Zeca: «Na Grécia era duro, os adeptos obrigavam-nos a parar o treino» - TVI

Zeca: «Na Grécia era duro, os adeptos obrigavam-nos a parar o treino»

Entrevista ao médio português, internacional pela Grécia - parte IV

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A dois dias do regresso à competição com o FC Copenhaga, Zeca abre a porta ao Maisfutebol e recorda a longa ligação aos gregos do Panathinaikos. O médio de 31 anos foi capitão do gigante de Atenas e enverga também a braçadeira no emblema nórdico.

Nado e criado na Amadora, o internacional helénico fala opção pela seleção de Vlachodimos e Samaris e considera que foi o melhor para a sua carreira. «Se fosse chamado alguma vez por Portugal, acho que a minha passagem ia ser muito curta.»

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Mantém a intenção de acabar a carreira no Panathinaikos e de ficar a viver em Atenas?
A vida vai mudando e hoje em dia já não posso dizer isso. Tenho a minha filha e o resto da família em Portugal. Estou há nove anos fora do país e estou há quatro sem viver com a minha filha. Estou longe dela. O que quero agora é acabar a carreira, voltar para Portugal e desfrutar da minha menina, da minha mãe, do meu irmão e dos meus amigos. Se pudesse viver com a minha filha na Grécia, ficaria em Atenas. Mas assim não, hoje penso em voltar a casa.

O Zeca apanhou um Panathinaikos cheio de problemas. Foi por isso que decidiu sair ao fim de seis épocas?
Foi isso e uma questão de oportunidade. O clube precisava de dinheiro e qualquer venda era bem-vinda. A proposta do Copenhaga para mim era superior, vimos que era bom para ambas as partes e fechámos isso. Demorei muito tempo a decidir porque estou muito ligado emocionalmente ao clube. É o meu clube. Em Portugal fui sempre do Sporting, mas hoje vejo o Panathinaikos como o meu clube, mais do que o Sporting. Foi o clube onde fui mais feliz a jogar, senti-me mesmo parte dele. Isso fez-me tomar essa decisão. O meu salário era um dos mais elevados e tomámos a decisão em conjunto.

O Panathinaikos tem adeptos efervescentes, para o bem e para o mal. Como era a sua ligação com eles? 
Sempre tive um grande apoio dos adeptos e nas alturas em que as coisas corriam mal eu era um dos poupados. Eu mais três ou quatro. Era o capitão de equipa e tinha de lhes dar respostas, mostrar-lhes que havia intenções de mudança. Houve momentos mesmo tensos, muito mesmo. Fui-me tentando meter na pele deles. Estavam habituados a ganhar e agora entendem que há problemas no clube. O que não entendem é não ver o jogador a não dar tudo. Se correres e lutar, se saíres todo rebentado, eles aplaudem. Acho que sempre viram isso em mim, diziam que eu era um guerreiro e nunca me dava por vencido. Quando sentiam que não havia atitude…

Visitavam a academia?
Sim, sim. Tive situações difíceis. Estávamos a treinar, eles entravam e paravam o treino para falar connosco. Houve alturas em que as coisas estavam a pegar fogo, mas chegava alguém com o extintor (risos). Foram momentos complicados, sabíamos que na Grécia é assim. Nunca passou da conversa mais acesa para a agressão, mas era duro.

Qual é o estado atual da situação grega, quais os objetivos?
Estamos numa fase de mudança. Temos um treinador jovem, holandês [John van’t Schip], que trouxe essa vontade de jogar bom futebol. Para a qualidade que temos, podíamos e devíamos fazer mais. Com este treinador e com a atual direção as coisas têm vindo a melhorar. Acho que o futuro vai ser risonho.  

No balneário grego ainda o chateiam com a final do Euro2004?
Na minha primeira concentração com a seleção brincaram comigo, claro. ‘Agora viraste grego para dizer que não perdeste o Europeu em casa!’. E eu lá lhes dizia que não deixei de ser português. Defendo as cores gregas como defenderia as de Portugal, isso sim. Mas como Portugal ganhou o Euro2016 eu deixava-os sempre sem resposta: ‘Eu já ganhei dois Euros por duas seleções, tu só ganhaste um’. No início no Panathinaikos é que ficava chateado com isso. Tinha lá o Seitaridis, o Karagounis, o Katsouranis e eles não me poupavam.

Onde é que viu a final entre Portugal e a Grécia de 2004?
Em casa de um vizinho meu na Amadora. Tínhamos tudo preparado para ir celebrar até ao Marquês. Para nós não havia hipóteses de perder. Ver aquela festa toda antes do jogo, o trajeto do autocarro até à Luz, os barcos no Tejo, uma coisa incrível. ‘Isto só pode dar em vitória, não pode dar em mais nada’. E lembro-me de chorar no fim, muito.

Passados 16 anos, o Zeca veste a camisola grega.
A vida é impressionante, dá voltas e voltas. Esse jogo marcou-me tanto… era um jovem com a ambição de ser profissional de futebol, de representar Portugal e depois vejo-me a jogar com a camisola do país que nos ganhou o Europeu em casa. São coisas que não dão para explicar, a vida dá-nos estas coisas boas.

Antes de optar pela seleção da Grécia, nunca teve um contacto da FPF?
Não, nunca houve nenhum contacto. No único contacto que tive com a FPF ainda estava no Vitória de Setúbal. Fui internacional sub23. A partir daí nunca mais tive nenhum contacto. Foi a melhor opção para mim. A Grécia diz-me muito e eu digo-lhes muito. Acredito que tenho qualidade, mas sei ver as capacidades dos outros e como jogam. Se fosse chamado alguma vez por Portugal, acho que a minha passagem ia ser muito curta. Há muita qualidade para a minha posição, gente em grandes clubes europeus. Achei que tinha mais oportunidades para me afirmar na seleção da Grécia.

Em Portugal vimo-lo como avançado e extremo. No Copenhaga está a jogar em que posição?
Agora até sou mais um ‘6’ do que ‘8’. Jogámos com dois no meio-campo e no Panathinaikos também. Sou o médio que passa dez metros do circulo central e chega. O meu ponto forte é a reação à perda da bola, ganho muitos duelos e consigo matar muitos contra-ataques. Jogo ao lado de um médio incrível, o Rasmus Felk, dámo-nos muito bem. Ele vai e eu fico, ou o contrário. Participo mais no início da construção e esta é a posição adequada para mim. No Casa Pia e no Vitória não tinha uma posição enraizada. Cheguei a ser ponta-de-lança no Vitória e eu não faço golos a ninguém (risos). No Panathinaikos comecei a ser médio e agora posso dizer que sou médio defensivo.

Ainda se imagina a estar numa caderneta do Mundial ou do Europeu?
Imagino-me, tenho mais uma oportunidade. Acredito que posso estar no Mundial do Qatar em 2022. Vou conseguir esse objetivo. Se não conseguir, vida para a frente. Gostava de ter a Grécia num Mundial, há qualidade para isso. 

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