Injeções financeiras nos hospitais são discricionárias e geram desresponsabilização - TVI

Injeções financeiras nos hospitais são discricionárias e geram desresponsabilização

  • atualizada às 16:54
  • 5 dez 2019, 16:12
Hospital

O Conselho das Finanças Públicas divulgou esta quinta-feira um documento de análise à contratualização com as empresas públicas prestadoras de cuidados de saúde

A necessidade cíclica de “injeções financeiras discricionárias” do Ministério das Finanças para os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é estrutural e promove a desresponsabilização da gestão hospitalar, conclui uma análise do Conselho das Finanças Públicas.

O Conselho das Finanças Públicas (CFP) divulgou esta quinta-feira um documento de análise à contratualização com as empresas públicas prestadoras de cuidados de saúde, que no fundo são os Centros Hospitalares, os IPO e as Unidades Locais de Saúde.

Os autores do documento entendem que a gestão do SNS até utiliza ferramentas de última geração, mas é dificultada pela “crescente complexidade do sistema de planeamento”.

“Mais de metade do valor orçamental para o SNS vai para o processo de contratualização” dos hospitais, o que prejudica o planeamento financeiro.

Os contratos não efetuam uma correta correspondência entre os serviços contratados e as necessidades financeiras”, indica a análise.

Como na própria fase de elaboração do orçamento já é esperado um défice, “a necessidade cíclica de injeções financeiras discricionárias” pelo Ministério das Finanças é estrutural e isso leva a uma “descredibilização e desresponsabilização da gestão hospitalar”.

“O financiamento obedece a regras menos corretas, com a celebração de contratos economicamente desequilibrados (prevendo à partida logo prejuízos operacionais), levando a que, a prazo, o Estado proceda a injeções de capital, potenciando riscos negativos para a qualidade e acesso aos cuidados de saúde”, reitera o documento.

A prestação de cuidados de saúde através do SNS é contratualizada entre o Estado e os hospitais através de contratos programa.

O CFP entende que o processo de contratualização atualmente em vigor em Portugal “apresenta fragilidades ao nível da sua governação”, dando como exemplo o facto de até hoje não estar concluída a contratualização referente ao ano de 2019, que está a terminar.

Em tese, esta contratualização devia ter sido concluída ainda antes de o ano de 2018 terminar.

 

Conselho das Finanças Públicas recomenda revisão de contratos com hospitais EPE

O Conselho das Finanças Públicas recomenda uma revisão no processo de contratualização entre o Estado e os hospitais EPE, sob pena de ficar em causa a sustentabilidade financeira das unidades e a normal prestação de cuidados de saúde.

Os hospitais previram, entre 2013 e 2018, prejuízos médios de 234 milhões de euros por ano, sendo que no ano passado os prejuízos previsionais tiveram um agravamento de 183,5% face a 2017.

O documento do Conselho das Finanças Pública sublinha que os gastos dos hospitais têm evoluído a um ritmo superior ao dos rendimentos, com uma consequente “deterioração do desempenho económico previsional”, que se agravou “significativamente no ano de 2018”.

O prejuízo previsto dos hospitais em 2018 foi de 683 milhões de euros, um agravamento de 183,5% face a 1027, com resultados líquidos negativos de 241 milhões.

Embora os dados tenham por base dados previsionais, o Conselho das Finanças Públicas (CFP) sugere que servem para recomendar uma revisão do processo de contratualização entre o Estado e os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para “garantir o equilíbrio económico” dos contratos programa.

Aliás, o documento do CFP defende a necessidade de ser rever o processo de contratualização para garantir o equilíbrio económico dos contratos programa feitos entre o Estado e os hospitais.

Sem aquele equilíbrio, tudo o resto constante, está em causa a sustentabilidade financeira das entidades e a normalidade na prestação de cuidados de saúde”.

O documento sublinha que os contratos programa com os hospitais “não são economicamente equilibrados”, prevendo um crescimento dos gastos maior do que o crescimento dos rendimentos.

Os indicadores económicos dos hospitais têm piorado ao longo dos anos e a forma de cobrir prejuízos acumulados, que são “previstos à partida”, é o Estado realizar aumentos de capital estatutário regulares e significativos.

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