Gonçalo Cardoso: «Brugge? Não me prejudicou continuar no Boavista» - TVI

Gonçalo Cardoso: «Brugge? Não me prejudicou continuar no Boavista»

Gonçalo Cardoso (Ricardo Jorge Castro)

Entrevista ao defesa central de 18 anos do Boavista - Parte I

Bebé de 2000, segundo mais jovem a fazer a estreia a titular na equipa principal do Boavista. A 7 de outubro de 2018, no Bessa, Gonçalo Cardoso aparecia na Liga, aos 17 anos, lançado por Jorge Simão. Estreou-se com uma vitória contra o Desp. Aves e fez mais 17 jogos. Entre o «sonho» concretizado e a troca de treinador vivida, Dyego Sousa e Marega na retina, a ida não consumada para a Bélgica e a «experiência» ganha pelo menino que começou a lateral e «até chorava» quando era central nas camadas jovens do Penafiel.

ENTREVISTA A GONÇALO CARDOSO - PARTE II

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Maisfutebol (MF) – Pensava fazer a estreia com 17 anos?

Gonçalo Cardoso (GC) – Desde que cheguei, sempre foi objetivo estrear-me pela primeira equipa. Sabia que este ano ia fazer parte do plantel sénior e que a probabilidade era boa. Ia depender do meu trabalho.

MF – Como se sentiu quando sabia que ia ser titular com o Aves?

GC – Tive a certeza na véspera. Havia o castigo do Stephane [Sparagna], a lesão do Raphael Silva e sabia que a probabilidade de jogar era grande. Tentei abstrair-me ao máximo do que envolvia uma estreia. Estávamos numa fase complicada, precisávamos de ganhar. Sentia a responsabilidade, mas, ao mesmo tempo, orgulho.

MF – Algum nervosismo?

GC – Talvez nos momentos do aquecimento. Quando a bola começa a rolar, nem dá para pensar nisso.

MF – Até que ponto o Jorge Simão foi importante no seu lançamento?

GC – Cheguei cá no início da época passada, por volta de julho [de 2017]. Em outubro, novembro, foi o meu primeiro treino na equipa principal. Foi muito importante a oportunidade que deu, a confiança que transmitiu. Sempre que jogava, sentia que ele confiava em mim.

MF – Recordámos o primeiro jogo. E o primeiro treino?

GC – Também havia aquele nervoso miudinho. Um balneário diferente, apesar de ser o mesmo clube. Jogadores mais velhos. Era um menino, uma ou outra praxe, mas acolheram-me bem e entrei no grupo.

MF – Alguma brincadeira especial?

GC – Passar no ‘túnel’ e depois tive de cantar no hotel quando foi o meu primeiro estágio, à volta disso.

MF – Viveu uma troca de treinador, do Jorge Simão para Lito. Jogou mais com o primeiro. O que difere de um para outro?

GC – Aprendi muito, tanto com um, como com outro. Com o Jorge Simão, infelizmente, este ano, não estávamos a viver uma boa fase. Faz parte do futebol. Houve a mudança. O facto de jogar menos, faz parte do crescimento. Foi uma fase menos positiva, fez-me crescer. Sinto que, em maturidade e experiência, evoluí bastante.

Cardoso defrontou FC Porto, Benfica e Sporting esta época. Aqui, com Herrera, no dérbi da Invicta

MF – O Boavista acaba bem a época, mas sentiram a permanência em causa?

GC – Tivemos uma fase complicada. Em nenhum momento pusemos em causa a qualidade da equipa. Sentíamo-nos seguros, que íamos conseguir o objetivo, pelo que trabalhávamos diariamente, pelas exibições. Mais tarde ou mais cedo os resultados iam aparecer. Sentimos alguma pressão, mas fez-nos querer dar a volta à situação e, felizmente, correu bem. Terminámos de maneira fantástica.

MF – Os métodos da equipa técnica anterior para atual mudaram a forma de estar ou jogar?

GC – A forma de estar é trabalhar diariamente. Parte tática, os treinadores têm as suas ideias, o mister Lito trouxe ideias diferentes, outras parecidas. As que achava melhor para a equipa e para o momento.

MF – Em 18 jogos, a maioria foi ao lado do Neris, apenas um com o Raphael Silva. Havia maior entrosamento com o primeiro?

