Banco de Portugal aprofunda pessimismo e volta a cortar previsões - TVI

Banco de Portugal aprofunda pessimismo e volta a cortar previsões

Em março, já tinha revisto em baixa o crescimento deste ano para 1,5%. Quase todos os indicadores sofrem um revés negativo. Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa desvalorizam

Já estava bastante mais pessimista do que o Governo em março e agora o sentimento é ainda pior: o Banco de Portugal voltou a cortar as previsões de crescimento para a economia portuguesa em duas décimas, ficando cada vez mais longe das estimativas do Governo, que ainda ontem foram reafirmadas pelo ministro das Finanças. O supervisor da banca não acredita e pede, por isso, mais medidas para cumprir o défice.

A instituição liderada por Carlos Costa reduziu a projeção de crescimento do PIB para 2016 de 1,5% para 1,3% e faz o mesmo para os dois anos seguintes, nesses casos com uma descida de uma décima cada: 1,6% e 1,5%, respetivamente. 

Na reação aos números o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, desvalorizou. Para o Presidente "não vale a pena dramatizar". Segundo Marcelo "já se percebeu que as várias instituições não sabem, exatamente, onde vai parar a economia internacional e, por tanto, a portuguesa", por isso, "vamos esperar para ver. O que for preciso ir reajustando, é reajustável", concluiu.

Estimativas são estimativas e não resultados finais, mas mesmo assim as novas projeções do Banco de Portugal contrastam com o aumento de 1,8% do PIB em 2016 que Mário Centeno e António Costa dizem ser possível alcançar. São cinco décimas de diferença, meio por cento, uma distância cada vez mais marcada. Ou seja, para o supervisor da banca nem daqui a dois anos o país conseguirá aumentar o ritmo de produção de riqueza que a equipa de António Costa antecipa já para este ano.

Mas António Costa reage com otimismo. "Há pessoas que gostam muito de previsões. Eu gosto mais de fatos. Há muita gente com vontade de investir e, para isso, é muito importante que haja estabilidade do sistema financeiro. Se fizermos tudo certo, mais o país vai recuperar e crescer".

Ministro confia no acelerador

Ainda antes de ser divulgada esta nova antecipação feita pelo Banco de Portugal, no seu boletim económico, o ministro das Finanças disse ontem, a partir de Nova Iorque, que não vai rever as suas previsões e que está confiante que a economia vai pôr pé no acelerador ao longo do ano.

Isto apesar de, na semana passada, o próprio Mário Centeno ter alertado para os riscos dessas mesmas estimativas, remetendo não para dificuldades do ponto de vista interno, mas sim para o impacto da incerteza da economia mundial e, nomeadamente, da “gravíssima crise” dos mercados mais importantes para as exportações portuguesas.

Ora, já se sabe que aquilo que Portugal vende lá fora é precisamente considerado o motor da economia. O Banco de Portugal prevê agora que as exportações voltem a abrandar bastante o ritmo, dos 2,2% admitidos em março para 1,6% estimados agora. As importações, essas, vão aumentar mais do que se pensava.

Todos os indicadores

Os próprios 1,8% de crescimento projetados pelo Executivo foram já uma revisão em baixa decorrente das negociações com Bruxelas a propósito do Orçamento do Estado, já que inicialmente esperava um crescimento mais robusto, de 2,1%.

A diferença em relação às contas do supervisor da banca são, por isso, cada vez maiores. Para além do PIB, a maioria dos indicadores sofreu uma revisão em baixa, à exceção do consumo privado, que em vez de afinal crescer 1,8%, vai ter um desempenho ainda melhor este ano, de 2,1%. No entanto, melhora menos do que o previsto e, 2017 (1,7% face a 1,9%) e manter-se-á nos 1,3% em 2018.

Projeções 2016 2017 2018
PIB 1,5% (vs. 1,7%) 1,6% (vs. 1,7%)  1,5% (vs. 1,6%)
Consumo privado 2,1% (vs. 1,8%) 1,7% 1,3%
Consumo público 1,1% ( = ) 0,4% ( = ) 0,6% ( = )
Investimento 0,1% (vs. 0,7%) 4,3% (vs. 4,5%) 4,6% (vs. 4,5%)
Procura interna 1,8% (vs. 1,4%) 1,7% (vs. 2%) 1,7% ( = )
Exportações 1,6% (vs. 2,2%) 4,7% (vs. 5,1%) 4,7% (vs. 4,8%)
Importações 2,8% (vs. 2,1%) 5,6% (vs. 5,1%) 4,8% (vs. 4,9%)

 

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