Puskás Aréna: os segredos do estádio onde Portugal vai enfrentar uma multidão - TVI

Puskás Aréna: os segredos do estádio onde Portugal vai enfrentar uma multidão

  • Sérgio Pires
  • Enviado especial do Maisfutebol ao Euro 2020
  • 14 jun 2021, 23:45

Uma pista de atletismo sob a cobertura? Um túnel secreto para Viktor Orbán? Cenário de um filme de Spielberg? O Maisfutebol foi conhecer o recinto que é orgulho da pátria magiar e encontrou as respostas

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«Construído pelo povo húngaro e para o povo húngaro.» É este o desígnio da Puskás Aréna, uma obra arquitetónica marcante e complexa em termos engenharia, que nesta terça-feira irá apadrinhar a estreia da Seleção Nacional no Euro 2020.

O Hungria-Portugal será a primeira grande demonstração de orgulho pátrio, desde a inauguração do recinto, em novembro de 2019, tanto mais exacerbado que este será o único palco desta edição do Campeonato da Europa que não irá ter qualquer restrição de público.

61 mil lugares lotados, num estádio em cuja construção estiveram envolvidos 15 mil trabalhadores húngaros e que custou 567 milhões de euros (de acordo com o Budapest Business Journal).

A derrapagem não é segredo para ninguém. Há, ainda assim, outros factos menos conhecidos sobre esta obra projetada pelo conceituado arquiteto húngaro György Skardelli sobre as ruinas do mítico Népstadion, entre 2002 e 2016 designado por Estádio Ferenc Puskás.

O Maisfutebol entrou nas profundezas do novo estádio nacional da Hungria, batizado com o nome do herói dos «Mágicos Magiares» Ferenc Puskás, e revela-lhe sete segredos e curiosidades deste colosso erigido no coração de Budapeste.

A incrível pista de atletismo sob a cobertura que não saiu do papel

Uma pista de atletismo não de 400 metros e junto ao relvado, mas com o dobro do comprimento e… por baixo da cobertura com uma vista panorâmica sobre a cidade! A insólita ideia provocou espanto ao ser cogitada no projeto inicial do novo estádio nacional da Hungria, mas nunca chegou a sair do papel. O objetivo de preservar a valência para as provas de atletismo do antigo Népstadion sem prejudicar o ambiente de proximidade entre o público e o relvado nos jogos de futebol motivou debate, mas o plano foi abortado após a derrapagem nos custos. Para tal, contribuiu também a ideia de construir um novo estádio de raiz na capital húngara dedicado ao atletismo. Serviria de sede a uma candidatura de Budapeste aos Jogos Olímpicos que não chegou a avançar por oposição de uma parte substancial da sociedade húngara, que contestou os gastos.

Torre resistente do realismo socialista

Com o objetivo de conservar «espírito do seu antecessor», segundo explicou o arquiteto György Skardelli num documentário sobre a obra, a Puskás Aréna foi construída exatamente no mesmo local e com a mesma orientação do Népstadion. Para além de replicar no exterior a grelha em betão dos pilares das escadas, houve um elemento que permaneceu intacto do velho «estádio do povo»: a torre de blocos de granito da fachada, com um pórtico com o símbolo olímpico, foi preservada e as suas funções foram adaptadas. O antigo centro de imprensa foi transformado em museu do desporto. Apesar da diferença de escala, este exemplar arquitetónico do realismo socialista dos anos 1950 destaca-se como elemento simbólico que preserva a memória do estádio onde a seleção dos «Mágicos Magiares» impôs à Inglaterra a maior derrota da sua história (7-1), a 23 de maio de 1954.

