Óliver: «Na última noite no Porto fui sozinho para a Ponte D. Luís e chorei» - TVI

Óliver: «Na última noite no Porto fui sozinho para a Ponte D. Luís e chorei»

  • Sérgio Pires
  • Ciudad Deportiva José Ramón Cisneros Palacios, em Sevilha
  • 13 dez 2019, 00:03

Entrevista de Óliver Torres ao Maisfutebol - Parte I

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«Fizeram 750 quilómetros de carro para aqui chegar? Então, tem de valer a pena.»

Óliver Torres recebe-nos na cidade desportiva do Sevilha FC depois do treino da manhã. Pede para responder em português naquela que é a sua primeira entrevista para um órgão de comunicação nacional desde que saiu do FC Porto, em julho, a troco de 12 milhões de euros.

Sentado numa das cadeiras da bancada coberta do miniestádio Jesús Navas, o médio espanhol de 25 anos fala dos quatro épocas no FC Porto e na despedida emocionada, na transferência que durou mais de um mês a concretizar-se e que teve a influência de Julen Lopetegui.

Fala também da relação com Sérgio Conceição, dos conselhos do amigo Iker Casillas e até de João Félix, que atualmente assume um papel que bem conhece: o de jovem prodígio do Atlético de Madrid.

Bem-humorado, Óliver responde a tudo de cabeça levantada, tão esclarecido como se estivesse em campo com a bola nos pés.

Da carreira ao lado mais pessoal, recuando até às suas origens numa família humilde em Navalmoral de la Mata.

No final, deixa uma mensagem para os portugueses e em particular para os adeptos portistas, dos quais apenas se havia despedido numa publicação nas redes sociais. E deixa um agradecimento ao Maisfutebol: «Obrigado por se terem lembrado de mim.»

Ora essa, valeu bem a pena.

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*Repórter de imagem: Tiago Tavares

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MAISFUTEBOL: Monchi, diretor desportivo do Sevilha, confessou que a sua contratação ao FC Porto [no defeso] durou um mês, um mês e meio. Como viveu esse período? Foi uma angústia?

ÓLIVER TORRES: As negociações nunca são fáceis. Eu continuava a trabalhar bem no FC Porto e sabia da possibilidade que tinha para poder vir para aqui. Falei com o mister [Lopetegui], com o diretor desportivo [Monchi, na foto], expliquei-lhes qual era a minha posição. No final, creio que todos chegámos a bom porto e que todas as partes ficaram contentes.

É verdade que chorou ao trocar o FC Porto pelo Sevilha?

Foi emotivo. Na última noite que passei no Porto, antes de voar para Sevilha, fui sozinho à Ponte D. Luís. Lá no cimo, a olhar toda a cidade, refleti sobre toda a minha passagem pelo Porto, pela gente maravilhosa que conheci, pelos bons momentos que vivi… E vieram-me as lágrimas aos olhos. Também de alegria por ter conhecido uma cidade e um clube tão especial, que levo para toda a vida, ao qual devo muito e que me deu a oportunidade de ser feliz a fazer o que mais gosto.

Foi sozinho a pé, para o tabuleiro superior da Ponte Luís I, ver a cidade à noite e chorou. É quase poética essa imagem.

Queria estar ali sozinho a refletir sobre os bons e os maus momentos. Saí do Porto sendo melhor jogador, melhor pessoa, tentando sempre ser um bom profissional. Fiquei orgulhoso de tudo o que vivi.

Houve um misto de sentimentos: tristeza por sair, mas também alegria por abraçar um novo projeto?

Não era fácil para mim sair. Já tinha um certo estatuto no FC Porto, tinha os meus colegas, as minhas rotinas. Era como a minha casa, a minha família. Quando vais para longe, é difícil. Por outro lado, a vida são experiências. O Sevilha era uma boa oportunidade para mim e agarrei-a com muita vontade e ambição.

Julen Lopetegui também foi importante nessa decisão?

Claro que foi. Já me conhecia e sabia o que podia tirar de mim. Eu sabia que a exigência era máxima aqui. Também é um clube que luta por tudo. Eu estava preparado para lutar, para competir com os meus colegas por um lugar e continuar a ser feliz com aquilo que faço.

