Xenofobia contra portugueses na Galiza - TVI

Xenofobia contra portugueses na Galiza

  • Portugal Diário
  • Francisco Ribeiro, Lusa
  • 16 fev 2007, 11:11
Trabalhadores portugueses na Galiza (foto João Abreu Miranda/Lusa)

Milhares de emigrantes ilegais vivem em condições desumanas em Espanha

Os baixos salários auferidos pelos portugueses que trabalham na construção civil na Galiza, a maior parte em situação ilegal e a viver em condições desumanas, estão a gerar um crescente sentimento de xenofobia que preocupa as autoridades. A falta de trabalho em Portugal está a provocar um aumento da migração para esta região espanhola, especialmente para o sector da construção civil, onde milhares de portugueses trabalham em situação ilegal e vivem em condições desumanas.

«O problema é que os trabalhadores portugueses estão a receber menos do que o salário que é pago aos espanhóis, o que está a criar uma situação de concorrência desleal», afirmou José António Alvarez, da UGT espanhola.

Segundo o sindicalista, entre os trabalhadores portugueses ilegais que se encontram na Galiza está a ser pago um salário de 800 euros mensais para um ordenado equivalente de 1.000 euros de um trabalhador espanhol.

«É certo que, em Portugal, ele apenas receberia 600 euros, mas isto está a criar um problema de racismo porque os trabalhadores espanhóis sentem-se discriminados», frisou.

Existem, no entanto, casos mais graves, em que um trabalhador português ganha quatro euros por hora, quando a legislação espanhola obriga ao pagamento de quase oito euros por hora para o mesmo escalão profissional.

Para o sindicalista, apesar de se tratar de situações de exploração, o problema «já começou a originar queixas de que os portugueses estão a roubar os postos de trabalho aos galegos».

«Esta situação está a criar um problema de racismo que já se começa a sentir», alertou.

A questão da xenofobia foi recentemente levantada por um jornal galego, que referia em manchete o facto dos portugueses estarem a tirar postos de trabalho aos galegos.

Milhares de portugueses ilegais em condições desumanas

Pedro, 26 anos, faz todos os dias a viagem entre Barcelos e a cidade galega de Vigo, tem um contrato com uma empresa portuguesa e um salário que é «quase o dobro» do que receberia em Portugal, mas reconhece que há muitos colegas que não têm a mesma sorte.

«Há muitos portugueses que estão ilegais na Galiza, que dormem nas obras e recebem menos do que o que foi acordado», disse à agência Lusa, durante uma visita à obra onde trabalha, em Porrinho, arredores de Vigo.

Um dos casos mais chocantes ocorreu há algumas semanas, quando José António Alvarez encontrou, numa rua de Vigo, um grupo de portugueses a dormir no in terior de uma carrinha.

O grupo tinha sido contratado para trabalhar na Galiza, mas o patrão, além de não lhes ter pago o salário, também não pagou a pensão onde comiam e dormiam, pelo que foram colocados na rua.

Sem dinheiro sequer para pôr gasolina suficiente que lhes permitisse regressar a Portugal, optaram por dormir no veículo, onde foram encontrados pelo sindicalista que lhes disponibilizou dinheiro para o combustível.

«Não houve até agora um único português que tivesse pedido ajuda ao consulado», frisou Maria Regina Almeida, lamentando a falta de informação em Portugal que permita aos emigrantes saber que existe um consulado em Vigo.

Os portugueses chegam à Galiza através de empresas espanholas, que recrutam em Portugal, ou de empresas portuguesas que disponibilizam mão-de-obra em Espanha.

Na maioria dos casos, os trabalhadores saem de madrugada de Portugal e regressam a casa ao princípio da noite, mas é certo que alguns dormem nas obras, sem as condições de higiene e conforto mínimas.
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