Crise na Europa: onde estão os maus da fita? - TVI

Crise na Europa: onde estão os maus da fita?

BCE

Historiador do euro culpa os «tecnocratas em Bruxelas»

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A culpa da crise europeia não mora em Portugal nem na Grécia. Os verdadeiros maus da fita estão em Bruxelas, na Comissão Europeia. A opinião é de David Marsh, historiador do euro e presidente do Fórum das Instituições Monetárias e Financeiras Oficiais (FIMFO), em entrevista à Lusa.



Apesar de ter pouco mais de uma década, a moeda única merece uma história, até porque os seus antecedentes têm quase dois séculos, defende o britânico David Marsh, que, para além dos trabalhos académicos, dos textos que escreve para publicação como o «Financial Times» ou «The Economist», preside também à consultora de gestão SCCO ao FIMFO, que reúne líderes de bancos centrais, fundos soberanos e responsáveis políticos e empresariais do setor financeiro.

«A busca por uma divisa única europeia data, pelo menos, de meados do século XIX», disse David Marsh, autor do livro «O Euro - A Batalha pela Nova Moeda Global», que acredita que a moeda única europeia tem ainda uma longa história à frente: «Já se andou tanto, política e institucionalmente, que não se pode agora voltar para trás. Por isso, o que quer que aconteça à moeda europeia, o euro continuara a existir, continuará a existir um Banco Central Europeu».



Quando vê as manifestações nas ruas de Lisboa, ou de Atenas, ou as taxas das dívidas públicas de Portugal, da Grécia ou de Espanha a subir, David Marsh tem também a certeza de que os mercados estão bater à porta errada quando culpam os cidadãos, os bancos ou os governos europeus e os acusam de ter gasto mais do que deviam.

«Os verdadeiros vilões são os funcionários europeus. Não são as pessoas nas ruas em Portugal, ou na Grécia, nem sequer os governos de Portugal ou da Grécia, nem sequer os banqueiros, que só estão a fazer aquilo que sempre fizeram - tentar ganhar dinheiro sendo tolos e gananciosos».

«Os verdadeiros vilões são os tecnocratas em Bruxelas, que não conseguiram ver a necessidade de ter mecanismos de segurança, de criar mecanismos como as eurobonds, quando as coisas estavam ainda relativamente bem, nos cinco primeiros anos do euro. E isso foi de uma complacência colossal, criminosa», acrescenta David Marsh.

No entanto, Marsh considera que é Portugal quem deve decidir se fica no euro e cumprir as regras, que serão, cada vez mais, severas.

Tarde demais para as eurobrigações

Para Marsh, a oportunidade de integrar as finanças públicas dos países da Zona Euro através da mutualização e da emissão conjunta de dívida soberana - as chamadas eurobonds ou eurobrigações - é também uma oportunidade que já se perdeu e não se recupera.

«É demasiado tarde para isso. A altura certa para as eurobonds teria sido quando tudo estava a correr razoavelmente bem, até 2005, e quando ainda se poderia ter aglomerado os países com a notação financeira máxima de «AAA» e outros países com um bom rating. Agora já estamos atrasados».

Se Grécia sair do euro não será sentença de morte

Marsh não acredita que a Grécia possa sair do euro, mas afirmou, na entrevista à Lusa, que se isso acontecer não será a sentença de morte da moeda única, até porque já estão em atividade os mecanismos de resgate da Zona Euro - o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (temporário) e o Mecanismo Europeu de Estabilidade (permanente) - que servem como barreiras de segurança contra um contágio da bancarrota grega.

«Não seria um golpe mortal se a Grécia decidisse abandonar a Zona Euro. É perfeitamente possível que se a Grécia, por razões especiais, decidisse, por si, sair da Zona Euro, que a moeda única continuasse com 16 membros. As barreiras de proteção estão no terreno, há muito mais munições monetárias que há dois anos».
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