Mário Silva: a análise aos seus dragões vencedores da Youth League - TVI

Mário Silva: a análise aos seus dragões vencedores da Youth League

FC Porto-Chelsea

Entrevista ao treinador, campeão da Europa pelo FC Porto de sub19 - Parte II

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Mário Silva foi o treinador que conduziu o FC Porto ao título europeu de sub19. Dois anos depois, quatro elementos dessa equipa têm papel relevante na equipa principal dos dragões, treinada por Sérgio Conceição. 

O técnico de 44 anos aceita o desafio do Maisfutebol e fala sobre Diogo Costa, João Mário, Vitinha e Fábio Vieira, quatro das pérolas mais reluzentes do universo do dragão. Podia ter-se falado de outros nomes que já por lá passaram - Tomás Esteves, Romário Baró, Fábio Silva -, mas estes 'Fab Four' são motivo de orgulho mais do que suficiente. 

Pelo meio das palavras sobre os atletas, o elogio também a Conceição, antigo colega de equipa de Mário Silva no FC Porto. 


PARTE I: «Custou-me recuperar do despedimento no Rio Ave»

PARTE III: «Saí do FC Porto para poder ser um treinador de verdade»

Maisfutebol – No plantel do FC Porto há quatro jogadores que foram treinados por si. Dá-lhe especial gozo vê-los a jogar ao mais alto nível?

Mário Silva – Depois do título europeu as pessoas passaram a olhar de forma diferente para a formação. Para mim e para os meus atletas da altura. O grande trabalho de um treinador da formação é esse: estar em casa e ver o sucesso de atletas que passaram pelas minhas mãos. É um orgulho enorme e a sensação de dever cumprido. Tive uma pequena percentagem de responsabilidade no crescimento deles. Tudo fiz para ajudá-los.

MF – É um treinador próximo dos seus jogadores?

MS – Sou, e sou porque eu apreciava isso nos meus treinadores. Quando eu jogava. Gosto de estar próximo, de ajudar, de dar uma palavra e de criticar quando é preciso. Mesmo o Cristiano Ronaldo, um jogador de topo mundial, sentirá que tem aspetos a melhorar. E é isso que eu procuro passar aos meus jogadores: há sempre espaço para corrigir alguma coisa. Analiso o ser humano, apesar de ser frio na hora de tomar as minhas decisões. Gosto de saber como está a vida do meu atleta, de como estão as coisas em casa, tudo isso influencia. O lado humano é fundamental. Nem sempre chegamos a todos da mesma forma, mas temos de criar estratégias para tentar fazê-lo. Empatia é a palavra-chave.

MF – Há algum jogador que treinou na formação do FC Porto e que não está no patamar que imaginava?

MS – Sim, há. Não queria muito individualizar, até por respeito a esses atletas, que ainda terão tempo para chegar onde podem. Vi isso no meu tempo de jogador e estou a ver no meu trajeto de treinador. Tive colegas de equipa com mais qualidade e rendimento do que eu e que depois não chegaram onde podiam. Na formação é um pouco assim. Vemos um jogador e dizemos: ‘sim, este vai chegar lá’. Mas o trajeto é longo, há lesões, problemas de atitude, falta de oportunidades. Não é identificar um bom jogador. Difícil é ter a certeza sobre o sucesso de algum atleta. Normalmente, e nós sabemos isso, um futebolista que é mais talentoso costuma trabalhar menos. Noutras áreas profissionais talvez seja assim também.

MF – Pedia-lhe para nos falar um pouco sobre o Diogo Costa. Surpreendido por vê-lo já a titular do FC Porto?

MS – O Diogo tem um potencial incrível e está a demonstrá-lo. Ele tem de melhorar em todos os aspetos, mas não tem nenhum aspeto em que seja débil. É bom a fazer quase tudo. O que me surpreende é a forma tranquila como ele consegue estar na baliza, seja em que contexto for. Senti sempre isso com o Diogo. E humildade enorme. Tem tudo para ser um caso sério no futebol português, já está num patamar altíssimo e pode subir mais.

MF – E o João Mário?

MS – O Sérgio teve, e tem, olho de treinador. Foi meu colega de equipa, admiro-o muito e ele fez recuar o João e beneficiou-o muito. Estou à vontade, porque comigo o João foi sempre extremo, não tive esse olho (risos). Para o João é importante ver o jogo de frente. Ele é muito rápido, tecnicamente evoluído e esta adaptação foi uma vitória para o Sérgio e para o jogador. Está na posição ideal para ele.

MF – O Vitinha e o Fábio Vieira são médios muito diferentes?

MS – São muito diferentes, mas ambos muito criativos. Vejo o Fábio como o típico jogador de rua. O Fábio e o Vitinha estão muito aptos do ponto de vista emocional, não acusam a pressão. São equilibrados, não tremem em momentos cruciais. O Fábio é muito refinado, é forte nas bolas paradas, uma personalidade incrível. É aquele menino de futebol de rua, que jogava descalço e cativou-me sempre por isso também. Sentia nele as minhas vivências. O Vitinha é muito criativo com bola, assume o jogo, não tem medo de decidir. Perde a bola e quer outra oportunidade. Trabalhei com eles durante dois anos, orgulho-me muito ao ver o nível que atingiram.

MF – Tiveram um treinador que apostou neles. O que nem sempre acontece.

MS – O Sérgio é um treinador corajoso. É preciso ter coragem para apostar em jovens. Todos eles vão errar e o Sérgio deu-lhes essa compreensão. Eu tive uma pequena parte no crescimento deles, o Sérgio tem sido fundamental para todos eles.

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