MF – Não se tratava só de entrosamento. Também treinei muitas vezes com o Raphael. Foi opção do mister. Mas com o Neris ou Raphael, íamos estar bastante entrosados.

MF - Em janeiro houve uma iminente saída para o Club Brugge. O Gonçalo foi à Bélgica. Não se concretizou. O que se passou?

GC – Foi em janeiro. Estava bem no Boavista, como agora. Surgiu essa oportunidade, ia ser bom para ambos. Estive na Bélgica, perto de mudar, mas não se concretizou. Estava bem no Boavista e não me prejudicou continuar no clube.

MF - Mas é objetivo jogar no estrangeiro?

GC – Não sou de pensar a longo prazo. Sinto-me bem aqui. Tive altos e baixos, mas foi uma época de sonho, para um menino de 17, 18 anos. Todos sonhamos níveis que o Boavista jogou há alguns anos: Liga dos Campeões, com os melhores clubes. Mas passo a passo. Se no futuro for bom para as partes, que me permita continuar noutro lado, iremos chegar a acordo.

MF – Tem contrato até 2021. É intenção cumprir?

GC – Se tiver de cumprir, cumpro com gosto. Adoro este clube, gosto dos adeptos, da história.

MF – Começou como lateral na formação. Sente-se mais confortável nesta posição?

GC – Comecei a jogar em Amarante, não federado. Federado foi na AD Marco 09 e comecei como lateral. Quando mudei para Penafiel, estava a crescer um pouco mais e o treinador começou a colocar-me a central. Na altura, até chorava quando ele me metia a central, não gostava. Mas fui-me habituando e sinto-me mais confortável nesta posição.

MF – Os jogadores com a sua idade estão preparados para o mais alto nível em Portugal?

GC – Este ano é prova disso. Vemos casos em Portugal de que cada vez mais os jovens têm qualidade e potencial para chegar à equipa principal. Claro que é preciso adaptação e tempo. Cada vez mais os clubes vão à formação buscar jogadores. Portugal é um país preparado para apostar nos jovens da formação.

Gonçalo Cardoso num lance com João Félix, no Benfica-Boavista, a 29 de janeiro

MF – Jogou na Luz, em Alvalade e com o FC Porto em casa. Sentiu que foi ‘lançado às feras’?

GC – Não diria lançado às feras. Sentia-me preparado para qualquer jogo. São jogos especiais, mas encarados da mesma forma. A nossa mentalidade não muda.

MF – Qual foi o jogador mais difícil de encarar esta época?

GC – Apanhei bons jogadores. Recordo-me com o Sp. Braga, o Dyego Sousa, um avançado que dá muito trabalho. O Marega também. Rápidos, muito possantes. Não estava habituado a lidar com jogadores tão possantes, experientes, sabiam as manhas. É preciso concentração, foco.

MF – O que é que esta época deu a nível de experiência que não tinha?

GC – A nível mental, jogar com pressão, permitiu-me lidar melhor com a mesma. Nos treinos, os jogadores mais velhos davam conselhos todos os dias. Olho para trás e sinto que dei um salto grande a nível tático. Mas, a nível mental e experiência de jogo, foi onde senti mais evolução.

MF – Há dois momentos que certamente marcaram. O que dá o primeiro golo do Portimonense no Bessa e o jogo com o FC Porto, que acaba em lágrimas depois do golo do Hernâni. O que sentiu?

GC – Fizemos um excelente jogo com o FC Porto e as lágrimas foram consequência de a equipa ter trabalhado tanto e ver tudo cair nos últimos segundos. São momentos complicados, principalmente para um jovem. Nos primeiros dois dias, fica-se a pensar. Mas a equipa, os adeptos e o mister ajudaram-me e no jogo a seguir passou tudo. O erro faz parte. Vou errar muito. Foi bom para aprender e reagir.

MF – Teve também uma expulsão em Braga. Houve revolta? No final, Jorge Simão até disse que apelidavam a equipa de «caceteiros».

GC – Achava isso descontextualizado. Somos uma equipa agressiva, mas sempre respeitando o adversário, querendo a bola. Não diria que foi injusta, foi um segundo amarelo. O segundo foi bem dado, o primeiro nem por isso.

MF – Superou João Pinto e Nuno Gomes como mais jovem a estrear-se a titular no Boavista. Tem algum significado?

GC – Poder fazê-lo tão cedo, é motivo de orgulho.

(artigo originalmente criado às 23h55 de 23/05/2019)

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