Local já foi cenário de um filme de Spielberg

A Aréna ergue-se no exato local onde pontificou durante mais de meio século o Népstadion e assume-se como fiel herdeira do antigo recinto. Palco de jogos históricos, desde era dourada dos «Mágicos Magiares», na década de 1950, o «estádio do povo» recebeu eventos como a digressão dos Queen, em 1986, numa das últimas aparições de Freddie Mercury, tendo sido também o único anfitrião para lá da «cortina de ferro» da iniciativa «Human Rights Now!», em 1988, que levou a palco Bruce Springsteen, Sting, entre outros. O estádio foi também cenário do filme Munich, de Steven Spielberg: rodada em 2005, a pelicula retrata a ação terrorista da organização Setembro Negro, que levou ao assassinato de onze integrantes da comitiva israelita e um polícia alemão durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.

Homenagem ao «jogo do século» falhou por dez dias

A inauguração da Aréna deveria ter acontecido a 25 de novembro de 2019, mas acabou por ser antecipada em dez dias, obrigando a um sprint final dos trabalhos de conclusão da obra. O objetivo era homenagear o «Jogo do Século». Nessa data, em 1953, a seleção húngara espantou o mundo do futebol ao golear em pleno estádio de Wembley a Inglaterra – na sua primeira derrota em casa contra uma seleção não britânica. Por não haver datas FIFA disponíveis, o primeiro jogo do novo estádio nacional de Budapeste disputou-se a 15 de novembro de 2019 e terminou com uma vitória do Uruguai sobre a seleção da Hungria (2-1). O autor do primeiro golo no novo estádio foi Edinson Cavani. Em seis jogos na sua nova casa, a seleção magiar duas derrotas, dois empates e duas vitórias.

Maior do que o majestoso Parlamento

Com um comprimento de 316,5 metros por 205 de largura, a Aréna tornou-se na maior infraestrutura pública do país, destronando o icónico edifício do Parlamento, um dos principais postais da cidade nas margens do Danúbio. Em termos comparativos, a casa da democracia tem 268 metros de comprimento por 123 metros de largura. É, ainda assim, mais alta do que o estádio: o seu pináculo tem 96 metros, a mesma altura da cúpula da Basílica de Santo Estêvão (ambos os monumentos estabelecem o «teto» no centro da capital húngara). O estádio tem 50 metros de altura e ocupa uma área de seis hectares.

Um túnel secreto para Orbán?

Em fevereiro deste ano, estalou a polémica quando János Stummer, deputado do partido populista de direita Jobbik, da oposição, revelou que o novo estádio nacional teria um túnel secreto para que o primeiro-ministro Viktor Orbán pudesse ter acesso exclusivo à tribuna. As acusações foram desmentidas na página oficial da Aréna. De acordo com o esclarecimento, o túnel secreto trata-se afinal de um acesso de 50 metros para automóveis de convidados VIP, que foi construído após a inauguração do estádio. A denúncia, porém, fez reavivar memórias da década de 1950, quando o antigo líder comunista Mátyás Rákosi mandou construir junto a uma linha subterrânea de metro um túnel que ligava a praça Deák, no centro de Budapeste, a um bunker destinado a o proteger a si e ao seu círculo mais próximo.

Cabo usado na construção daria para chegar a Londres

Os números deste colosso da arquitetura e da engenharia impressionam. Para a construção da Aréna Puskás foram empregues 10 mil toneladas de aço, o que daria para construir duas pontes Elisabeth sobre o Danúbio. Boa parte destes foram empregues na gigantesca cobertura de 90 metros, para cuja colocação no topo das 36 escadarias foi preciso alugar uma grua especial – só existem oito na Europa. Dado o comprimento da consola da cobertura foi necessária uma solução inédita para garantir a segurança estrutural: suportes de aço e um sistema com 11 mil cabos metálicos invisíveis presos ao suporte de betão no topo de cada escadaria. Se todo o cabo usado para a construção do estádio fosse colocado em linha reta, seria suficiente para ligar a capital húngara a Barcelona ou Londres, onde curiosamente se disputa a final do Euro 2020. Já os 26 quilómetros de estacas seriam suficientes para chegar do estádio à cidade vizinha de Százhalombatta e os 150 mil metros cúbicos de cimento armado bastariam para construir 75 prédios residenciais.

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