Afonso Figueiredo: «O lateral que rejeitou o Benfica em 2016 está bem vivo» - TVI

Afonso Figueiredo: «O lateral que rejeitou o Benfica em 2016 está bem vivo»

Entrevista ao lateral esquerdo, internacional olímpico e capitão dos avenses na temporada de todas as dificuldades. «Fiz 180 minutos contra o Corona e ele não fez golos nem assistências» - Parte II

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Duas grandes temporadas com a camisola do Boavista na I Liga (49 jogos/1 golo), colocaram Afonso Figueiredo em 2016 no radar dos principais clubes portugueses. O lateral esquerdo, agora com 27 anos e livre após rescindir com o Desportivo das Aves, recebeu uma proposta formal do Benfica, mas optou pelo Rennes e pela Ligue 1. 

Quatro anos depois, e em entrevista ao Maisfutebol, Afonso reflete sobre as opções tomadas, sobre o regresso a Portugal pela porta do Rio Ave e sobre os desafios que o futuro ainda lhe trará. É um jogador livre, no auge e já com uma bagagem carregada de grandes experiências. 

Afonso lembra também os duelos bem sucedidos contra Jesus Corona e a noite em que teve de parar Cavani, Draxler e companhia num Rennes-PSG. Um comunicador de excelência que transportou a braçadeira de capitão do Aves ao longo de uma época duríssima.


PARTE I: «No Aves nunca recebi um salário ao dia certo»

Maisfutebol – No verão de 2016, o Afonso era o lateral da moda, se nos permite a expressão. Fez uma grande época no Boavista, chegou à seleção olímpica e saltou para a Ligue 1. Esse jogador ainda existe?
Afonso Figueiredo – Sim, sim. Lembro-me bem dessa altura. Nos momentos mais tristes desta época no Aves, via os vídeos desses tempos e percebia que sou exatamente o mesmo jogador. Tenho a certeza que esse jogador está aqui e está com muita vontade de render tanto ou mais do que na época 2015/16. O contexto que o rodeia, pelo menos na época que agora acabou, é que é diferente. Não desaprendi, não desapareci e sei que há muita gente a acreditar no meu valor. Não fiz até agora a carreira que esperava fazer em 2016, também em virtude das opções que tomei, mas estou muito a tempo de fazer grandes temporadas. Tenho a certeza de que voltarei a ser falado por bons motivos e mereço que isso aconteça, por tudo o que passei no último ano. Vou tentar chegar onde não cheguei quando até parecia mais fácil.

A sua estreia pelo Rennes foi contra o PSG e fez logo uma exibição muito elogiada.
Correu-me bem, sim. Estive muito tempo à espera e joguei a titular contra o PSG no jogo também de estreia do Gonçalo Guedes [1 de fevereiro de 2017]. Cavani, Lucas Moura, Draxler, foi um jogo fantástico. Sou sincero, estava com muito medo. Até ao apito inicial, acho que pensei na minha vida toda e no que passei até chegar ali. O Boavista no CNS, o Boavista na I Liga, a minha estreia contra o Arouca no campeonato e, de repente, ali estava entre os melhores. Contra uma das melhores equipas do mundo. Desfrutei muito desse jogo, senti-me num conto de fadas. É isso que quero voltar a sentir. Fiz tudo para estar ali, perdemos, mas o jogo foi fantástico.

No relvado é possível sentir que esses adversários são, de facto, diferentes?
Em Portugal já sentia que nos jogos contra o FC Porto e o Benfica não podia ter um instante de desconcentração. Ali, contra o PSG, senti que um suspiro diferente podia deitar tudo a perder. São especiais, têm algo de diferente. A qualidade deles é impressionante e nós tínhamos uma equipa muito boa no Rennes.

Nesse jogo ainda não estava o Neymar.
Não, o Neymar chegou na época seguinte e eu, felizmente, fiquei no banco nesse jogo contra PSG (risos). O resultado foi muito pesado [6-1]. Os brasileiros que defrontei no PSG foram o Lucas Moura e o Dani Alves. Pedi a camisola ao Lucas ao intervalo e depois entrou o Gonçalo Guedes. Pensei também pedir-lhe a camisola, mas não queria parecer uma criança e chegar ao balneário cheio de camisolas do PSG (risos). Fiquei só com a do Lucas Moura. Ele foi um adversário incrível.

Em 2016 escrevemos que o Benfica também estava interessado em si. Confirma que foi assim?
Sim, esse interesse existiu e a proposta chegou-me através de outro empresário, não através do meu. A minha primeira reação foi aceitar e ir para o Benfica, porque sempre tive o sonho de jogar num grande do futebol português. O Benfica apareceu, mas já antes em 2015 tinha havido a possibilidade de ir para o Sporting. Com a saída do Marco Silva e a entrada do Jorge Jesus, essa possibilidade caiu. O interesse do Benfica foi real, a minha vontade de ir para lá também, mas decidi com os meus empresários e optei pelo Rennes e a Ligue 1. Não me arrependo, adorei ter estado lá e essa decisão foi boa.

Rejeitou o Benfica em 2016 e agora é um lateral livre.
Certo, certo. Nós temos sempre sonhos… quando decidi voltar a Portugal, em 2018, talvez me tenha precipitado. Estava num grande clube, ainda com um contrato longo, mas voltei porque sentia que podia chegar a um grande do meu país. Infelizmente, as coisas no Rio Ave não me correram como eu queria. Quero voltar a ser feliz a jogar e isso só acontecerá indo para um bom projeto, onde acreditem no meu valor. O resto, o meu valor, está cá. E melhorado. Sou um jogador livre e com ambição para agarrar as oportunidades. Mesmo este ano fui capaz de fazer bons jogos e digo sempre que fui dos poucos a parar o Jesus Corona em dois jogos: zero golos, zero assistências (risos). E ele é um extraordinário jogador, extraordinário, faz de tudo contra todas as equipas. Fiz dois bons jogos diante do FC Porto.

Nesse 2016 também chegou à seleção e esteve perto dos Jogos Olímpicos.
Demorei a concretizar esse sonho, porque nunca tinha jogado nas seleções jovens. Só joguei nas seleções da AF Lisboa e fui treinar às seleções nacionais quando tinha 14/15 anos. Faltava-me estar em campo, vestir a camisola e ouvir o hino nacional. Joguei 30 minutos contra o México e nesse dia [28 de março de 2016] cumpri um sonho de criança. Conheci melhor o grande Bruno Fernandes, voltei a trabalhar com os misters Rui Jorge e Romeu, reencontrei a malta que esteve comigo na formação do Sporting. Essa geração de 93/94/95 é fantástica.

Não foi aos Jogos Olímpicos por imposição do Rennes?
Essa é uma das minhas maiores tristezas. Tínhamos uma competição fantástica no Brasil, uma montra incrível e o meu telefone tocou. Era o mister Rui Jorge a saber da minha disponibilidade para ir aos Jogos. Foi uma felicidade enorme. Fui falar com o meu treinador do Rennes e a resposta que ele me deu foi negativa. Os clubes não eram obrigados a libertar os atletas para os Jogos e ele entendeu que eu devia fazer a pré-época completa, até porque estava a chegar ao clube. Nesse dia só me faltou chorar à frente do mister Gourcouff. Queria mesmo ir aos Jogos, teria sido ótimo para mim. Esse sonho foi-me negado, mas tive de compreender. O Rennes tinha acabado de me contratar, queria integrar-me e isso também me mostrou que contavam comigo.

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