Banco de Portugal mais otimista sobre crescimento e emprego - TVI

Banco de Portugal mais otimista sobre crescimento e emprego

Carlos Costa e Marcelo Rebelo de Sousa na conferência “O Presente e o Futuro do Setor Bancário” [Foto: Tiago Petinga/Lusa]

Previsão agora é que economia cresça 1,8% este ano, contra a última projeção, de dezembro, que apontava para uma melhoria de 1,4% do PIB durante 2017. Exportações, sobretudo o turismo, e mais investimento dão o empurrão necessário

O Banco de Portugal (BdP) reviu em alta as previsões para a economia portuguesa. Se em dezembro estimava que o Produto Interno Bruto (PIB) ia crescer 1,4%, no boletim económico de primavera, que acaba de divulgar, aponta para um crescimento de 1,8%. Já em 2018 e 2019 o crescimento vai continuar, mas a um ritmo mais baixo que este ano.

Mesmo assim, para 2018 e 2019, o banco central reviu em alta as previsões: a economia deverá crescer 1,7% no próximo ano (vs. 1,5%) e 1,6% no seguinte (contra a última previsão de 1,5%).

Uma revisão que a instituição lidera por Carlos Costa sustenta com "num crescimento forte das exportações – refletindo um enquadramento económico e financeiro externo favorável e a manutenção de ganhos de quota de mercado – e numa recomposição da procura interna no sentido de um maior dinamismo da formação bruta de capital fixo (FBCF) [vulgo investimento]."

Apesar do "otimismo" a instituição deixa um  alerta: "ainda assim, o ritmo de crescimento económico projetado é inferior ao necessário para o reinício do processo de convergência real face à área do euro, o que decorre da persistência de importantes constrangimentos estruturais ao crescimento." Constrangimentos que levam a que "em 2019 o produto real deverá situar-se num nível próximo do registado em 2008, o que ilustra bem a natureza sem precedentes deste último ciclo económico."

Hoje, em entrevista à Bloomberg, o ministro das Finanças ainda hoje apontou para uma criação de riqueza de 2% este ano, estando, por isso, ainda mais otimista do que a instituição liderada por Carlos Costa. Seja como for, e segundo os académicos, para a economia ser sustentável deverá crescer 2% ou mais durante vários anos.

Para estas projeções do Banco há várias contribuições. As exportações deverão crescer também bem mais do que a instituição previa: 6% em vez de 4,8%. E as importações também deverão aumentar mais do que os bens vendidos ao estrangeiro (7,3%) e mais do que o Banco de Portugal apontava no último boletim (4,8%). 

"O dinamismo das exportações verificar-se-á tanto na componente de bens como na de serviços. Destaca-se o desempenho das exportações de turismo, que será favorecido pela ocorrência em território português de importantes eventos à escala internacional", refere o documento. No ano que passou o Web Summit trouxe a muitos turistas a Portugal, concretamente a Lisboa. E a visita do Papa, a Fátima, não será desprezível neste contributo para o crescimento da economia.

Acrescentando que "as exportações de bens em 2017 também beneficiam da dissipação de alguns efeitos temporários negativos, associados à redução da produção em unidades industriais dos setores energético e automóvel em 2016".  Adicionalmente, no caso do setor automóvel "foi incorporada informação referente a um aumento previsto da capacidade produtiva de uma unidade industrial, que impulsionará o crescimento das respetivas exportações em 2017 e 2018".

Salários crescem pouco

No consumo privado, o mesmo cenário de melhoria: de 1,3% a previsão passou para 2,1%. Mesmo assim o BdP diz que "o consumo privado – apesar de uma melhoria no mercado de trabalho e de níveis de confiança elevados – manter-se-á condicionado pelo baixo crescimento dos salários reais e pela necessidade de continuação do processo de redução do nível de endividamento das famílias".

Por seu lado, o investimento revela uma evolução muito animadora face a 2016 (-0,3%) e em relação à anterior projeção do Banco: deverá aumentar 6,8% e não 4,4%. Embora desacelere a trajetória em 2018 e 2019.

"As atuais projeções incorporam também informação relativa a investimentos em grandes infraestruturas que ocorrerão no período 2017- 19. Adicionalmente, o investimento, tanto privado como público, deverá beneficiar da normaliza- ção da atribuição de financiamento através de fundos europeus, que se antecipa que ocorra após a fase inicial de transição para o atual programa Portugal 2020", diz a instituição.

Desemprego a cair mas crescimento contido do emprego

A taxa de desemprego no final do ano estará, à luz das projeções, ligeiramente abaixo ao que a instituição pensava: em 9,9%, em vez de 10,1%. Uma taxa de desemprego abaixo dos dois dígitos, ainda que por uma ligeira margem, a refletir a melhoria esperada no mercado de trabalho.

"Para o mercado de trabalho antecipa-se um aumento do emprego de 1,6% em 2017 e cerca de 1% em 2018 e 2019", diz o Banco acrescentando que se verifica, contudo, que o ritmo de crescimento do emprego deverá regressar ao seu comportamento histórico, em que os ganhos do lado do emprego são mais contidos: "No final do horizonte de projeção, o nível médio anual do emprego situar-se-á 8,5% acima do mínimo registado em 2013, embora permaneça 5% abaixo do nível observado em 2008".

"Globalmente, as atuais projeções apontam para o reforço da tendência ascendente da internacionalização da economia portuguesa, com o aumento do grau de abertura – medido pelo peso das exportações e importações no PIB, em termos nominais – de 72% em 2008 para 79%o em 2016 e 91% em 2019", conclui o banco central ao dar nota de uma mudança estrutural na economia portuguesa.

A  evolução é mais marcada nas exportações, cujo peso no PIB assa de 31% em 2008 para 40% em 2016 e 46% em 2019.

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