Tozé: «Acabei o secundário com média de 20, só baixei nos exames» - TVI

Tozé: «Acabei o secundário com média de 20, só baixei nos exames»

Entrevista ao futebolista português do Al Nasr, do Dubai – Parte II

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Em Forjães, a família de Tozé é reconhecida e respeitada. Pela ligação ao clube da terra, pela clínica veterinária e pela visibilidade que o neto do sr. Amândio deu à freguesia com as chamadas à equipa principal do FC Porto. 

Tozé nasceu cercado de futebol, mas a sua vida nunca se limitou ao futebol. Foi sempre um aluno brilhante, foi galardoado com o prémio «Rumo à Excelência» pela Câmara Municipal do Porto e entrou na faculdade com média a rondar os 20 valores.

O médio do Al Nasr recorda todos esses momentos em entrevista ao Maisfutebol e ainda retorna à noite em que marcou um penálti ao FC Porto, ao serviço do Estoril. Um momento que teve tanto de marcante como de polémico.

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PARTE III: «Um DJ gastou 250 mil euros numa festa aqui no Dubai»

Maisfutebol – O futebol nasce na vida do Tozé por influência familiar?

Tozé – O meu pai, o meu avô, o meu irmão, todos jogaram futebol e estiveram ligados ao Forjães Sport Club. O meu pai foi presidente do clube e o meu avô Amândio fez parte da direção. O meu padrinho também esteve no clube. O Forjães representa bem a nossa vila e é um orgulho para os forjanenses. É uma instituição muito respeitada no distrito de Braga, até pelas boas condições que tem. Todos eles me incutiram o gosto pelo futebol e joguei no Forjães até aos sub14. Eu e os meus amigos da escola, aquilo era quase uma comunidade desportivo-escolar (risos).

MF – Em casa dos seus pais falou-se sempre de futebol.

T – Tenho uma família incrível. O meu pai fez em casa um campo de futebol de praia e um campo de futebol relvado, para mim e para o meu irmão. Tudo com o sentido de ajudar: ‘quero fazer tudo para vocês, sei que adoram futebol’. O meu pai tratava de tudo e nós fizemos tudo. Cortávamos a relva, tratávamos da areia, tudo isso me deu este gosto e competitividade. Eu e o meu irmão jogávamos o dia todo e ao sábado havia sempre jogo às sete da tarde. Cortávamos a relva com o trator, era um dia espetacular. Lembro-me que acordava ao sábado já a pensar no jogo das sete. Pegava no trator, punha o relvado a regar, com mangueiras e um regador. Olho para trás, agora que tenho um filho, e gostava de lhe dar o mesmo. Criei experiências e memórias ali. Cheguei a levar mais do que uma vez a malta que jogava comigo no FC Porto (risos). Foi fantástico. Uma vez até conseguiu levar o Paulinho Santos. Tenho uma grande relação com ele. Se há uma pessoa que foi determinante na construção daquilo que hoje sou, essa pessoa é o Paulinho.

MF – Nós só temos a imagem do Paulinho guerreiro dentro do campo.

T – É uma imagem menos correta. Quer dizer, ele era assim dentro do campo e sabe disso (risos). Fora do campo é uma pessoa que trata bem e protege os amigos. Aliás, fui para o FC Porto por culpa do Paulinho e do Luís Castro.

MF – Como foi isso?

T – Aos 13 anos fui convocado para a seleção da AF Braga. Eram dez jogadores do Sp. Braga, dez do Vitória e um rapazinho do Forjães. Fui ao torneio da Póvoa, as coisas correram-me bem, fui titular e o FC Porto reparou em mim. Quem estava na bancada a ver o jogo eram o Paulinho e o Luís Castro. Encontrei o Paulinho nos sub16, ele era adjunto do João Brandão, e ele nem sabia que eu era aquele miúdo que ele tinha visto num torneio na Póvoa uns anos antes. Muitas vezes fui e vim com o Paulinho para os treinos, ele fazia-nos esse favor. Os meus pais levavam-me até Vila do Conde e depois eu ia com ele. Criámos uma relação ótima, incrível, com a família dele. Foi muito importante para mim, por esses valores que me foi passando. Ajudar o amigo, proteger, ler tudo o que se passa no balneário.

MF – No meio do futebol, como está a licenciatura em Medicina Veterinária?

T – A matrícula está congelada. Tive de investir só no futebol porque não conseguia conciliar as aulas práticas com os treinos. Se fossem aulas teóricas e se depois tentasse passar no exame, era possível. Mas com as aulas práticas não dava mesmo. Está um bocadinho de lado, mas talvez um dia queira acabar o curso. O meu pai e o meu avô foram veterinários, isto passou naturalmente para mim. Via-os a trabalhar, gosto de animais. Eu até tinha média para entrar em Medicina, mas escolhi entrar em Veterinária por gosto.

MF – É verdade que concluiu um ensino secundário com média de 20?

T – Tive média de 20, sim, mas nos exames baixei um bocadinho. Os exames coincidiram com estágios, torneios fora, enfim. Eu até tive de pedir ao FC Porto uma vez para faltar a um torneio e poder fazer um exame. As pessoas ficaram surpreendidas, mas expliquei que queria deixar a minha vida resolvida e entrar na faculdade. Hoje já mais tolerância e as pessoas percebem que é importante finalizar os estudos. Eu apanhei o início disso, o FC Porto tinha protocolos com algumas escolas. Além da média alta, também tive o estatuto de atleta de alta competição, por ter estado num Mundial de sub20 e em dois Europeus.

MF – Os seus colegas do FC Porto sabiam que o Tozé era tão bom aluno?

T – Sabiam porque andávamos na mesma turma (risos). No nono ano fomos para a mesma escola, no Externato D. Dinis. E depois fizemos três anos na Escola António Nobre. Preferi a escola pública à escola privada, foi bom para nós. Era engraçado ajudarmo-nos mutuamente. Gostava de referir e agradecer publicamente a dois professores que tivemos. A professora Rosária Valério, de matemática, e o professor Carlos Pedro Vasconcelos, diretor de turma durante três anos. Tiveram a capacidade de nos entender. Perceberam que era uma turma de atletas do FC Porto, foi criada a ideia de que íamos partir tudo, que não queríamos saber da escola, íamos aparecer quando queríamos… e foi precisamente ao contrário. Alguns portavam-se mal, claro, mas tivemos também excelentes alunos. O professor Carlos Pedro tinha sido treinador de hóquei e percebia-nos. ‘Eles foram jogar à Madeira no domingo, por isso não podem fazer o teste na segunda-feira’. Ele foi fundamental. Não fomos beneficiados porque os outros alunos tinham o fim-de-semana de folga e nós não. Queria deixar uma palavra a esses professores.

MF – Além do Tozé, quem eram os bons alunos do FC Porto nessa turma?

T – O João Novais [Sp. Braga] era muito bom aluno, o André Teixeira [AEL Limassol] era muito bom aluno, o Rafael Sardinha [deixou o futebol] também era muito bom.

MF – A formação de um futebolista não pode passar só pelo relvado.

T – Não e por isso só posso agradecer ao FC Porto, mas também ao Forjães, ao Vitória de Guimarães, ao Estoril e ao Moreirense. Devo aos meus clubes aquilo que sou hoje.

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