3-6, 25 anos depois: onde estavam eles no dérbi de 1994? - TVI

3-6, 25 anos depois: onde estavam eles no dérbi de 1994?

Sporting-Benfica 3-6

O Benfica gelou Alvalade há um quarto de século e o Maisfutebol entra no túnel do tempo. Fala-se da Miss Portugal, de um avançado à baliza e da fuga coletiva de um treino na Luz

Primeiro, o enquadramento. Estamos no dia 14 de maio de 1994, há 25 anos, e o Sporting recebe o Benfica para a jornada 30 do Campeonato Nacional da I Divisão.

Antes do dérbi eterno, a classificação geral está assim:

1. Benfica, 47 pontos

2. Sporting, 46 pontos

3. FC Porto, 44 pontos

4. Boavista, 33 pontos

5. Marítimo, 31 pontos

O dia de celebração de milagres é festejado na véspera, mas no relvado de Alvalade há uma aparição de sua santidade João Vieira Pinto. O Menino de Ouro faz um hat-trick, o Benfica vence por 6-3 e fica com a carpete vermelha estendida até ao título.

Chuva inclemente, guarda-chuvas negros plantados na bancada, ilusão e deceção de mãos dadas. Vizinhança difícil, andamento de loucos.

Luís Figo marca para o Sporting; João Pinto empata. Cadete volta a dar vantagem aos leões, João Pinto volta a empatar e faz o terceiro da conta pessoal antes do intervalo. A segunda parte é de destruição massiva - não se esqueçam que Carlos Queiroz abdica do lateral Paulo Torres e lança o extremo Pacheco.

Marcam Isaías, Isaías outra vez e Hélder para o Benfica. Ferido de morte, o Sporting reduz em cima do apito final por Balakov.

As recordações dos intervenientes são exclamativas. Stan Valckx, o holandês das meias caídas, não é de meias palavras: «Temos mesmo de falar disso? Então é assim. Lembra-se do João Vieira Pinto? O baixinho era notável, notável. Desfez-nos. Errámos em vários momentos e ele, com espaço, desfez-nos».

A bonomia de Toni leva boa disposição às memórias. «O Rui Costa não me perdoa nunca o facto de nesse dia ter jogado apenas os últimos 20 minutos do jogo.» 

E por aí fora… há recordações intermináveis dos intervenientes diretos, mas desta vez preferimos escutars quem fica de fora. A ver na televisão, ou ao vivo, como o comum dos adeptos.

Onde estavam eles na noite de 14 de maio de 1994?

Vamos a isso, até porque estes relatos metem o concurso da Miss Portugal, um avançado obrigado a ir à baliza e um treino abandonado na Luz.

Pedro Barbosa numa pousada e Nuno Gomes com misses

Em maio de 94, Pedro Barbosa tem 23 anos. Joga no Vitória de Guimarães e está a pouco mais de um ano de se transferir para Alvalade. No Sporting, de resto, torna-se capitão de equipa e figura incontornável nos títulos de 2000 e 2002.

«Sim, jogava no Vitória e estávamos em estágio, salvo erro na Pousada de Santa Marinha, que era onde ficávamos habitualmente», conta Barbosa ao Maisfutebol, a pensar nesse icónico dérbi.

«Não tenho grandes recordações do jogo nem do contexto, mas lembro-me que foi 'bola cá, bola lá'. No dia seguinte jogámos contra o FC Porto, lembro-me disso, e empatámos 0-0.»

Bate tudo certo, caro Barbosa, mas falta a história mais incomum. Nesse Vitória-FC Porto, os minhotos acabam com um avançado à baliza.

«Foi nesse jogo que o nosso guarda-redes, o Madureira, foi expulso [aos 75 minutos] e o Dane teve de ir para a baliza.»

Do plantel desse Benfica 93/94 faz parte Pedro Henriques. Tem 19 anos, cumpre o primeiro ano de sénior e não entra no lote de convocados para o dérbi em Alvalade.

«Ainda vivia em casa dos meus pais. Fazia parte do plantel do Benfica, mas não fui convocado. Vi o jogo sossegado e sozinho, no sofá. Nunca gostei de ver futebol em locais confusos», recorda o antigo lateral esquerdo ao Maisfutebol, 25 anos depois.

Pedro concorda que esse é um duelo «marcante» no imaginário do futebol nacional.

«Esse era um plantel de sonho do Benfica. Foi destruído nos anos seguintes. O lateral esquerdo era o Veloso, mas por vezes o mister Toni apostava no Kenedy ou até no Schwarz. Curiosamente, estreei-me duas semanas depois desse dérbi, numa vitória por 3-0 em casa do Gil Vicente.»

Os dias seguinte ao histórico 3-6 são, nas palavras de Pedro Henriques, vividos «em euforia».

«Esse jogo fez toda a diferença, foi meio caminho andado para o título. A euforia tomou conta da equipa. Num treino da semana seguinte estávamos a trabalhar com o professor Jorge Castelo, num dos campos de treinos da Luz. Fazíamos aqueles exercícios que todos odiamos: arranque, sprint, enfim, trabalho físico.»

Os benfiquistas andam tão entusiasmados que há tempo para tudo. Até para brincar. «O professor Castelo dizia ‘sai’ e tínhamos de sprintar. A dada altura ele grita ‘sai’ e os jogadores todos saíram do campo. Viemos embora para o balneário. O Toni e o Jesualdo não paravam de rir e o professor Castelo ficou todo chateado.»

Mais novinho é Nuno Gomes. O avançado tem 17 anos e está nos juniores do Boavista. O 3-6 é visto em boa companhia. Com os colegas de equipa e bem perto das candidatas a… Miss Portugal 94.

«Jogava nos juniores do Boavista, mas estava num estágio com a seleção nas Caldas da Rainha. Vimos o jogo todos juntos no hotel. Lembro-me que, por coincidência, estavam hospedadas no mesmo hotel as concorrentes a Miss Portugal 94», conta o ex-internacional português, ele que três anos depois haveria de se transferir para a Luz.

Descemos no mapa português e já estamos no Montijo. É lá que joga Ricardo Pereira na temporada de 1993/1994, um menino a brilhar na baliza do Olímpico. Ricardo muda-se para um Boavista cada vez maior em 1995 e passa em 2003 para o Sporting.

«Ora bem, eu tinha 18 anos, mas não vi esse jogo. Estava em viagem com o meu pai», recorda o ex-guarda-redes.

«Só vi o resumo quando cheguei a casa, ainda vivia na casa dos meus pais. O João Vieira Pinto partiu tudo, é um jogo marcante. Curiosamente, quando fui para o Sporting, muito mais tarde, nunca ouvi no balneário qualquer conversa sobre esses 3-6 ou sobre os 7-1 de anos antes.»

Ricardo faz uma carreira fantástica, com 79 jogos pela seleção, um campeonato nacional vencido no Boavista, presenças em dois Mundiais e dois Europeus.

Há 25 anos, ele é apenas mais um miúdo com o sonho de ser futebolista profissional. Como Pedro Henriques, como Nuno Gomes e como o senhor Pedro Barbosa, o mais velho dos quatro.

As décadas passam e é impossível esquecer este 3-6 de Alvalade. Vale a pena rever o VÍDEO do jogo (imagens RTP):

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