Polónia: quatro anos à espera para lavar a imagem - TVI

Polónia: quatro anos à espera para lavar a imagem

Polónia-Sérvia (Reuters)

Depois da desilusão de 2012, a jogar em casa, Polónia acredita que pode fazer bem melhor, com uma equipa mais experiente. Não passar o grupo seria um desastre

A ‘Euro 2016 Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos da Europa para lhe apresentar a melhor informação sobre as 24 seleções que vão disputar o Europeu de França. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autor dos textos: Tomasz Wlodarczyk

Parceiro oficial em Espanha: Przeglad Sportowy

Revisão: João Tiago Figueiredo

Durante a qualificação Adam Nawalka, o selecionador, jogou com dois avançados – algo que os antigos treinadores não conseguiram – e Arkadiusz Milik mostrou ser um complemento perfeito para as qualidades de Robert Lewandowski. O novo técnico prometeu dar mais apoio ao avançado do Bayern Munique, no início da qualificação. E funcionou na perfeição, com Lewandowski e Milik a formarem a dupla de avançados mais letal da Europa.

A Polónia já não é uma equipa de contra-ataque e Nawalka coloca grande ênfase na pressão, seja alta ou baixa. É extremamente importante estar perto do adversário e reagir rapidamente. Depois de perder a bola, é crucial uma reorganização rápida. «Organização a jogar» é uma das frases favoritas de Nawalka. A Polónia gosta de ter bola: prepara os ataques com cuidado e muitas vezes vai passando a bola até a colocar num extremo que, depois, cruza para a área.

Os laterais têm de correr muito e apoiar muito o ataque. Lukasz Piszczek é perfeito para este estilo porque jogou assim muitos anos no Borussia Dortmund de Jurgen Klopp e, mesmo que agora com Thomas Tuchel tenha mais preocupações defensivas, ainda apoia na frente e produz bons cruzamentos. Enquanto Piszczek estava pronto, Nawalka teve de transformar Maciej Rybus, que era um extremo, num lateral esquerdo, para tentar ter um jogador parecido com o que tinha no flanco oposto. Rybus adaptou-se rapidamente e vem da sua melhor época da carreira, marcando oito golos na Liga russa, pelo Terek Grozny. Contudo, está lesionado e será baixa no Europeu. Deve ser substituído por Artur Jedrzejczyk.

As bolas paradas também são muito importantes e durante a qualificação, a Polónia marcou várias vezes após cantos e livres. Nawalka considera que este é um ponto que pode ser melhorado a curto prazo, durante o estágio.

Grzegorz Krychowiak é muito importante no meio-campo: controla os tempos de jogo mas ainda lhe falta um pouco para ser um playmaker de topo. É algo em que Nawalka está a trabalhar. Krychowiak também sofreu uma lesão antes do Europeu, o que pode tornar-se num problema quando a prova começar.

Onze provável:

4-4-2: Fabianski; Piszczek, Glik, Pazdan, Jedrzejczyk; Blaszczykowski, Krychowiak, Zielinski, Grosicki; Lewandowski, Milik.

ou

4-1-3-2: Fabianski; Piszczek, Glik, Pazdan, Jedrzejczyk; Krychowiak; Blaszczykowski, Zielinski, Grosicki; Lewandowski, Milik.

Polónia em ação frente à Sérvia

Que jogador da Polónia pode surpreender no Euro 2016?

Bartosz Kapustka. Tem muito talento. Teve uma estreia que impressionou, marcando a Gibraltar, e depois deu mais provas nos jogos seguintes. Esteve bem contra a Finlândia jogando no meio campo, com missões ofensivas e defensivas. Mostrou grande coração e caráter. Nawalka ficou deliciado com aquela atuação e até pensa no jovem de Cracóvia como opção para a equipa titular. Tem conseguido um desenvolvimento rápido e já é um alvo de grandes equipas.

Que jogador pode desiludir no torneio?

