Boa Morte: «Percebo de eletricidade e ainda saberia reparar motores» - TVI

Boa Morte: «Percebo de eletricidade e ainda saberia reparar motores»

Boa Morte

Entrevista a Luís Boa Morte - Parte 2

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Nesta segunda parte da entrevista, Boa Morte recorda as origens: desde a Margem Sul do Tejo ao gigante do norte de Londres.

Recordemos o seu início de carreira como futebolista. Onde começou a jogar à bola?

Comecei nas Cavaquinhas, depois fui para os infantis do Arrentela. Primeiro vivi nas Paivas, ao pé do Fogueteiro, na Margem Sul, e depois na Arrentela.

O que faziam os seus pais?

O meu pai era alfaiate e trabalhava nos cruzeiros, a minha mãe era cozinheira no ministério das Finanças. Esteve quase 20 anos lá.

Em criança já sonhava ser futebolista?

Como miúdos temos sempre sonhos...

Sim, mas quando teve noção de que podia ser profissional de futebol?

Fui dispensado do Sporting por ser pequenino, depois fui para o Cova da Piedade e estive lá três anos. Voltei ao Sporting para os sub-17 e, aí sim, pensei que estar mais próximo de ser futebolista.

Se não fosse futebolista, teria sido o quê?

Deixei de estudar aos 14 anos. Comecei a trabalhar no verão, a ter o meu dinheirinho e já não estudei mais. Fui para uma empresa de reparação de motores de máquinas de lavar louça, depois fui para ajudante de eletricista com o meu irmão…

De eletricidade ainda percebe alguma coisa?

Sim, sim [risos] E se fosse para a fábrica acredito que ainda conseguiria também fazer o processo de reparação de motores. Nunca fui de ficar parado e de estar à espera que aconteça. Mas não sei se em termos profissionais seguiria por aí.

A escola ficou demasiado cedo um bocadinho de lado, não?

Um bocadinho, não. Totalmente. Trabalhava, treinava e estudava à noite. Algo teria de ficar para trás, porque o cansaço era enorme. De manhã ia trabalhar, saía do trabalho e ia treinar no Cova da Piedade das 19h às 20h30 e depois ia estudar das 21h às 23h. Fiquei com o 8.º ano incompleto.

Foi a prestação no Torneio de Toulon (em 1998) que acabou por levá-lo do Lourinhanense para o Arsenal, certo?

Dessa equipa do Lourinhanense, que era satélite do Sporting, fomos seis ou sete a Toulon. O próprio Arsène Wenger estava lá a observar e recomendou a minha contratação.

É verdade que até então não ia à seleção porque não sabiam que era português?

Pensavam que era estrangeiro. Os meus pais são de São Tomé e Príncipe, mas nasci em Lisboa. Havia essa falta de conhecimento por parte da Federação. Até que o Carlos Dinis, meu treinador no Sporting, perguntou ao Rui Caçador porque é que eu nunca era convocado para a seleção. E ele respondeu: «porque é estrangeiro.» Então, esclareceram-no que não era assim e eu passei a ser convocado.

Essa foi a porta de entrada para ir para Inglaterra.

Foi via seleção sub-20. Se não fosse à seleção não sei qual teria sido o meu caminho.

PARTE 1: «Tiago Fernandes? Partilhámos o mesmo metro quadrado mas não conversámos»

PARTE 3: «Saí da Lourinhã para treinar com Bergkamp... Parecia um sonho»

PARTE 4: «Homenagem em Alvalade? Fiquei sentido pelo meu filho»

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