Bueno: «Decidir o dérbi com um golo no Dragão? Oxalá!» - TVI

Bueno: «Decidir o dérbi com um golo no Dragão? Oxalá!»

Alberto Bueno

Entrevista a Alberto Bueno – Parte 1

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Um dérbi FC Porto-Boavista é especial para todos.

Para Alberto Bueno, este é «um bocadinho» mais – como o próprio diz.

Assim mesmo, Bueno diz «bocadinho», refere-se aos mais novos como «miúdos», diz que o Bessa é um estádio «fixe».

Aliás, avisa logo de início que vai tentar falar portunhol ao Maisfutebol, na primeira entrevista em Portugal desde que saiu do FC Porto.

Acabado de fazer 31 anos, o avançado espanhol olha para o jogo que abre a jornada 28 da Liga, na próxima sexta-feira, no Dragão, como um momento de ouro para afirmar-se ainda mais no Boavista, eventualmente também para provar que merecia mais oportunidades no FC Porto.

De xadrez ao peito, Bueno teve uma estreia de sonho, frente ao Feirense: marcou um golo praticamente dois anos depois – após quase um ano sem jogar a titular.

Se os tempos no FC Porto foram difíceis, desde que chegou em 2015/16 pela mão de Julen Lopetegui, este início de época, sem competir e apenas a treinar com a equipa B, foi ainda mais penoso. Porém, Bueno prefere falar do presente e na batalha que vai travar até ao final época para manter o Boavista na Liga.

Na tribuna de honra do Bessa, a olhar para o relvado, recorda também as origens: dos tempos do Real Madrid e daquele Europeu de sub-19 que conquistou o troféu e foi melhor jogador e marcador, à incursão inglesa; até às diferentes experiências em Espanha e, claro, a Portugal.

Fala também do lado pessoal. Do prazer de viver com a família no Porto, de um dia voltar a viver em Madrid, bem perto do bairro Moratalaz, onde viveu, cresceu e onde jogava futebol sem parar na infância.

Tranquilo, ponderado, Alberto parece a conversar mais defensivo do que aquilo que é em campo. Mas não deixa qualquer pergunta por responder e faz revelações bem interessantes.

Mais do que uma entrevista, é uma conversa. Se preferirem, um «bocadinho» bem passado, num estádio «fixe».

MAISFUTEBOL: Trocou o FC Porto pelo Boavista há dois meses. O que o levou a tomar essa decisão?

ALBERTO BUENO: Era importante para mim o Boavista ser um clube do Porto. Gosto da cidade, estou instalado aqui, tenho muitas amizades, a minha família está confortável, tanto a minha mulher, como os meus filhos na escola…

Foi uma oportunidade desportiva e pessoal. Ou seja, é melhor jogar aqui do que ir para um clube turco ou algo semelhante?

Prefiro dizer que o Boavista podia ajudar-me e eu podia ajudar o Boavista. O momento era bom para ficar.

Como surgiu o interesse do Boavista?

Simples. O clube falou diretamente comigo e com o meu empresário e chegámos a um entendimento entre todos: eu, Boavista e FC Porto.

A sua ideia é ficar até final desta temporada e depois, se correr bem, admite ficar na próxima?

Exatamente.

O que conhecia do Boavista antes de aqui chegar?

Gosto de futebol. Já em Espanha sabia que o Boavista era um grande clube, que foi campeão português há não muito tempo, mas que tenta aos poucos a voltar a ser o que era.

Não lhe correu mal estreia. Ao fim de um ano sem jogar de início, fez 85 minutos frente ao Feirense e marcou um golaço de livre…

Foi bom chegar e ganhar, ganhar e ganhar. A equipa estava mal animicamente. Temos qualidade para estar um patamar acima, mas com o novo treinador havia que mudar a dinâmica. Mesmo assim, desde que cheguei, já perdemos jogos merecidamente. Temos de fazer essa autocrítica também. Mas competimos bem em quase todos os jogos, mesmo contra o Sporting.

Este campeonato vai ser duro até final, não?

Vai ser uma batalha até ao fim.

Concorda com o seu treinador, Lito Vidigal, quando ele diz que «Bueno é bom»?

(Risos) O meu trabalho é tentar ser bom. Usar o futebol para divertir as pessoas, que na vida têm problemas e vêm aqui [aponta para o relvado do Bessa] para desfrutar e apoiar a equipa. Temos a possibilidade de ali no relvado ajudar essa muita gente.

Já pode dizer que voltou a ser feliz aqui no Boavista, depois de três épocas e meia difíceis vinculado ao FC Porto?

Custou-me recuperar alguns mecanismos. Não jogava de início desde março de 2018, pelo Málaga. Voltei e, logo na estreia, fiz um golo pelo Boavista, dois anos depois [não marcava desde fevereiro de 2017, pelo Leganés].

No defeso não foi transferido e esteve na última meia época só a treinar na equipa B do FC Porto. Como se motivava?

É complicado o dia a dia de quem não joga. Seja pela situação em que estava [no FC Porto B], seja por estar integrado no plantel sem ser opção. É fundamental estar numa equipa a lutar por algo.

Pelo Boavista já jogou tanto como pelo FC Porto: fez oito jogos e marcou um golo. Já se sente boavisteiro?

