TAP: potencial comprador «só pode ser chinês» - TVI

TAP: potencial comprador «só pode ser chinês»

TAP [Foto: Lusa]

É a convicção de João Ribeiro da Fonseca, ex-presidente da Portugália, que não acredita que esta nova tentativa de venda da transportadora aérea se concretize

O ex-presidente da Portugália, João Ribeiro da Fonseca, não acredita que a nova tentativa de privatizar a TAP se concretize e defende que apenas a fusão com uma companhia aérea chinesa serve os interesses da empresa portuguesa.

«[Um potencial comprador] só pode ser chinês, porque a China tem capital, tem estratégia e tem mercado. A China precisa de vir para o Atlântico, precisa de uma plataforma logística que lhe faça a distribuição para o Atlântico», afirmou em entrevista à Lusa Ribeiro da Fonseca, que liderou os destinos da Portugália durante 16 anos e continua a presidir à assembleia da Associação Portuguesa de Transporte e Trabalho Aéreo (APPTA).

Defensor da privatização da TAP, Ribeiro da Fonseca recusou-se a fazer «avaliações individuais» aos potenciais interessados veiculados pela imprensa, estando convicto de que ainda não será nesta legislatura que a companhia vai deixar de ser pública.

«Não acredito que a TAP vai ser vendida. E não vislumbro em nenhum candidato o parceiro ideal» para a companhia portuguesa, declarou.


Para o gestor, a TAP precisa de capital, mercado e estratégia, considerando que apenas «uma aliança» com uma companhia aérea chinesa pode dar isso à transportadora nacional: «A China precisa de nós e nós precisamos de um chinês».

«Depois vêm dizer que os chineses vêm tomar conta disto e o que é que isso interessa? Nós não precisamos de dinheiro? Eles têm coisas ótimas para nós e nós muitas coisas boas para eles», lançou.


Na entrevista à Lusa, Ribeiro da Fonseca mapeou o panorama do setor da aviação, considerando que «não há parceiros disponíveis na Europa», porque «já todos acasalaram», dando origem a três grandes grupos.

«Depois temos os EUA, mas estão interessados na Ásia e na América do Sul, que, por seu lado, não têm dinheiro nem força em termos de transporte aéreo. A América do Sul está num processo de recuperação e a sua grande prioridade é a América do Norte», prosseguiu.

Fica a faltar o Médio Oriente, que «tem muito capital e uma estratégia, mas não tem mercado, o que comporta um grande risco, porque compram e vendem no dia seguinte», disse.

Na perspetiva do gestor, «resta a Ásia e, mais concretamente, a China».

Nesse sentido, adiantou, o Governo deveria «fazer um roadshow bem preparado, uma apresentação como deve ser, porque é preciso mostrar a importância que Portugal tem estrategicamente para China, não só pela geografia, mas também pelas infraestruturas», nomeando o porto de águas profundas de Sines e o aeroporto de Lisboa.

Quando em 1991 assumiu a presidência da Portugália, Ribeiro da Fonseca foi informado - pelo então ministro dos Transportes Ferreira do Amaral – de que a TAP ia ser privatizada.

«Estive lá 16 anos. Conheci pelo menos oito ministros dos Transportes. Passados 23 anos, a TAP continua à venda», disse o deputado pelo CDS na assembleia municipal de Cascais, realçando que o adiamento da venda pode ser fatal para a companhia liderada por Fernando Pinto.


O responsável deixa uma chamada de atenção aos «gurus que dizem que a TAP é como a caravela dos descobrimentos e que é fundamental para o turismo»: «Se a TAP morrer amanhã, no dia seguinte aparecem outras [companhias] para a substituir».

«Temos que vender, mas não pode ser a qualquer um. E, se não houver nenhum [comprador], não vendemos. É preciso responsabilizar toda a gente e também os senhores dos sindicatos. Porque se não acontecer a companhia morre. Não vejo outra saída», concluiu.


Em novembro último, o Governo decidiu relançar o processo de privatização da TAP, suspenso em dezembro de 2012, optando pela venda direta em duas fases – a primeira de até 66% do capital para avançar de imediato, devendo estar concluída ainda no primeiro semestre.

A capitalização é o primeiro de nove critérios para a escolha do futuro dono da TAP, seguido pelo valor da oferta e o projeto estratégico, segundo o caderno de encargos, que não fixa prazos para a manutenção do hub [centro de operações] em Portugal.
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