Sociedade deve ter papel mais ativo nas decisões sobre cancro - TVI

Sociedade deve ter papel mais ativo nas decisões sobre cancro

Cancro (REUTERS)

Estudo revelou ainda que os portugueses querem mais investimento no cancro, mas metade não está disponível para descontar mais

Mais de metade dos portugueses defendem maior participação da sociedade nas decisões públicas sobre cancro, mas apenas um terço está disponível para tal, pois a grande maioria considera-se incapaz, segundo um estudo a que a agência Lusa teve acesso.

Com base num inquérito realizado em novembro pela GFK junto de mais de 1.200 portugueses, o estudo, que será hoje divulgado no Think Tank Inovar Saúde, pretendeu avaliar as perceções dos portugueses sobre o cancro e revelou que 52% acreditam que a sociedade deve ter um papel mais ativo nas decisões públicas sobre cancro.

Os portugueses consideram ainda que são pouco ouvidos em questões de saúde e em particular sobre o cancro: apenas 10% responderam que “os cidadãos são muito ouvidos”, enquanto 23,8% consideram que são “medianamente ouvidos” e 55% que “não são, de todo, ouvidos”.

No entanto, quando questionados sobre a sua disponibilidade para ter um papel mais ativo na tomada de decisões, apenas um terço se mostrou pessoalmente disponível.

Entre as formas de participação possível, quem respondeu ao inquérito apontou a possibilidade de dar a sua opinião e de ser ouvido, ter maior acesso a informação e ter uma postura mais ativa.

O mesmo estudo mostra que apenas um terço dos portugueses gostaria de participar de forma mais ativa na distribuição do orçamento para a saúde, os restantes dois terços admitem não ter conhecimentos suficientes para o fazer.

Quando questionados concretamente sobre como gostariam de participar, o caminho passa por uma maior representatividade dos cidadãos.

A possibilidade mais escolhida foi a da constituição de grupos públicos de defesa, logo seguida pela criação de um “provedor do doente com cancro” e de um reforço do poder das associações de doentes.

Os inquiridos defendem também mais consultas públicas relacionadas com decisões na área da saúde.

Estas conclusões vão ao encontro das do grupo de peritos convidados pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) para tentar identificar “os velhos e novos desafios” do cancro.

O estudo da ENSP considera que é necessária mais participação dos cidadãos nas decisões públicas sobre doenças oncológicas, mas reconhece que para isso é necessário disponibilizar-lhes mais informação e formação adequada.
 

Portugueses querem mais investimento no cancro


Quase todos os portugueses querem mais investimento no cancro, mas metade não está disponível para descontar mais e, se tivessem que o fazer, a maioria preferia que o dinheiro fosse para um “fundo pessoal” e não para ajudar outros.

Sobre o financiamento das doenças oncológicas, 59% dos portugueses têm a perceção de que na área da saúde é o cancro que recebe maior investimento e concordam que esta deve ser a prioridade: 84% defendem mais investimento e 74% consideram que as verbas existentes para a oncologia são “insuficientes”.

Nessa medida, foram questionados sobre a possibilidade de descontarem mais para essa área e metade recusou, alegando que tem “pouco dinheiro disponível” (49%) ou que já desconta muito (41%).

Apenas um terço admitiu poder pagar mais para o cancro, mas, destes, só 15% se mostrou “muito disponível” para descontos adicionais, apresentando como prioridade “ajudar os doentes”.

Na eventualidade de terem mesmo que descontar um valor adicional para oncologia, a maioria defendeu que esse dinheiro servisse como uma espécie de fundo pessoal, em que o dinheiro fosse aplicado no próprio tratamento, em caso de desenvolver a doença.

As outras hipóteses de investimento defendidas foram a modernização das instalações e equipamentos atuais, o aumento do número de médicos nos departamentos de oncologia, mais recursos para acelerar a introdução de tratamentos inovadores e para a investigação.

O estudo demonstra que o investimento no cancro é considerado prioritário pelos portugueses, por ser a doença mais temida (71%), à frente das doenças cardiovasculares, que são as que efetivamente mais matam em Portugal.

As elevadas taxas de prevalência e mortalidade, bem como o caráter “cego” da doença, são as razões que contribuem para esta perceção e também para a vontade manifestada pelos inquiridos de saberem mais sobre prevenção (69%), sintomas (51%) e tipos de tratamento (47%).

No que diz respeito ao tratamento do cancro e ao acesso a cuidados de saúde, o estudo demonstra que os portugueses consideram que o setor privado é globalmente melhor do que o público.

No entanto, dos 25% dos inquiridos que tiveram cancro ou acompanharam uma pessoa com a doença, 86% foram seguidos exclusivamente no serviço público e apenas cinco no privado.

O principal motivo para escolha do hospital publico foi a falta de dinheiro para o privado, enquanto quem escolhe o privado alega sobretudo a rapidez do serviço.

Ainda assim, há a perceção de que existe qualidade no serviço público (em particular no que respeita às competências dos médicos), mesmo que, ponto por ponto, o privado tenha uma melhor prestação do que o público na avaliação que é feita pelos portugueses que responderam ao inquérito.
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