Gales (análise): dragão vermelho com uma asa e inspiração italiana - TVI

Gales (análise): dragão vermelho com uma asa e inspiração italiana

País de Gales no caminho de Portugal (Reuters)

Algumas características do rival de Portugal nas meias-finais do Euro 2016.

*Enviado-especial ao Euro 2016

O País de Gales é, esta quarta-feira, o último obstáculo de Portugal antes da final de dia 10, no Stade de France. Os britânicos, estreantes em fases finais, ganharam o Grupo B à frente de Inglaterra, Eslováquia e Rússia, bateram a Irlanda do Norte com um autogolo e cilindraram a Bélgica, numa das grandes surpresas do Euro, por 3-1, nos quartos de final. Treinados por Chris Coleman, os galeses, que apresentam um sistema tático menos tradicional, têm em Gareth Bale a sua maior arma, mas estão longe de se resumir à estrela do Real Madrid.

O MAISFUTEBOL traça-lhe aqui algumas das características do rival da Seleção Nacional em Lyon.

O esquema

Chris Coleman reconheceu, na conferência de imprensa de antevisão ao encontro, que havia pontos de contacto entre o 3x4x2x1 que desenhou para Gales e o que apresentou a seleção italiana no mesmo torneio. O treinador destacou a agressividade e as transições ofensivas da squadra azzurra e sublinhou as diferenças: um avançado no onze galês habitual em vez de dois no esquema de Antonio Conte, e a aposta em dois números 10, Bale e Ramsey, este último o grande ausente do encontro devido a castigo. O Dragão só terá uma asa frente a Portugal.

O selecionador ainda experimentou o 4x3x3 em algumas ocasiões, mas fidelizou-se nos três defesas (e não três centrais). Hennessey é um guarda-redes competente. Ashley Williams é o capitão e ocupa a posição central do trio, tendo do lado direito James Chester e no esquerdo o lateral de origem Ben Davies, também suspenso para a partida. A fazerem os corredores Chris Gunter e Neil Taylor. No meio, Ledley e Joe Allen, um pouco mais à frente Ramsey como cérebro da equipa e Gareth Bale, com espaço e liberdade para desequilibrar. A 9, Robson-Kanu, um extremo adaptado à posição, pronto para correr a todas as bolas e abrir espaço para quem vem de trás. Quando Coleman prefere ter alguém mais fixo na área há Sam Vokes, um bom cabeceador, como se viu no terceiro golo galês à Bélgica.

O estilo

Britânico, em contra-ataque. Mas, sobretudo com Aaron Ramsey em campo, capaz de construir em progressão. O médio do Arsenal acrescenta muita criatividade à equipa. Basta dizer que participou diretamente em oito dos 21 golos apontados (Euro 2016 incluído) pelo conjunto britânico nos encontros competitivos realizados nos últimos dois anos. Marcou três golos, assistiu para cinco. Frente a Portugal, não poderá ajudar, como já se escreveu.

Ramsey é o grande ausente das meias-finais do lado dos galeses.

Gareth Bale é obviamente fundamental para as transições pela velocidade com que sai com a bola nos pés. É mais do que isso, obviamente. Marcou dez golos, quatro de livre direto, quase metade da produção da sua seleção (21).

Em construção em apoio, Gales procura definir depois com o cruzamento por alto ou bolas metidas para a segunda vaga, a meio da área. Tenta construir ao primeiro toque para ultrapassar as zonas de pressão no meio-campo e chegar rapidamente à frente.

Essa necessidade de chegar rápido implica, por vezes, um futebol mais objetivo, com bolas longas para os flancos, tentando depois o cruzamento. Bale é, como se sabe, também muito perigoso pelo ar.

As bolas paradas, claramente inflacionadas pelos quatro livres diretos de Bale, têm um peso de um terço no acumulado da equipa. Os cantos e os livres laterais procuram invariavelmente o seu capitão, Ashley Wiliams, que, apesar de não ser muito alto (1,83m), é muito móvel e agressivo na procura da bola. Será preciso ter muita atenção aos seus movimentos.

Bale é a óbvia grande figura da equipa de Chris Coleman.

Um sósia de Ronaldo

Gareth Bale marca livres como Cristiano Ronaldo, e tem claramente ultrapassado o original no sucesso dos mesmos. No entanto, há algo mais em que o galês imita o companheiro do Real Madrid. Na marcação mista por parte da defesa galesa em cantos e livres laterais, Bale fica muitas vezes ao primeiro poste – tal como Ronaldo na Seleção portuguesa – para ajudar a controlar o espaço aéreo. No caso da equipa de Chris Coleman, particularmente vulnerável nas bolas paradas, toda a ajuda é importante.

As estatísticas dizem-nos que Gales sofreu três golos em oito desta forma: um canto, um penálti e um livre indireto. Mas os momentos de aflição foram bem mais numerosos.

GOLOS*

MARCADOS

21 – 10, Gareth Bale; 3, Robson-Kanu e Ramsey; 1 – Cotterill, Neil Taylor, Ashley Williams, Vokes e McAuley (Irlanda do Norte)

14 de bola corrida, sete de bola parada (4 livres diretos, e 3 cantos)

Assistências: 5, Ramsey; 2, Bale e Ben Davies; 1, King, Richards, Allen e Gunter 

SOFRIDOS

5 de bola corrida, três de bola parada (1 penálti, 1 canto e 1 livre indireto)

*jogos competitivos nos últimos dois anos, desde o Mundial, incluindo a atual fase final

Chris Coleman utilizou 26 jogadores nos últimos dois anos, mas apenas 22 foram pelo menos uma vez titulares. Ashley Williams, Chris Gunter e Gareth Bale são os únicos que jogaram todos os jogos (15), mas os dois primeiros não falharam um único minuto.

