«O Nakajima vive no mundo dele, eu falava mais alto e ele ria-se» - TVI

«O Nakajima vive no mundo dele, eu falava mais alto e ele ria-se»

Entrevista ao treinador António Folha - Parte II

António Folha está longe do banco de suplentes há um ano. Saiu do Portimonense a 18 de janeiro de 2020 e sente «saudade da adrenalina». O treinador completa 50 anos em maio e espera estar de volta ao ativo muito antes disso.

Do ano e meio em Portimão, o treinador guarda a imagem de um clube muito organizado e de plantéis com atletas de qualidade, explica ao Maisfutebol. Principalmente o primeiro, na temporada de 2018/19. Folha treinou e capitalizou muitos talentos, permitindo ao Portimonense fazer importantes encaixes financeiros: Wilson Manafá, Tormena, Ewerton, Paulinho, até Bruno Tabata. Acima de todos, o treinador coloca Paulinho e, claro, Nakajima, como explica nesta primeira grande entrevista dada após o adeus ao clube algarvio.

LEIA TAMBÉM:

Parte I: «Não me acredito no bloco baixo e nas transições rápidas»

Parte III: «Qualquer um pode ser treinador de copy-paste»


Maisfutebol – Dos jogadores que treinou no Portimonense e que foram vendidos, o Folha tinha expetativa especial sobre algum?
António Folha – Sim, tinha sobre dois. Um sabia que ia ser mais difícil ter sucesso, pela sua personalidade e forma de pensar: o Paulinho. Tem um talento inacreditável e falhou no FC Porto. O outro era o Nakajima. Nunca pensei que não se iria impor no FC Porto. O Sérgio Conceição sabe bem o que tem, os outros atletas são muito capazes, mas tinha enorme expetativa sobre o Naka. É um extraordinário jogador.

MF – Como é que treina, como é que pensa, como é que comunica o Nakajima? Sendo japonês, vindo de uma cultura tão diferente.
AF – O Theodoro Fonseca [acionista maioritário da SAD] conhece bem o Japão e falávamos muito sobre isso. Os japoneses são pessoas muito direitinhas, tranquilas, fazem tudo certinho e o Nakajima é tudo isso. Num treino eu falava um bocadinho mais alto e ele ria-se. É assim, é a forma dele estar. É um pouco acanhado, vive no seu mundo, ouve a sua música, pega no seu telemóvel, só se ri se alguém falar para ele. Mas dentro de campo a alegria dele é contagiante. Adora jogar e faz tudo a sorrir. Não sei se falhou no FC Porto por ter esse perfil, não sei. Nós sabíamos que ele era assim, temos de o perceber bem, temos de estar em sintonia com ele. No FC Porto, com a qualidade que o rodeava, se calhar isso foi impossível.

MF – O Manafá curiosamente conseguiu agarrar bem o seu espaço no FC Porto.
AF – Quando cheguei a Portimão o Manafá era ala/extremo. Como ala, ou jogava com a bola à frente, virado para a baliza adversária, ou tinha muitas dificuldades. Se fosse num jogo mais posicional, para tentar arranjar mais espaços, ele sabia que ia jogar de costas e perdia muitas bolas. Agora quando acelerava e tinha espaço, era um jogador incrível. Tem uma velocidade fora do normal. Percebemos isso e achámos que era melhor encaixá-lo no nosso sistema de três defesas/centrais a jogar por fora, de forma a estar sempre de frente para a baliza adversária. Com a velocidade dele, percebemos que podia criar desequilíbrios e potenciar a nossa ideia. Puxámo-lo para trás, ele entendeu bem as coisas. Há muitos exemplos de jogadores assim, que ganham mais dimensão recuando no terreno.

MF – O que sente o Folha ao ver tantos jogadores seus em clubes de grande dimensão?
AF – Orgulho. Mas também questiono: ‘se os tivesse comigo mais tempo, eu não estaria também melhor’? (risos) Há sempre essa interrogação. Sinto-me feliz ao vê-los bem, sinto que é um serviço prestado ao futebol. Mas claro que teria conseguido melhores resultados se eles tivessem ficado comigo mais tempo. Deixo para as pessoas do futebol essa análise.

MF – O Lucas Fernandes foi sempre muito importante e até agora não saiu. Ficou surpreendido?
AF – O Lucas chegou em 2018, detetámos um talento fantástico, mas teve problemas em perceber logo o nosso jogo. No início da época, até dezembro, teve dificuldades. Ia jogando. Paulinho, Pedro Sá, Ewerton, Dener, o meio-campo era muito bom. Trabalhou, evoluiu e começou a entrar na equipa, no lugar do Paulinho. Adaptou-se bem, foi pena agora esta lesão. Era um jogador que estava às portas de ingressar num projeto de maior dimensão.   

 

Continue a ler esta notícia

Mais Vistos