A coroação de Platini rematada com frango à espanhola - TVI

A coroação de Platini rematada com frango à espanhola

Platini

Em 2008 a redação do Maisfutebol, em parceria com o cartoonista Ricardo Galvão, publicou na Prime Books o livro «Doze Euros no Bolso», que passava em revista, de forma bem-humorada, os momentos mais marcantes da história dos Campeonatos da Europa. São alguns desses textos, adaptados e atualizados, que recuperamos agora, para intervalar a atualidade do Euro 2016 com as memórias que ajudam a fazer a lenda da segunda maior competição internacional de seleções.

A poucos dias de completar 29 anos, Michel Platini chegou ao Euro 84 no auge do talento. Coroado como melhor jogador da Europa nas duas épocas anteriores, rei indiscutível do calcio, o número 10 da Juventus e da França tinha nesse verão o maior desafio da carreira: levar a seleção à conquista, perante o seu público, do primeiro título internacional do futebol francês.

Como Maradona, dois anos mais tarde no México, Platini viveu essas semanas em estado de graça. Nos momentos importantes tudo lhe saía bem, a bola obedecia a todos os seus caprichos e a sorte dava uma ajudinha sempre que necessário. Durante um mês foi um extraterrestre, a jogar um jogo diferente do de todos os outros.

O encontro de abertura, coma Dinamarca, já tinha dado um sinal do que estava para vir: foi decisivo na segunda parte, com um remate de Platini desviado pela cabeça de um adversário. Mas as obras primas ainda iriam chegar. Em dose dupla.

A 16 de junho, frente à Bélgica, vice-campeã europeia, o génio de Platini explodiu: um remate de pé esquerdo abriu caminho à goleada e, após tentos de Giresse e Fernandez, um penálti e uma cabeçada em grande estilo fixaram o marcador no 5-0 final.

Era difícil fazer melhor, mas Platini conseguiu-o. Três dias mais tarde, a França, já apurada, perdia ao intervalo com a Jugoslávia, no último jogo da fase de grupos. Aos 59 minutos, Platini empatou, desviando de pé esquerdo um passe de Ferreri. Apenas dois minutos mais tarde, uma espetacular cabeçada em voo colocava os franceses na frente. E a um quarto de hora do fim, um daqueles livres em folha seca, cuja patente parecia ter registado, dava a machadada final.

Apenas 17 minutos tinham sido suficientes para Platini assinar o segundo hat trick consecutivo, com o requinte de em ambos ter marcado usando os dois pés e a cabeça. O Euro 84 tinha encontrado o seu monstro sagrado. Nada poderia travar a marcha de Platini rumo à glória suprema, como Portugal e Espanha viriam a perceber nos dias seguintes.

O frango dos frangos

Todas as grandes competições têm frangos lendários. No caso do Campeonato da Europa, o lugar de honra tem um dono indiscutível. O seu nome: Luis Arconada, o número 1 da seleção espanhola nos anos 80. Guarda-redes de qualidades indiscutíveis, teve o azar de estar no sítio errado à hora errada. E logo em duas ocasiões sucessivas.

Tudo começou no dececionante Mundial 82, que a Espanha organizou, e do qual cedo foi afastada com grande estrondo. Arconada, réu nas derrotas com a Irlanda do Norte e a Alemanha, não perdeu a confiança do novo selecionador, Miguel Muñoz. O seu percurso nos relvados franceses, naquele verão de 1984, justificou a escolha: decisivo nas vitórias sobre a Alemanha e a Dinamarca, o capitão de Espanha chegava à final com o brio e a reputação restaurados.

Por isso, nada fazia prever o sucedido naquele fatídico minuto 57. Michel Platini era nessa altura o maior especialista mundial em livres diretos. E quando o árbitro checo Christov transformou uma escorregadela do francês Lacombe, na meia lua, num derrube inexistente de Gallego, os adeptos no Parque dos Príncipes esfregaram as mãos. A oposição espanhola estava a ser dura de roer. Talvez a magia de Platini resolvesse o problema, como sempre nesse europeu.

O número 10 tomou balanço e atirou fraco, a meia altura, contornando a barreira para o lado esquerdo do guarda-redes. O remate foi manso para as mãos de Arconada e tudo deveria ter acabado aí. Mas ao cair sobre a bola Arconada espremeu-a para as suas costas, encaminhando-a para a baliza. Perante os olhares incrédulos dos franceses e horrorizados dos espanhóis, a bola deslizou em câmara lenta, até ser imobilizada, meio metro para lá da linha, pelo braço esticado do infeliz guarda-redes.

O frango gigantesco destruiu o moral dos espanhóis, que sofreriam o definitivo 2-0 nos descontos. Enquanto Arconada saía de cena, pela porta pequena, Platini completava um inigualável «grand slam». Marcando nove golos em cinco jogos. Ninguém voltou a fazer parecido em Europeus.

Com os livres marcados à Jugoslávia e à Espanha na final, Platini tornou-se em 1984 o primeiro a fazer dois golos na cobrança de faltas num Europeu. Essa marca foi igualada pelo alemão Thomas Hässler no Euro 1992 marcando à CEI (Comunidade de Estados Independentes, a ex-URSS) e à Suécia de livre direto.

Nesta quinta-feira Gareth Bale fez o mesmo. O galês abriu o marcador frente à Inglaterra na marcação de uma falta, como já o tinha feito na vitória do País de Gales sobre a Eslováquia na jornada de abertura do Grupo B deste Euro 2016.

Continue a ler esta notícia