EQUIPA-TIPO: Hennessey; Chester, Williams e Davies; Gunter, Joe Allen, Ledley e Neil Taylor; Ramsey e Bale; Robson-Kanu

EQUIPA PROVÁVEL

Coleman tem duas baixas obviamente muito importantes a suprir. Se Andy King, campeão pelo Leicester, e Jonathan Williams lutam pela vaga no meio-campo, embora o segundo sem uma mobilidade semelhante à de Ramsey, já será mais complicado adivinhar o substituto de Ben Davies. Será preciso recuar até ao segundo jogo com a Bélgica da qualificação para encontrarmos um encontro sem o lateral do Tottenham: Coleman recuou Gunter para o trio, à direita, deslocando Chester para o outro lado. O experiente James Collins é a outra opção, como o foi no lugar de Chester na primeira partida frente a Israel.

Joe Allen poderá ter de participar bem mais na construção face à ausência de Ramsey.

A DEFENDER

Pressão sobre a bola – alta, mas sobretudo posicional, aumenta de agressividade assim que a bola entra no seu meio-campo. Aí a intensidade é muita. Assim que recuperada, Gales parte em contra-ataques velozes, sendo Bale o principal transportador. O extremo do Real, aqui a jogar numa posição mais central, pode definir em jogada individual, utilizando o forte remate à entrada da área, ou tentar assistir um companheiro, geralmente o 9.

Reação à perda – rápida a recuperar posicionalmente, defende com dois blocos, um de cinco, mais recuado, e outro de dois, formado pelos médios mais defensivos.

Cinco a defender – sem bola, e dependendo do número de atacantes colocados perto da sua baliza, baixa os laterais, formando uma última linha de cinco, e os dois médios- centro, posicionando-se Ramsey, Bale e o 9 (Robson-Kanu, ou Vokes, quando em campo) para as transições.

3x4x2x1 bem definido na imagem, com o 9 fora do enquadramento, tal como o guarda-redes.
Alas descem à medida que a bola se aproxima da baliza, desenhando um 5x2x2x1

Bolas paradas – defesa mista, ativa, muitas vezes com Bale, que tem uma forte impulsão e bom jogo de cabeça, na zona do primeiro poste para ajudar a compensar uma defesa baixa e que sente bastantes dificuldades nestas situações de jogo.

A ATACAR

Estilo inglês – a seleção de Gales procura a largura, tentando um futebol mais estereotipado, de cruzamentos, quando tem Vokes em campo, embora Gareth Bale, pelo seu bom jogo de cabeça, também seja um dos alvos prediletos das bolas pelo ar para a grande área.

Construção – engane-se quem pensar que o futebol desta seleção é só kick and rush. Gales conseguiu controlar e virar o jogo frente à seleção belga com um jogo apoiado, por territórios interiores, com um/dois toques e com profundidade. Se o empate resulta de uma bola parada (canto) e se a viragem surge depois de duas bolas longas para o flanco direito, com cruzamentos (rasteiro para a zona de penálti; por alto para o primeiro poste), a verdade é que o conjunto de Chris Coleman conseguiu construir muito e com qualidade pelo meio, ultrapassando com facilidade as linhas de pressão belgas e empurrando o seu adversário para trás.

Golo à Irlanda do Norte: Ramsey liberta em Bale, que cruza rasteiro. McAuley fará autogolo.
Bale coloca em Ramsey, que aproveita o espaço excessivo entre central e lateral. A jogada acabará com um cruzamento atrasado e uma grande defesa de Courtois.

Bolas paradas – os livres diretos são de Bale, que é um dos maiores especialistas da atualidade. Os indiretos eram de Ramsey, que não pode jogar, por castigo.

Referências – a primeira fase de construção ficará, sem Ramsey, muito dependente de Joe Allen. O médio do Liverpool terá de assumir decisões e provavelmente uma presença mais próxima da baliza rival.

Transições – sempre muito rápidas, explosivas, como aconteceu frente à Bélgica, nos dois últimos golos.

Contra-ataque: depois de um corte de um dos centrais, a bola chegou a Joe Allen, que isolou Ramsey (castigado para o jogo com Portugal) com um passe de rotura. Faltará quem faça estes movimentos em Lyon.
Contra-ataque: bola cortada pela defesa galesa chega a Ramsey, que coloca em Bale pelo meio. Depois desta imagem, o avançado do Real Madrid procurará a rotura, que acabará por surgir por acidente, num ressalto num jogador russo. Neil Taylor fará o golo.

PONTOS FORTES

Coesão, organização, solidariedade.

Livres diretos de Gareth Bale, sempre muito perigosos.

Jogo aéreo em bola corrida por Vokes, Bale e Robson-Kanu. Em bola parada, por Ashley Williams.

Capacidade de construir também pelo chão, em passe curto.

PONTOS FRACOS

Fragilidade defensiva nas bolas paradas.

Ausência de Aaron Ramsey, o seu principal criativo.

Com Joe Allen anulado, Gales ficará excessivamente dependente das arrancadas de Gareth Bale.        

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