimo tem vários inconvenientes: «dá às pessoas a ideia de que é uma benesse dada pelo Estado e dá às pessoas a ideia de que os salários podem ser fixados independentemente de considerações económicas para as empresas».
O presidente do Fórum para a Competitividade lembra ainda que por via da rigidez da legislação laboral criou-se uma situação em Portugal em que há vários serviços que não são feitos pelas próprias empresas e são subcontratados, como as limpezas, segurança, centrais telefónicas ou informática.
Ora, prossegue o empresário, nestes serviços, a empresa que contrata a prestação de serviços já paga mais do que o salário mínimo à empresa que presta o serviço, mas como estes contratos estão muitas vezes indexados a este mesmo salário, se vier a aumentar, aquilo que é debitado pela empresa prestadora de serviços também aumenta.
«Estamos praticamente numa situação de deflação, os preços estão a baixar, se houver qualquer subida de qualquer fator isso ainda vai reduzir mais a rentabilidade das empresas que é em Portugal excessivamente baixa», adverte, lembrando que as empresas já têm «problemas de acesso ao crédito porque a maior parte tem contas de exploração e balanços muito pobres».
O presidente do Fórum para a Competitividade lembra que as alterações relativas à legislação laboral resultantes da intervenção da troika só se aplicam para os empregados do futuro e que para os restantes as regras são as antigas.
«E o que acontece é que tendo as pessoas direito a um subsídio de desemprego, para que as empresas e o trabalhador contribuíram, porquê as indemnizações», interroga-se, lembrando que «na maior parte dos outros países europeus ou há uma coisa ou há a outra, não há as duas simultaneamente».
O resultado, sublinha Ferraz da Costa é que «as pessoas acabam por ser despedidas mais tarde, mas normalmente levam a empresa atrás. Vai tudo. Não há nenhum país da OCDE onde o aumento do desemprego esteja tão associado à destruição total das empresas, com uma perda de valor enorme», lamenta.
Ferraz da Costa diz, assim, que devíamos ter «olhado seriamente para o problema que é ter metade da população desempregada, a recibos verdes ou contratados a prazo, e termos do outro lado os que já estavam empregados com contratos completamente blindados. Há aqui uma diferença entre uma metade e a outra que é chocante».
Para o empresário «era muito importante que caminhássemos para um contrato único, era a proposta da troika, onde substituíssemos a excessiva precariedade dos contratos a prazo por qualquer coisa que estivesse a meio caminho face à excessiva segurança que os outros têm».
Tal é uma transição que, segundo o empresário, «se poderia fazer em três, quatro, cinco anos», mas que «não está sequer iniciada nem sequer discutida nem faz parte da agenda nem dos sindicatos nem das confederações patronais».
Aumentar salário mínimo vai dificultar redução do desemprego
- tvi24
- DC
- 30 abr 2014, 07:59
«É indiscutível, mesmo que o tema não seja agradável», diz o presidente do Fórum para a Competitividade
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