«Nunca dei instruções a ninguém para ocultar passivos do grupo», sublinhou, acrescentando que soube que os problemas nas contas começaram em 2008. No entanto, admitiu que demorou demasiado tempo a denunciar o caso.
«Participámos a situação às autoridades luxemburguesas. Não foi com a celeridade exigida, mas fomos lá a 21 de março [de 2014]. A nossa primeiríssima prioridade era participar ao Banco de Portugal e foi isso que fizemos, a 3 de dezembro [de 2013]».
O banqueiro negou responsabilidades nesta ocultação, destacando que «nem tinha como missão estar a acompanhar as contas do grupo».
Salgado sublinhou várias vezes que Machado da Cruz «assumiu totalmente a responsabilidade dos seus atos».
Questionado pelos deputados da comissão de inquérito sobre a permanência do contabilista no GES, mesmo depois de ter conhecido deste problema, Ricardo Salgado admitiu a «fragilidade da organização da área não financeira» do grupo, admitindo que não tinha «mais ninguém» para efetuar as operações que o contabilista sabia fazer.
«Ninguém se apropriou de um tostão»
Questionado sobre o alegado esquema de compra de obrigações através da Eurofin, o ex-presidente do BES assegurou que o objetivo foi «retirar risco» aos clientes que não estavam protegidos.
«O objetivo foi dar a proteção máxima dos clientes internacionais. A provisão de 700 milhões de euros foi aplicada ao papel comercial vendida no retalho em Portugal. Foi essa operação que foi realizada. Foi com esse objetivo e ninguém se apropriou de um tostão. Nem na administração, nem na família nem nos quadros diretivos».
Ricardo Salgado insistiu que não houve saída de capitais do banco «para terceiros».
A «enorme ofensa diplomática» a Angola
Ricardo Salgado criticou a medida de resolução decidida pelo Banco de Portugal, acusando-a de fazer perder a garantia do presidente angolano sobre os 3,3 mil milhões de exposição do banco ao BES-Angola.
«Colocar a garantia do presidente da República de Angola no banco mau, como produto tóxico, é no mínimo uma enorme ofensa diplomática. A forma da resolução, deixando as ações do banco angolano no banco mau, considerou a garantia dada pelo Governo angolano como um produto tóxico».
O banqueiro relacionou mesmo esta decisão de Carlos Costa com o descalabro nos prejuízos do BES: «O modelo de resolução cria o descalabro final, com a queda da garantia de Angola».
Sobre o BESA, Salgado contou que começou a receber «informações estranhas» sobre a equipa liderada por Álvaro Sobrinho.
«Os clientes queixavam-se que não eram recebidos pela administração. Começámos a assistir à evolução da atividade bancária, com o crescimento do crédito», disse, acrescentando que soube apenas pela imprensa da situação, devido ao «sigilo duríssimo» bancário de Angola.
«Era uma situação pavorosa e que ultrapassa tudo e todos», lamentou.
O banqueiro respondia às perguntas do deputado do PS Pedro Nuno Santos sobre o crédito concedido pelo BES ao BESA, de 3,3 mil milhões de euros.
«A responsabilidade não é só de Álvaro Sobrinho, é do BES, é sua. É de quem tomou a decisão de dar o crédito», disse o socialista.
Salgado respondeu que esse crédito era acompanhado «periodicamente pela área internacional do banco». «Não tínhamos dúvida nenhuma sobre esse crédito. O problema é que a garantia de Angola caiu», afirmou.