O «Tacuarita» que prometeu à mãe viver da bola - TVI

O «Tacuarita» que prometeu à mãe viver da bola

Vitória Guimarães-Moreirense

Marcou em Alvalade o sexto golo da época. O avançado do Moreirense vai na terceira aventura em Portugal e aos 28 anos sonha ainda chegar à Liga dos Campeões. Sabe de onde vem a alcunha «Tacuarita»?

É paraguaio e perigoso; pelo menos já marcou seis golos esta época ao serviço do Moreirense. A última vítima de Cardozo, do Ramón, foi o Sporting. Gelou Alvalade com o cabeceamento certeiro que fez Rui Patrício ir ao fundo das redes buscar a bola. Não foi suficiente para carimbar o triunfo, mas ainda assim fica na história como o primeiro ponto conquistado pelo Moreirense no terreno de um dos grandes do futebol português.
 
«Uma sensação muito boa». É assim que Ramón Idalécio Cardozo descreve o momento em que marcou ao Sporting em conversa com o  Maisfutebol. Foi o mote para uma viagem que tem passagens por Penafiel, Setúbal e posteriormente Guimarães. Pelo meio há o regresso ao Paraguai e a alcunha que herdou do ex-avançado do Benfica Óscar Cardozo.


Comecemos pelo presente e pelo tal golo aos leões. Cardozo não tem dúvidas da relevância e da visibilidade que tal feito lhe traz, mas ainda assim preferia o triunfo. «É importante marcar a uma equipa grande, foi especial porque queríamos ganhar esse jogo e os três pontos. Lamentavelmente não conseguimos ganhar, mas o empate deu-nos mais um ponto para os nossos objetivos», assegura o avançado.


A história de Cardozo em Portugal começa, contudo, bem antes. Há sete anos, no mercado de inverno, o jovem Ramón Cardozo cruzou o Atlântico em busca do sonho comum a muitos outros meninos sul americanos. Um sonho que mete bola e europa. De tal modo que em criança fez uma promessa à mãe. «Quando era mais novo dizia à minha mãe que não ia trabalhar e que tinha de viver do futebol», confidenciou Cardozo ao nosso jornal.
 
Saudades em Penafiel e alcunha «Tacuarita»
 
Trocou o Tacuary, clube no qual se estreou na primeira divisão do seu país aos 18 anos, por uma aventura na segunda divisão portuguesa, no Penafiel. Atuou em apenas sete partidas da II Liga e as redes só abanaram uma vez com o seu cunho.
 
As saudades da família foram o principal motivo da passagem mal sucedida pelo clube duriense. «Penso que estar longe da família foi o que falhou, tinha muitas saudades e só queria voltar para perto deles. Também não era tão maduro nem tinha tanta experiência, enquanto futebolista e enquanto pessoa. Foi a primeira vez que saí do meu país», recordou.
 
Depois da curta passagem pelo Penafiel regressou ao seu país e ao clube de onde tinha partido antes de vir para Portugal, o Tacuary. Disputou a Taça Sul Americana e foi aí que recebeu a alcunha de «Tacuarita», de um jornalista.
 
«Estava a jogar no Penafiel quando o Óscar Cardozo, o «Tacuara», estava a jogar no Newells Old Boys da Argentina. Depois voltei ao Paraguai ainda a tempo de disputar a Taça Sul Americana. Jogamos contra uma equipa uruguaia e o comentador desse jogo era o conhecido jornalista argentino Fernando Niembro, que me considerou a figura do jogo e disse que tinha parecenças com o Óscar. Como ele era maior e tinha mais experiência, chamou-me Tacuarita», conta o jogador natural de Assunção.
 
De Setúbal a Moreira de Cónegos, sem parar em Guimarães
 
Passaram-se sete anos. A alcunha «Tacuarita» ficou para sempre. O rapaz que havia deixado o Paraguai para jogar em Portugal cresceu e regressou à «ocidental praia lusitana», desta feita para representar o V.Setúbal. Pelo meio passou por três clubes paraguaios e por uma aventura no Peru.
 
Na época passada marcou oito golos em 26 jogos com a camisola dos sadinos. Cardozo lamenta as lesões que lhe atormentaram a época em Setúbal. «Estava bem, a passar por um bom momento e a fazer golos até ser sujeito a uma intervenção cirúrgica ao menisco», argumentou.
 
No final da época teve de se apetrechar de armas e bagagens para regressar ao Tacuary, clube detentor do seu passe. Partiu com o desejo de um regresso imediato. Foi associado ao Vitória de Guimarães, o acordo até foi dado como consumado e efetivamente foi parar à Cidade Berço, mas para representar o Moreirense.
 
«Houve a possibilidade de jogar no V.Guimarães, mas por razões financeiras não chegámos a acordo. Depois disso tive uma proposta muito boa e muito sedutora do Moreirense; optei por vir para Moreira de Cónegos», acrescentou.
 
Feliz em Moreira e com o sonho da Champions
 
A época ainda não chegou a meio e Cardozo já leva seis golos. Três na Liga, dois na Taça da Liga e um na Taça de Portugal. Se nada de anormal acontecer deverá ultrapassar a meta estabelecida em Setúbal e registar o maior número de golos numa época em Portugal.
 
O «Tacuarita» não se mostra muito preocupado com isso e apenas pensa em ajudar o Moreirense, sem nenhuma meta de golos.
 
«Não tenho nenhuma meta de golos. O essencial para mim é ajudar a manter o Moreirense nesta divisão; espero ajudar, só isso. Estou muito feliz neste clube, Tenho tentado trabalhar para mostrar em cada treino o meu valor como jogador», diz Ramón Cardozo deixando agradecimentos ao presidente Vítor Magalhães, à equipa técnica, aos companheiros e também à sua família.
 
Com contrato até ao final da época, pelo menos para já, Ramón Cardozo não faz grandes planos para o futuro. Fez questão de referir várias vezes a intenção de ajudar o Moreirense, «clube muito organizado e correto», a manter-se entre os grandes do futebol português.
 
Depois, logo se vê. Mas, os sonhos passam por jogar na Liga dos Campeões. «O meu sonho é continuar a marcar golos. Na próxima época, se sair daqui, gostaria de jogar numa equipa grande, que jogue na Champions ou na Liga Europa. Estou a trabalhar para isso e para melhorar a cada dia».
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