Escolas para ricos e para pobres - TVI

Escolas para ricos e para pobres

  • Portugal Diário
  • 6 dez 2006, 09:45
Colégio S. João de Brito (Foto Manuel Almeida/Lusa)

Turmas divididas segundo o desempenho escolar e a origem social dos alunos. Selecção também é feita por escolas: os melhores numa, os restantes noutra. Estudo mostra que os «bons» alunos têm equipamentos novos e os piores estão em escolas degradadas

O sistema de ensino em Portugal discrimina os alunos por escolas, por turmas e por vias de ensino, agravando os processos de desigualdade social, revelam as conclusões de vários estudos que serão apresentados esta quarta-feira no ISCTE, escreve a Lusa.

No âmbito do Fórum de Pesquisas CIES (Centro de Investigação e Estudos de Sociologia) 2006, este ano dedicado às temáticas da «Sociedade do Conhecimento, Jovens e Educação», investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) vão apresentar os resultados mais relevantes da investigação feita nesta área nos últimos anos.

A divisão de turmas segundo o desempenho escolar e a origem social dos alunos e a selecção de estudantes definida com base nestes critérios por parte de escolas situadas na mesma zona são realidades identificadas nas pesquisas que os investigadores consideram contribuir para o aumento da «guetização» social.

No estudo «Políticas de Educação Básica, Desigualdades Sociais e Trajectórias Escolares», que vai ser apresentado hoje e que foi realizado no ano passado, foram analisadas quatro escolas públicas que evidenciam diferenças acentuadas a nível da origem social e desempenho escolar dos alunos, assim como da qualidade dos equipamentos, apesar de se situarem a pouca distância umas das outras, na zona Norte de Lisboa, entre o Lumiar, Carnide e Telheiras.

Classe baixa, maus alunos e equipamentos degradados

Numa das escolas do 2º e 3º ciclos que foram analisadas, os estudantes pertencem maioritariamente a classes sociais elevadas, apresentam um bom desempenho escolar e beneficiam de equipamentos novos, enquanto noutra os alunos são sobretudo de classes desfavorecidas, registam altas taxas de reprovação e usufruem de equipamentos escolares degradados.

No primeiro caso, a percentagem de alunos que chumbaram mais do que uma vez é de apenas sete por cento, um valor que dispara para os 49 por cento, sete vezes mais, na escola sobretudo frequentada por alunos de classes desfavorecidas.

«Sendo todas públicas e situadas na mesma zona, há escolas de elite e outras de crianças quase marginalizadas. Toda a gente quer pôr os filhos nas escolas com melhores alunos e essas acabam por ter mais candidatos do que vagas, o que lhes permite seleccionar os estudantes e excluir os repetentes ou os provenientes de um bairro social, por exemplo», explicou Pedro Abrantes, um dos investigadores responsáveis do painel «Diversidade e Desigualdade nas Escolas».

Uma outra pesquisa, realizada em 2001, analisou a constituição de turmas na mesma escola, desta vez situada num bairro desfavorecido do concelho da Amadora, tendo sido identificados os mesmos factores de desigualdade.
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