Pode dizer-se que é o treinador que melhor entende o seu futebol?

É um treinador que potencia as minhas características como jogador. O seu sistema de jogo e a sua filosofia enquadra-se comigo.

O Óliver é uma espécie de menino querido do Lopetegui?

Depende. É bom ter a confiança de um treinador que te conhece, mas essa confiança tem de ser ganha. Por muito querido que seja, se não devolver esse carinho e exigência com trabalho, bom comportamento e rendimento, no final, de nada serve. Tento retribuir sempre o que me dão. Se me dão carinho e exigência, retribuo. Mas não é só com Lopetegui, é com toda a gente, no meu dia a dia: colegas, família, namorada…

Recuperou a alegria de jogar aqui em Sevilha?

Nunca sabemos se as mudanças são para melhor. Sabemos que vai ser diferente. O meu primeiro golo aqui foi uma meia bicicleta em que a bola bateu no poste e entrou. Se calhar, no FC Porto batia no poste e ia para fora. Vim para cá com uma grande ambição e isso transmite-se na hora de jogar. Estou muito contente, mas também digo: durante todas as épocas em que estive no FC Porto, tanto nas que joguei mais como nas que joguei menos, melhorei muito. Hoje, isso reflete-se em campo.

 

Na Liga Espanhola, o Sevilha está perto de Barcelona e Real Madrid [agora a três pontos]. É possível sonhar com o título?

Sempre que há sonho, há esperança. Sabemos que Barça e Real Madrid são equipas de outro nível, mas não na ambição, motivação e trabalho. Não há limites. Temos de trabalhar a cada dia porque cada jogo é muito difícil de ganhar.

Na Liga Europa, o Sevilha já está qualificado para a próxima fase. Gostaria de encontrar o FC Porto lá mais para a frente?

Sigo muito o FC Porto. Sempre: Liga Portuguesa, Taças, Liga Europa… Claro que seria bom voltar ao Dragão e jogar lá contra uma equipa e contra uns adeptos dos quais gosto tanto. Seria como um jogo contra os meus irmãos, mas para ganhar.

Um reencontro cheio de emoções.

Muito. Jogar no Dragão era algo maravilhoso. O que significava jogar pelo FC Porto era mágico. Voltar, mesmo como rival, seria uma alegria enorme.

Que relação tem com os portugueses do Sevilha? Daniel Carriço, Rony Lopes… E não só, também alguns estrangeiros que já passaram por Portugal [Fernando, Gudelj, Nolito, Diego Carlos…].

Todos nos damos bem no balneário. Estamos sempre a tirar partido pelo Benfica, pelo FC Porto, pelo Sporting… Eu quero que ganhe o FC Porto, claro, e espero no final da época estar a festejar e a brincar com eles à custa disso.

Em português?

Em português, claro. Sempre. [risos]

Tem, portanto, acompanhado de perto o campeonato português.

Gosto muito de ver futebol. Para lá disso, tenho lá amigos como o Marcano, o Iker [Casillas], o Alberto [Bueno], que está no Boavista. Passei quatro anos em Portugal e é um campeonato que tento acompanhar.

Quando saiu do FC Porto deixou um testemunho sentido no seu Instagram para os adeptos do FC Porto. Nesta primeira entrevista para Portugal desde a sua saída há alguma mensagem que lhes queira deixar a viva voz?

[Vira-se para a câmara] Falo primeiro para todos os portugueses que me acolheram a mim e à minha família. Fomos muito felizes graças a vocês, por todo o carinho e ajuda que nos deram. Agora, para o clube, para todos os adeptos, quero agradecer. Foi um privilégio, um orgulho, uma a alegria e uma honra enorme poder vestir a camisola do FC Porto, poder conquistar o campeonato convosco e sentir a mística do dragão. Guardo um carinho especial por vocês. Sabeis que sou mais um adepto do FC Porto aqui em Espanha e espero que sejamos campeões este ano. Muito obrigado pelos anos que aí passei. Muita alegria e saúde para todos.

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