Empresas querem optar pelo Marão, mas exige portagens mais baixas - TVI

Empresas querem optar pelo Marão, mas exige portagens mais baixas

Neve Serra do Marão, por Filipe Soares (foto euvi@tvi.pt)

Nova autoestrada onde o túnel está inserido deverá entrar em funcionamento em abril

As empresas de Vila Real querem vir a usar o Túnel do Marão, inserido na nova autoestrada que deverá entrar em funcionamento em abril, mas algumas ainda estão a fazer as contas ao custo da portagem. Várias associações empresariais do Douro e Trás-os-Montes reivindicam ao Governo preços acessíveis e competitivos.

Com a nova via de 26 quilómetros, fica concluída a ligação do Porto, Vila Real e Bragança por autoestrada (A4). A Infraestruturas de Portugal já disse que a proposta de portagem ronda os dois euros (classe 1), mas os valores a cobrar serão fixados pelo Governo e, até ao momento, ainda não foram anunciados.

Apesar da portagem, os empresários de Vila Real acreditam que a viagem que vai passar pelo túnel rodoviário de quase seis quilómetros “vai compensar”.

Carlos Sanfins está à frente de uma empresa de distribuição de peixe que praticamente todos os dias vai às lotas de Matosinhos, Póvoa ou Aveiro buscar o produto que depois vende um pouco por toda a região transmontana e falou com a Lusa.

“Tudo depende do valor da portagem, mas se for entre os quatro a cinco euros para os nossos veículos (classe 2) vai compensar, principalmente na viagem de regresso porque os carros vêm carregados e, na subida da serra do Marão pelo Itinerário Principal 4 (IP4), gastam muito gasóleo”

A acrescentar aos custos do combustível estão ainda o desgaste dos veículos e o tempo de viagem. Pela nova autoestrada são menos quilómetros e o trajeto fica mais rápido.

Por isso, Carlos Sanfins referiu que a viagem de regresso será feita na nova via e a de ida para o litoral vai depender do fator custo.

“No Marão são 12 quilómetros a subir e o carro consome na ordem os 30 a 35 litros aos 100 quilómetros. Só nesses 12 quilómetros devemos gastar cerca de seis a sete euros de gasóleo, mais o desgaste do carro de ele vir ali a puxar. Assim, os quatro ou cinco euros de portagem compensam”, frisou.

Esta empresa que tem sede na Portela, em Vila Real, possui 14 veículos e gasta entre 15.000 a 16.000 euros por ano em portagens.

Jorge Santos, da transportadora Rodonorte, afirmou à agência Lusa que a empresa vai passar a utilizar o Túnel do Marão, uma solução que diminuirá o tempo da viagem para o Porto e também para Lisboa.

“A nossa intenção é assegurar que os nossos passageiros tenham uma viagem cómoda e no mais curto espaço de tempo possível”, frisou.

Jorge Santos salientou que, mesmo que exista um aumento dos gastos da empresa por causa da portagem, este poderá ser colmatado com um menor gasto em termos de manutenção das viaturas.

“Como o IP4 tem uma subida muito acentuada, tem também um maior desgaste de material. Com a utilização do túnel temos a convicção de que iremos ter um menor gasto em termos de manutenção e consumo de combustível”

A Kathrein Automotive está, neste momento, a apostar em Vila Real para ser a principal fábrica produtiva do grupo e abastecer o mercado europeu.

O grupo alemão possui uma fábrica de componentes para automóveis que produz antenas e, entre os seus clientes estão marcas como a BMW, a Mercedes, a Audi, a Volvo ou a Ford, com a produção transmontana a seguir viagem para toda a Europa.

Segundo um dos responsáveis pela empresa, Miguel Pinto, o Túnel do Marão vai passar a ser uma solução para esta empresa por uma questão de rapidez e de segurança, frisando que, por vezes, um atraso numa encomenda pode trazer custos elevados e que, por isso, o preço a pagar pela portagem justifica.

A matéria-prima para esta empresa vem normalmente do exterior e chega ao Porto de Leixões por via marítima, seguindo depois de transporte rodoviário para Vila Real. Os equipamentos são exportados principalmente por carrinhas.

Reivindicações

O presidente da Infraestruturas de Portugal (IP), António Ramalho, já afirmou que a proposta de portagem para os cerca de 26 quilómetros da Autoestrada do Marão ronda os dois euros (classe 1), um valor que disse ser “substancialmente mais baixo” do previsto inicialmente, que era de três euros, e possível por causa do financiamento comunitário da empreitada.

Os valores a cobrar serão fixados pelo Governo e, até ao momento, ainda não foram anunciados, mas reivindicam-se agora “valores mais acessíveis e competitivos” para a nova via.

O presidente da Associação Empresarial de Vila Real, Luís Tão, lembrou que esta “foi anunciada como a autoestrada da justiça para a região transmontana”.

Agora, na sua opinião, para que essa justiça “fosse real” as portagens teriam que “ser zero” pelo período correspondente ao atraso que existe neste território.

“Dever-se-ia avaliar o atraso desta região e se avaliássemos que 30 anos é o valor do atraso, nós durante esses 30 anos não devíamos ter de pagar portagens”.

Não sendo possível, Luís Tão defendeu que os preços a cobrar devem "ser competitivos".“Neste momento, vemos que é tudo a encarecer os custos de produção e, se os conseguirmos baixar, mais concorrenciais e competitivos serão os nossos produtos e as nossas empresas”.

Em Trás-os-Montes e no Douro, os principais produtos exportadores são o granito e os vinhos.

A Associação dos Industriais do Granito (AIGRA), com sede em Vila Pouca de Aguiar, também se associa à reivindicação por preços acessíveis para a nova autoestrada.

O presidente da associação, Domingos Ribeiro, referiu que há muito granito a ser exportado pelo porto de Leixões e que, por isso, a Autoestrada do Marão que liga à A4, em Amarante, é mais uma opção para as empresas.

“É óbvio que qualquer novo custo vai influenciar. Neste momento, os custos já são tantos, entre combustíveis e portagens, que as contas são feitas encomenda a encomenda, porque está sempre tudo a mudar”

No entanto, segundo referiu, há outras contas que têm que ser feitas, como ao combustível que as viaturas pesadas gastam nas subidas da serra do Marão, pelo Itinerário Principal 4 (IP4), o desgaste da viatura e o tempo da viagem.

Nessa soma, a viagem pelo túnel que rasga a serra poderá ficar “mais em conta”, mas, na sua opinião, tudo dependerá do preço da portagem.

Atualmente, ainda há muitas empresas de vinhos do Douro que optam por fazer os transportes pela sinuosa estrada nacional que liga Peso da Régua a Mesão Frio e Amarante.

António Saraiva, da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP), salientou que, com a nova via e se o custo for competitivo, muitas empresas poderão optar por esta autoestrada. “Trata-se de uma obra muito importante”.

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