CaixaBank rompe negociações sobre BPI com Isabel dos Santos - TVI

CaixaBank rompe negociações sobre BPI com Isabel dos Santos

Negócio tinha sido dado como certo, mas afinal não chegou a bom porto. Prazo para cumprir redução da exposição a Angola ditada pelo BCE está a apertar. Entrou mesmo em contrarrelógio

As negociações arrastaram-se durante bastante tempo e o acordo até foi dado como certo, mas não chegou a bom porto. O CaixaBank anunciou o rompimento das negociações com a Santoro de Isabel dos Santos para ficar com a participação da empresária angolana no BPI.

Deste modo, e tendo em conta que o prazo imposto pelo Banco Central Europeu para resolver o problema da exposição do banco português a Angola é o dia 10 de abril, volta tudo à estaca zero. E pode dizer-se que se entra numa fase contrarrelógio.

É que o problema podia resolver-se se o Caixabank, principal acionista do BPI, com 44,10% do capital social (apesar de só poder exercer 20% dos votos devido à blindagem dos estatutos) ficasse então com a parte da segunda maior acionista (18,58%). A operação em Angola é a jóia da coroa do BPI. Em 2015, mais de 50% do lucro do banco veio de Angola, 135,7 milhões de euros. Mas entre estes dois maiores acionistas acabou por não haver entendimento.

"Com respeito aos factos relevantes publicados entre o passado dia 2 e 16 de março sobre a sua participação no BPI, o CaixaBank informa que não se conseguiram reunir as condições necessárias para alcançar um acordo com a Santoro Finance"

O curto comunicado enviado ao regulador espanhol - e que entretanto foi reencaminhado pelo BPI para a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários portuguesa - adianta ainda que o banco catalão espera "continuar a colaborar e a apoiar o BPI para encontrar uma solução para o excesso de concentração de riscos que advém da sua participação no BFA", o Banco de Fomento de Angola.

Comunicado CaixaBank

 

As ações do BPI fecharam a desvalorizar perto de 0,7% esta quinta-feira, para os 1,2910 euros. As bolsas só voltarão a negociar na próxima terça-feira, por causa das habituais paragens na sexta-feira Santa e na segunda-feira de Páscoa. 

Na semana passada, várias notícias  davam já o negócio como fechado e a CMVM acabou por suspender a negociação dos títulos do BPI. O Caixabank acabou por emitir um comunicado ao regulador espanhol a 16 de março, que o BPI reencaminhou para a CMVM, dizendo que ainda não tinha chegado a acordo, mas que os contactos se mantinham "com o fim de encontrar uma solução que possa ser aceitável para todas as partes interessadas". Fontes próximas das negociações chegaram até a dizer à Reuters, um dia depois, que o esboço do acordo estaria na sua "fase final"

Com toda a especulação à volta do assunto, as ações do BPI alcançaram máximos de nove meses, tendo corrigido ao longo desta semana.

Ontem, foi a vez da Santoro Finance de Isabel dos Santos ter informado a CMVM que ainda não existia "qualquer acordo".

Certo é que o redesenho do setor financeiro português tem a empresária angolana no centro da equação. Segundo o jornal Expresso noticiou no último sábado, o Governo autorizou a entrada de Isabel dos Santos no capital do BCP, num encontro entre António Costa e Isabel dos Santos, isto quando se dava como certo que a empresária tinha aceitado vender a participação no BPI para os espanhóis do CaixaBank. 

O líder da oposição, Pedro Passos Coelho, logo incitou o Governo a um “esclarecimento tão transparente quanto possível” sobre a alegada interferência direta do primeiro-ministro nos negócios da banca.

António Costa não lhe respondeu, mas o Presidente da República acabou por fazê-lo por ele e pôs-se ao lado do atual primeiro-ministro. Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que "é natural que o Governo, como aliás todos os governos da União Europeia nomeadamente da zona euro, estejam permanentemente atentos àquilo que é a garantia da estabilidade do sistema financeiro, nomeadamente quando essa liberdade envolve processos legislativos ou pode envolver".

Ora, como se vê, a 'novela' BPI deu pano para mangas tanto nos mercados como a nível político, em Portugal. Mas agora volta tudo à estaca zero e o prazo dado pelo BCE aperta cada vez mais.  

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