Covid-19: um espetáculo cancelado equivale a 18 artistas sem rendimento - TVI

Covid-19: um espetáculo cancelado equivale a 18 artistas sem rendimento

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  • Publicado por ALM
  • 11 mai 2020, 09:34
Rodrigo Leão no Coliseu de Lisboa (Foto: Nuno Miguel Silva)

98% dos trabalhadores de espetáculos viram trabalhos cancelados e, 33%, por mais de 30 dias

Por cada espetáculo cancelado em Portugal, até 31 de março, devido à pandemia da covid-19, 18 artistas ficaram sem rendimento, de acordo com os resultados de um inquérito promovido pela Fundação GDA (Gestão dos Direitos dos Artistas).

O inquérito lançado pela GDA indica que por cada espetáculo cancelado ficaram sem rendimento, em média, 18 artistas, 1,3 profissionais de produção e 2,5 técnicos”, refere aquela estrutura num comunicado enviado à agência Lusa.

A GDA criou o inquérito em março - depois de começarem a ser adiados ou cancelados espetáculos na sequência das medidas de contingência definidas pelas autoridades para tentar travar a propagação da Covid-19 - com o "objetivo de recolher dados que contribuam para avaliar a situação real vivida no setor das artes do espetáculo”.

Ao inquérito responderam, até 31 de março, 992 profissionais, que deram conta do cancelamento de 4.287 espetáculos.

A maioria dos espetáculos cancelados é de Música (2.964), seguindo-se os de Teatro (1.048) e os de Dança (100). Na categoria “espetáculos de outra natureza” foram reportados 175 cancelamentos.

Dos quase mil profissionais que responderam ao inquérito, a maioria são músicos (67%), seguindo-se depois atores (23%) e bailarinos (4%). Os restantes (6%) “provêm de outras profissões do espetáculo”.

A GDA destaca que os resultados do inquérito “acabam por refletir muito as caraterísticas da relevância da amostra”, uma vez que o mesmo foi promovido por uma cooperativa constituída por atores, bailarinos e músicos.

Considera a Fundação GDA que, “somados aos dados da Associação dos Músicos de Portugal (AMP) e do Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (CENA-STE), os resultados [deste inquérito] poderão contribuir para a construção de um retrato da situação que seja fiel à realidade dramática que está a ser vivida por muitos artistas em Portugal”.

Segundo a GDA, “a informação recolhida já foi discutida com a ministra da Cultura e com o Presidente da República, assim como com partidos com assento parlamentar e com o presidente da Associação Nacional de Municípios”.

Os resultados do inquérito da GDA complementam outros cujos resultados foram divulgados anteriormente por outras estruturas.

Segundo um inquérito promovido pelo CENA-STE, e cujos resultados foram anunciados no início de abril, 98% dos trabalhadores de espetáculos viram trabalhos cancelados e, 33%, por mais de 30 dias.

Em termos financeiros, para as 1.300 pessoas que responderam ao questionário, as perdas por trabalhos cancelados representam ainda dois milhões de euros, apenas para o período de março a maio deste ano, de acordo com o CENA-STE (o que indica a perda de um valor médio de receita, por trabalhador, de cerca de 1.500 euros).

O inquérito, realizado já na segunda quinzena de março, no contexto de confinamento, em resposta à pandemia de Covid-19, indica ainda que 85% dos trabalhadores questionados são independentes e não têm qualquer proteção laboral.

De acordo com um inquérito realizado pelo Movimento SOS Arte PT, a 300 pessoas entre 03 e 17 de abril, 65% dos profissionais das artes - três em cada quatro - registaram fortes quebras de rendimento devido à pandemia da covid-19.

Em março, devido à covid-19, 62% dos inquiridos tiveram o seu trabalho completamente ou quase completamente parado, 65% (dois em cada três) viram ser completamente afetada a sua vida profissional e 75% (três em cada quatro) a sua vida pessoal.

Cerca de metade dos inquiridos (54%) afirmaram que a covid-19 prejudicou completamente os seus rendimentos, enquanto apenas 6,6% disseram não ter os rendimentos afetados pela paralisação na resposta à pandemia.

Ao mesmo tempo, 65% dos inquiridos viram a vida profissional completamente afetada pela covid-19, contra 0,6% dos inquiridos que disseram que a pandemia do novo coronavírus não lhes afetou a vida profissional.

Os espaços culturais começaram a encerrar, e consequentemente a adiar ou cancelar espetáculos, no início de março, qual tal era ainda apenas uma recomendação do Governo.

De acordo com a Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE), desde meados de março e até ao final de abril foram cancelados, suspensos ou adiados cerca de 27 mil espetáculos. A APEFE contabilizou apenas espetáculos com bilhetes pagos.

Entretanto, o Governo aprovou em 30 de abril, em Conselho de Ministros, o "Plano de Desconfinamento", que previa a reabertura de livrarias, bibliotecas e arquivos (que aconteceu no dia 04 de maio), seguindo-se museus, palácios, galerias e monumentos, em 18 de maio, data que coincide com o Dia Internacional dos Museus.

Segundo este plano, cinemas, teatros, auditórios e salas de espetáculos podem abrir em 1 de junho, "com lugares marcados, lotação reduzida e distanciamento físico".

Estas decisões serão “reavaliadas a cada 15 dias”.

Além disso, na semana passada deu entrada no parlamento uma proposta de lei, da autoria do governo, que proíbe a realização de “festivais e espetáculos de natureza análoga” até 30 de setembro, mas com exceções.

Segundo a proposta de lei, que será discutida em plenário na quinta-feira, “até 30 de setembro, os espetáculos podem acontecer em recinto coberto ou ao ar livre, com lugar marcado e no respeito pela lotação especificamente definida pela Direção-Geral da Saúde em função das regras de distanciamento físico que sejam adequadas face à evolução da pandemia da doença Covid-19”.

A proposta é aplicável ao reagendamento ou cancelamento de espetáculos não realizados entre os dias 28 de fevereiro de 2020 e 30 de setembro de 2020.

É ainda feito o alerta de que a proibição da realização de “festivais e espetáculos de natureza análoga” pode ser prolongada para depois de 30 de setembro, “com fundamento em recomendação da Direção-Geral da Saúde”.

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