Sem dúvida. Os meus companheiros valorizaram-me e isso ajudou a adaptar-me rapidamente. Já sinto o calor dos adeptos. O estádio é «fixe»; é assim que se diz, não?

O dérbi é um jogo especial, não?

Já joguei contra antigas equipas e é sempre especial, também por jogar contra ex-colegas de equipa e amigos. Ainda para mais, neste caso, um dérbi FC Porto-Boavista. Encararemos esse jogo para ir buscar os três pontos, por mais difícil que isso possa parecer.

Já pensou em decidir o dérbi no Dragão [na próxima sexta-feira] e o Boavista ganhar?

Oxalá assim aconteça!

Em termos de jogo, que diferenças encontra entre o seu posicionamento em campo no FC Porto e no Boavista?

Aqui tenho um papel mais central. No FC Porto jogava mais encostado à esquerda. Foi pena porque as equipas grandes em Portugal acabam com muita gente e eu adapto-me bem a esse tipo de jogo. Acho que sei definir bem as jogadas; um jogador nessas equipas sempre acaba por fazer golos.

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CARREIRA PROFISSIONAL:

. 2006 a 2009: Castilla (Real Madrid B) (97 jogos/22 golos)
. 2008/2009: Real Madrid (6 jogos/1 golo)
. 2009 a 2013: Valladolid (90 jogos/14 golos)
. 2010/2011: Derby County (29 jogos/5 golos)
. 2013/15: Rayo Vallecano (77 jogos/29 golos)
. 2015/16: FC Porto (8 jogos/2 golos)
. 2016/17: Granada (15 jogos/1 golo)
. 2016/17: Leganés (11 jogos/1 golo)
. 2017/18: Málaga (11 jogos/0 golos)
. 2018/19: FC Porto B (1 jogo/0 golos)
. 2018/19: Boavista (8 jogos/1 golo)

Títulos: Campeonato Europeu de Sub-19 de 2006

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Recuando aos seus tempos do FC Porto: é justo dizer que foi de Lopetegui a responsabilidade pela sua contratação, em 2015/16?

Lopetegui foi meu treinador no Castilla e foi muito importante nesse salto para sénior. Quando fui convidado por ele para vir para o FC Porto, ao saber do interesse de um treinador que gostava das minhas qualidades, pensei imediatamente que iria ter sucesso. Nessa altura, tinha possibilidade de ir para outras equipas...

Quais?

Muitas. Tanto para privilegiar a parte desportiva, mais até do que só ganhar dinheiro. Valorizei representar uma equipa forte, poder ganhar títulos, ser campeão, mostrar-me no futebol europeu...

O lado desportivo e o facto de estar perto do seu país foi determinante para escolher o FC Porto?

Sem dúvida. Mas não vou ser falso: no FC Porto ofereceram-me um contrato muito bom. Também foi merecido da minha parte, vinha de boas prestações e era um jogador em fim de contrato. Quando saí do Real Madrid, joguei em equipas de meio da tabela. No FC Porto tinha a possibilidade de lutar pelo campeonato e de jogar na Champions!

Também foi importante ter muitos espanhóis nessa equipa, como Casillas e outros?

Isso jogava a favor também. Mas não era o mais importante. O treinador e o estilo de jogo contam mais na decisão. Escolhi o FC Porto há quatro anos e continuo a não me arrepender de nada. Achava que era a decisão acertada.

O que correu mal no FC Porto?

Pensei que ia ter confiança para jogar três, quatro, cinco jogos seguidos e mostrar se tinha qualidade e características para jogar no FC Porto. Essa oportunidade não me foi dada. Em janeiro [2017], tive uma lesão que nunca tinha tido na vida e que acabou por comprometer o final de época. Entretanto, entrou o José Peseiro, que gostava de mim e queria dar-me oportunidade, mas não aconteceu.

No tempo em que esteve vinculado ao FC Porto foi emprestado a Granada, Leganés, Málaga… O que correu mal para não se ter afirmado?

Em alguns momentos da vida, fiz as coisas mal. Sou crítico e tento ter um olhar objetivo. Nessas cedências, porém, reconheço que tive algum azar. No Granada e no Málaga fui chamado para lá jogar por dois treinadores que gostavam de mim – que trabalharam comigo no Rayo e no Castilla, respetivamente. No entanto, eles foram demitidos algumas semanas depois de eu lá chegar. Veio um treinador novo com uma forma de jogar completamente diferente…

Em declarações recentes à Rádio Marca disse que sofreu «mobbing»  [pressão laboral] no FC Porto. Como assim?

Foi um momento complicado, mas não quero relembrá-lo. Falei dessa forma porque o meu presente ainda era o FC Porto e tinha acabado de sair do clube. Estava mais a quente. Já passaram dois meses, estou focado no Boavista. Mesmo assim, guardo boas recordações do FC Porto.

Esteve esta meia época a com a equipa B, antes disso teve três empréstimos. O «mobbing» teve que ver com isso?

Prefiro dizer apenas que a passagem pelo FC Porto não correu como eu gostaria. Mas a verdade é que essa etapa me ajudou a crescer. Agora estou feliz. Já não quero olhar para trás.

[entrevista originalmente publicada às 23h59, 01-04-2019]

PARTE 2: «Fiz um poker em um quarto de hora na Liga Espanhola e mal festejei»

PARTE 3: «Sou feliz no Porto, mas não gosto de francesinhas»

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