O presidente do Grupo Águas de Portugal manifestou-se hoje preocupado com a intenção do Governo de reverter a reestruturação das águas e defendeu que seja realizado "um debate profundo" antes que se tome uma decisão final.
"O debate para reorganizar demorou três anos e meio e portanto a reversão não pode ser feita agora numa lógica de 'yes man' [de concordar com tudo]. Tem de existir um debate prolongado sobre as vantagens e desvantagens"
Afonso Lobato Faria falava numa mesa redonda realizada esta tarde no âmbito do 13.º Congresso da Água, em Lisboa.
Em causa está a reestruturação do setor das águas, levada a cabo pelo Governo PSD/CDS-PP, que agregou sistemas de abastecimento de água em alta, fundindo 19 sistemas multimunicipais em apenas cinco empresas (Águas do Norte, Águas do Centro Litoral, Águas de Lisboa e Vale do Tejo e as já existentes Águas do Alentejo e Águas do Algarve).
No entanto, o atual Governo (PS) já anunciou que irá avançar com a reversão desta reestruturação, referindo que os municípios terão liberdade para escolher se querem continuar com este modelo ou mudar.
"Existem sinais muito preocupantes. Entendo que não devemos pôr em causa o interesse nacional. Vamos aguardar com bastante expetativa para saber o que é que o Governo pretende fazer", atestou, citado pela Lusa.
Durante a sua intervenção, à semelhança do que já tinha feito no parlamento, o presidente da AdP sublinhou que a reestruturação do setor das águas "foi um sucesso", uma vez que " permitiu reduzir o défice tarifário e harmonizar as tarifas, "diminuindo as assimetrias" entre os municípios do litoral e do interior".
"Tem sido um sucesso. Oitenta por cento dos municípios portugueses viram a sua tarifa reduzida. Existe hoje mais equidade entre o litoral e o interior"
O presidente da AdP afirmou ainda que o grupo "tem hoje uma tesouraria saudável", apresentando "mais autonomia do que no passado". "É unânime que o setor em alta é um caso de sucesso e motivo de elogio", atestou.
Na mesa redonda, cuja temática foram os modelos de gestão dos serviços de água, interveio também o presidente da Entidade Reguladora de Águas e Resíduos (ERSAR), Orlando Borges, que explicou a importância da criação de sistemas intermunicipais para a exploração e captação de águas em baixa, dando conta de que estão em curso vários projetos-piloto.
Nesse sentido, o presidente da ERSAR afirmou que o futuro passa por uma escala intermunicipal e que a "partilha de recursos e de ferramentas de gestão irá permitir uma maior eficiência e também uma redução das tarifas".