IRS: sabe quanto lhe vão reter a menos de imposto este ano?

A atualização das tabelas de retenção para 2019 continua a não refletir, integralmente, o alargamento dos escalões do IRS de 2018 para a generalidade dos trabalhadores e pensionistas.

No espaço da Economia 24 esteve Anabela Silva, partner da consultora EY, que nos deu algumas explicações sobre o tema.

O que mudou nas tabelas para 2019?

Por um lado, houve um aumento do montante a partir do qual se passa a reter imposto. Em 2018 era a partir de 632 euros, e agora é a partir de 654 euros. Isto está relacionado com o facto de o montante mínimo de existência ter sido atualizado.

No que toca ao tipo de contribuinte. No caso de casados com dois titulares ou solteiros, as tabelas foram atualizadas a partir de cerca de 3.000 euros. Já no que toca a casados com um titular a partir de 2.925 euros.

Mas o que é que isso significa?

Quando fazemos a comparação da retenção na fonte versus coleta líquida final, verificamos que as primeiras continuam a ser superiores ao montante que será apurado no final do ano – quando o contribuinte no ano seguinte fizer a declaração do ano anterior.

Tal como se pode ver nas simulações feitas pela EY, por exemplo, um solteiro que ganha 800 euros bruto por mês, faz uma retenção de 66 euros/ mês e, depois de tudo recebe líquidos cerca de 646 euros. O que se verifica que a retenção anual, para 14 salários, é de 924 euros. Quando se faz as contas, relativamente ao imposto que será devido em 2020, vemos essa coleta é de 779,35 euros. Para a simulação considerámos apenas a dedução das despesas gerais familiares – 250 euros, que na generalidade dos casos é aplicada – o que significa que este contribuinte iria receber 144,65 euros.

Ou seja, ao longo dos meses foi efetuada uma retenção superior que depois será devolvida em 2020.

SOLTEIRO - sem dependentes - 800€/ Mês

SOLTEIRO - sem dependentes - 1.000€/ Mês

SOLTEIRO - sem dependentes - 1.500€/ Mês

CASADO - 2 titulares - 2 dependentes - 1.000€/ Mês

CASADO - 2 titulares - 2 dependentes - 1.500€/ Mês

PENSIONISTA - Casado - 2 titulares - sem dependentes - 600€/ Mês

PENSIONISTA - Solteiro - sem dependentes - 700€/ Mês

PENSIONISTA - Casado - sem dependentes - 1.048€/ Mês

Com o desdobramento dos escalões a redução das retenções na fonte já reflete a totalidade da descida do imposto efetivo desde 2017?

Na generalidade dos casos o que verificamos é que não reflete a redução do imposto efetivo. Temos casos em que a redução de imposto efetivo é de 1,1 p.p. e a redução na tabela de retenção na fonte é de 0,9 ou 0,7, dependendo.

A retenção anual tem vindo a diminuir?

As tabelas têm vindo a diminuir, desde 2017. Com o desdobramento dos segundo e terceiro escalões. Como o imposto final ia diminuir então as tabelas foram considerando uma redução progressiva. A questão é que ainda não chegámos ao limiar, ao equilíbrio se quiser

Vamos chegar? Isso não tem também a ver com a gestão das finanças de cada um?

Depende muito da gestão do próprio orçamento familiar. Há pessoas que gerem o orçamento de uma forma em que preferem ter mais rendimento líquido disponível, até para uma poupança. Para outros agregados familiares até dá jeito que lhe retenham mais, para depois, se for o caso, poderem ter um reembolso maior.

Estamos a falar de um efeito financeiro. A retenção na fonte é como se fosse um adiantamento por conta do imposto final. O imposto devido será sempre o mesmo quer retenha a mais ou menos.

Claro que, em termos políticos, se o Governo refletisse a totalidade do ajustamento em 2019, significaria que o reembolso em 2020 seria menor. Ao fazer ao contrário, uma parte da repercussão do imposto só vai acontecer em 2020.

No conjunto os portugueses ganham mais em 2019 que ganhavam em 2018, antes das mexidas?

Se reparar pelas simulações a maior variação do rendimento líquido mensal são 12 euros.