Por muito que diga [Salgado] que pagou mais, está errado. O Fisco não ficou lesado num cêntimo».
Ele diz que a importância foi uma liberalidade e, ao declará-la aqui em Portugal, (...) eu tive dificuldades em o portal das Finanças aceitar. Depois recebi indicação de como corretamente fazê-lo.
Se ele insiste em dizer que é uma liberalidade, é um problema dele. Terá de lhe perguntar
O ROC contrariou, na sua audição na comissão de inquérito ao BES, a versão de Salgado, de que terá pago, por sua culpa, mais do que devia ao Estado.
O ex-presidente do BES procedeu a três correções fiscais. Uma delas, teve que ver com a polémica prenda de 14 milhões de euros do construtor José Guilherme, classificada como «liberalidade». «Como fiscalista, não concordo», admitiu Macedo Pereira. Mas o sistema é permissivo, nesse sentido, subentende-se.«A carta [de Salgado] diz duas coisas que me espantaram e não quero dar cabo de uma relação pessoal por causa disto. Ele até já me telefonou a dizer que assinava 30 e tal cartas por dia... [As retificações são feitas] só com base em informações que nos dizem: está aqui este rendimento e está aqui o comprovante. Se pagou a mais? Não é verdade»
O ROC remeteu-se a dizer que a Autoridade Tributária sabe como foi declarada a verba. O que era para ser pago, foi. «Não pagou mais». De qualquer modo, quis frisar por mais do que uma vez, Salgado é que tem de responder sobre esta matéria. Como voltará à comissão de inquérito, os deputados poderão questioná-lo sobre isso:
Para além do mais, a matéria está em segredo de Justiça. Também por esse motivo, não se quis alongar. Apenas frisou que a AT «teve sempre conhecimento de tudo». «Quem nunca se engana, geralmente não tem dúvidas. Eu engano-me. Mas a AT nunca me chamou a atenção sobre ter trocado A por B. Fico-me por aqui, com todo o respeito», acrescentou.«O contribuinte Ricardo Salgado é que é responsável pelas suas declarações fiscais».
Questionado, mais à frente, por Mariana Mortágua (BE), sobre a natureza da relação profissional com Ricardo Salgado, respondeu:
«Foram relações de um homem que me auxiliou na vida. Eu próprio também o auxiliei quando ele teve de sair deste país para o Brasil (...) Qual é a liberalidade que tive por isso? Nem uma gravata» (...) «As relações que tenho são de amizade e de dívida para com um homem que me auxiliou»
Mas, frisou, sempre foi «um profissional liberal». Também por isso, e para não quebrar o elo de amizade com o ex-presidente do BES, revelou ainda que não aceitou o convite para integrar a comissão de auditoria do banco, apesar do salário apetecível.