Jakub Blaszczykowski. Fez um jogo muito bom contra a Sérvia, em março, que praticamente lhe garantiu uma vaga nos convocados. E também é certo que a mão partida de Pawel Wszolek deixou Nawalka com poucas opções para as alas do meio campo. Blaszczykowski fez poucos jogos este ano, em que esteve emprestado à Fiorentina pelo Borussia Dortmund (15 jogos, 760 minutos) e não conseguiu cair no goto de Paulo Sousa em Itália. Tem muita qualidade, técnica e experiência mas o seu momento de forma é um grande ponto de interrogação.

Até onde pode chegar a Polónia e porquê?

Não passar o grupo seria um desastre. Com jogadores de talento como Lewandowski, Krychowiak, Piszczek, Milik ou Glik, a Polónia pode até chegar aos quartos de final. Vai depender muito da forma de Lewandowski na hora do remate e também da forma como a equipa conseguirá lidar com a pressão. Havia grandes expectativas há quatro anos, quando a Polónia coorganizou o torneio, mas a equipa falhou. Ainda há muitos jogadores dessa equipa atualmente, estão mais experientes, mais velhos e com mais sangue frio. Estão, também, mais rodados nos respetivos clubes o que pode ser uma grande vantagem, que, aliada ao surgimento de vários jovens promissores, pode levar a Polónia a conseguir algo especial.

Os segredos dos jogadores

Robert Lewandowski

O avançado do Bayern é extremamente cuidadoso com a sua dieta e está sempre atento a qualquer detalhe nutricional. Come tudo ao contrário, por exemplo, se há três pratos ele começa pela sobremesa, depois o prato principal e por fim a entrada. É, também, um católico devoto e é oriundo de uma família muito ligada ao desporto. O seu pai, Krysztof, que morreu quando Robert tinha 7 anos, foi campeão de judo; a sua mãe, Iwona, e a irmã, Milena, jogaram voleibol na seleção polaca. A sua esposa, Anna Stachurska, foi medalha de bronze no Mundial de Karaté, em 2009.

Lewandowski é a grande figura da Polónia

Kamil Glik

Depois de crescer nos arredores de uma mina de carvão na Silesia, deu à mãe a possibilidade de ter uma casa onde quisesse, mas ela rejeitou, porque tem uma loja naquela zona e não quis deixá-la. Por isso, Glik, que visita a zona regularmente, tem investido lá, construindo um campo de futebol para os locais. Também gosta de pescar.

Grzegorz Krychowiak

Nascido em Gryfice, mudou-se para Bordéus ainda muito jovem e é licenciado em organização de grupos desportivos pela Universidade de Lyon. Os seus colegas costumam gozar com ele porque fala com sotaque francês muito forte. Está sempre em busca de experiências novas, tem carta de condução de iate, de moto, toca guitarra e ainda fez um curso de fotografia.

Lukasz Fabiaski

O guarda-redes é um grande fã de NBA e já foi visto em campo num jogo anual que se realiza em Londres. Tem uma enorme coleção de camisolas de basquetebol e sapatilhas Air Jordan. Na sua despedida de solteiro não quis saber de discotecas: teve um jogo de basquetebol organizado pelos seus amigos.

Pisczek

O jogador do Dortmund foi levado para o futebol pelo seu pai, que treinava uma equipa local. Tinha sete anos. Adora batatas mas raramente as come por causa da sua dieta rígida. Nem come ovos agora. Durante o tempo que passou no Hertha Berlim, foi até casa, em Goczalkowice Slaskie, e levou um grande saco de batatas oferecido pelos pais, para a Alemanha. Também é um grande adepto de crossfit.

Kamil Grosicki

O extremo do Rennes manteve-se fiel às suas raízes, investindo na sua comunidade local. Para o ano vai inaugurar um jardim de infância desportivo na sua cidade natal de Szczecin, tendo já construído lá uma academia de futebol. Pediu para deixar o Legia Varsóvia devido a motivos pessoais e depois de passagens por Suíça e Turquia encontrou estabilidade em França.

