«Nós, portugueses, não gostamos de trabalho» - TVI

«Nós, portugueses, não gostamos de trabalho»

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Vice-presidente da Hovione acredita que o trabalho «nos liberta da pobreza». E diz que «o problema» não está nos ricos

O vice-presidente da Hovione saltou para a ribalta quando, numa conferência em que José Sócrates conversava com empresários, conseguiu irritar o ainda primeiro-ministro com uma curta intervenção. Agora, numa entrevista ao jornal «i», queixa-se que os portugueses «não gostam de trabalho» e que «só nos lembramos dos ricos para cobrar impostos».

«Nós, por questões religiosas, não gostamos de trabalho. O trabalho foi o castigo por Adão e Eva terem cometido o pecado original (...) Existe numa grande parte da nossa sociedade a ideia de trabalhar o menos possível. Safar-me ao trabalho, sempre que possa. Mas o trabalho liberta-nos da pobreza», afirmou Peter Villax, que propõe que se aumente a semana de trabalho, em vez de reduzir a Taxa Social Única.

Para o responsável desta multinacional com sede em Portugal, os aumentos de impostos para os mais ricos não são a solução. «Estou farto desta demagocia. Os ricos não são o problema, os pobres é que são o problema! É com os pobres e com a pobreza que temos de acabar, não é com os ricos!»

Villax sugere mesmo baixar as taxas de IRS e IRC aos mais ricos «em troca da criação de empregos novos». «Só nos lembramos dos ricos para cobrar impostos», lamenta.

Para o vice-presidente da Hovione, «Portugal convive mal com questões de riqueza». «Quando as nossas publicações falam sobre as pessoas mais ricas do país é para mostrar que os índices de desigualdade são cada vez maiores. O que é verdade, e é um problema que temos de atacar. Mas não é pelos ricos serem mais ricos, é por os pobres não enriquecerem», reforça.

Aos pobres, reconhece apenas um poder. «A grande fraqueza do capitalismo é que não se preocupa com questões sociais (...) É isto que provoca os motins em Londres. Uma parte da população que não tem nada a não ser problemas e só tem um direito, o poder de fazer a revolução. E, periodicamente, fá-la», avisa.

Peter Villax deixa ainda um recado para os seus colegas: «O empresário português é um privilegiado, porque a sociedade exige-lhe muito pouco. Exige-lhe só, e cada vez mais, que pague os seus impostos, mas não lhe exige que gere riqueza.»
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