A figura: Kamil Glik

O líder da defesa da Polónia

Para dar uma ideia de como o capitão do Torino tem um carácter forte nada melhor que recordar o dia em que o seu pai morreu. Jogava no Piast Gilwice e soube da morte um dia antes de um jogo contra o Wisla Cracóvia. Não chorou muito tempo. Ficou com a equipa e jogou.

Os fãs do Torino chamam-lhe «Terribile Polacco». O Polaco Sem Medo.

A sua infância esteve longe de ser perfeita. Cresceu numa zona de exploração de carvão, na Silésia, onde o álcool era um problema e as cargas policiais, bem como a violência doméstica eram também regulares. O seu pai morreu de ataque cardíaco, aos 42 anos, como resultado do problema com a bebida.

Glik não tem problemas em falar disso. Tentou ajudá-lo muitas vezes: pediu-lhe para deixar a bebida, enviou-o para terapia. Mas acaba sempre da mesma forma: depois de algumas semanas de calmaria o pai voltava à bebida.

Kamil lembra-se de muitas discussões entre os pais. Quando recebeu uma proposta da Academia do Real Madrid, teve medo de deixar a sua mãe e irmão por conta própria. E era ele que intervinha quando o pai chegava a casa muito agressivo.

Mas Glik também tenta recordar as coisas boas do seu pai. Um dia, quando o pai estava a trabalhar na Alemanha, comprou-lhe um fato de treino do Bayern Munique. E depois havia os momentos em que iam pescar. Glik ainda pesca, como passatempo, na sua casa de férias no Mazurian Lake District, mas houve uma vez que não foi tão relaxante.

O pai de Glik levou dinamite da mina, colocou num frasco e atou-lhe um rastilho. Quando estavam no barco, no meio do lago, acendeu o rastilho, atirou a dinamite para a água e o inevitável aconteceu: Boom! O peixe veio à superfície e foi facilmente apanhado. Vieram os dois felizes, cheios de peixe. Mas o seu pai pegou na maior parte e levou a um bar nas redondezas, vendendo-o para comprar bebida. Ainda assim, Glik considera que esta é uma boa memória.

A zona em que Glik cresceu é chamada de Amizade, mas era um bairro perigoso, especialmente para quem é de fora. Foi lá que Glik foi buscar o seu carácter forte, foi lá que aprendeu como defender-se e como trabalhar em grupo. Nunca esqueceu as suas raízes e lembra-se sempre dos tempos difíceis que passou. A sua mãe ainda lá vive, gerindo uma loja. Como disse Glik: «É muito difícil mudar uma árvore velha, mesmo que para um lugar melhor». Glik volta nos Natais e durante as férias, para visitar os amigos. Além disso construiu um campo de futebol para a comunidade.

A sua passagem pelo Real Madrid foi apenas uma aventura, nunca teve uma verdadeira oportunidade de jogar. Acabou, de resto, a jogar na equipa C. Voltou à Polónia em 2008 e assinou pelo Piast Gliwice mesmo podendo ter ido para o Legia Varsóvia, bem mais forte. Acabou por descer de Divisão mas recebeu uma proposta do Palermo, da Serie A. Depois foi emprestado ao Bari, antes de mudar-se para o Torino, onde Giampiero Ventura viu nele um enorme potencial. Ajudou a equipa a voltar à Seria A e desde aí já jogou na Liga Europa. Chegaram, também, os prémios individuais: a Gazzetta dello Sport incluiu-o na equipa do ano em 2014/15.

Glik está em Turim há cinco anos mas pode estar a caminho uma mudança, mesmo que ele não esteja obcecado com isso. Alguns clubes grandes estão atentos. Na última época esteve perto de ir para o Manchester United mas acabaram por optar por Matteo Darmian. Em janeiro houve alguns contactos com o Bayern, clube do qual é adepto desde criança. E, claro, muitas equipas italianas gostavam de contar com ele.

O Euro será um grande teste para Glik. Ele tem de provar que é o líder da defesa da Polónia num grande palco e fazer com que ainda mais gente conheça a sua reputação.

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