Fomos perceber os pássaros, voar mais alto que o Jardel - TVI

Fomos perceber os pássaros, voar mais alto que o Jardel

O Maisfutebol foi experimentar uma viagem de balão de ar quente, no II Festival Internacional de Balonismo, para tentar perceber porque cada vez mais gente pratica este desporto. No fim saímos de coração cheio.

O relógio indica quatro da manhã e o despertador já toca. Estranhamente, e ao contrário do esperado, o coração não palpita demasiado. Não é todos os dias que se vê o nascer do sol por entre os balões de ar quente. Também não é todos os dias que se vive o batismo de uma viagem destas. Já são duas emoções a justificar palpitações, mas ele lá sabe.

Tal como o coração, o dia acordou calmo e sem a chuva torrencial da véspera.

O ponto de encontro é em Coruche, às 6h30. A viagem do hotel até ao terreno onde vai ser a descolagem tem de ser tranquila para o peito não começar a acelerar. Ainda não há sol e são poucos os carros que se veem no trajeto de 30 quilómetros.

O relógio marca 6h17 e os termómetros 7 graus. O corpo começa a congelar, mas o gás que sai dos balões aquece a alma. A correria começa a sentir-se.

O nascer do sol está a aproximar-se, e a hora indicada para levantar voo também. Para já são vários os balões que se desenrolam no chão. Em breve estarão a desafiar a gravidade.

O céu da vila ribatejana vai preencher-se com mais de 30 balões de várias cores e feitios. O número 13 é o maior de todos. Leva 24 pessoas. Mas embarcamos no 20, que leva Mariano Olivera e mais duas pessoas.

São 15 anos a sobrevoar várias cidades e vários países. Natural de Huesca, Mariano conta que o balonismo tem cada vez mais adeptos pela tranquilidade que dá.

Passar entre as nuvens é, de facto, uma sensação de serenidade.

Quem tem medo de vertigens teme não conseguir olhar para o chão a 300 metros de altura. Mas a verdade é que aquele sentimento de susto não acontece. Pelo contrário.

O horizonte é maravilhoso. E foi o fascínio por imagens diferentes que levou Mariano ao balonismo. Era fotógrafo em Huesca. Agora, aos 46 anos, é dono de uma empresa de comunicações e balonista.

O espanhol dá dicas de como captar os melhores momentos para mais tarde recordar. E lá do alto, a mais de 300 metros do solo, vê-se com nitidez os cães nos quintais a reagir aos ultrassons do gás.

Com 15 anos de experiência, Mariano conta que viajar de balão é para todos. De miúdos a graúdos. Mas fazer balonismo não. Em Portugal só há entre 12 a 14 pilotos de balonismo. Talvez porque um balão custe entre 40 mil e 200 mil euros.

O nosso é tamanho 77, o que equivale a 2200 metros cúbicos. É dos mais pequenos que se vê nos céus de Coruche por estes dias. E custou 40 mil euros.

No entanto, e antes de poder deliciar-se com a magnífica vista dos céus e poder partilhar experiências com passageiros, é preciso investir ainda mais. São 40 mil euros iniciais, sim, mas depois vem um certificado médico e mais tarde a necessidade de 63 viagens. Depois disso fica concluído o brevet de piloto de balonismo.

É hora de desfrutar.

A viagem já vai longa. Sem se dar conta passou quase uma hora. O chão começa a ficar mais próximo. O cheiro a eucalipto reconforta. A brisa vinda do Açude do Monte da Barca refresca o espírito.

«Já vamos aterrar?», pergunta-se no balão. Mariano assegura que não. Quer passar rente à água com o cesto. Mas já está a acabar a segunda botija de gás e o chão está cada vez mais próximo. O vento sopra mais forte. A altitude volta a subir.

Procura-se um local seguro para aterrar os mais de 300 quilos do balão. Um terreno amplo seria o ideal, mas o vento teima em levá-lo para o meio das árvores. Mariano avalia a situação e encontra um espaço que considera aceitável.

É preciso guardar as câmaras que captaram os momentos. É preciso ter cuidado. O coração acelera um pouco. O cesto está próximo de aterrar na raiz de uma árvore. Mas o pensamento pede que termine rápido e depressa se sente o chão.

Termina a viagem. Ouve-se a natureza. Aproveita-se o momento.

O balonismo é viciante para o piloto. A paixão e a beleza do voo ajudam. Quem viaja pela primeira vez percebe-o bem, aliás. Fica garantida a vontade de repetir a experiência.

Chega o carro de apoio. O balão fica sem ar.

Tudo arrumado. Mariano batiza com nomes de pássaros os passageiros. Mas isso só depois de tirar alguns retratos. A fotografia deixou de fazer parte da vida do espanhol, mas a paixão pela arte não. São agora 10h. A hora ideal. Chega ao fim esta experiência incrível.

Valeu muito a pena acordar às quatro da manhã.

(artigo publicado às 23h50 de 01/11/2018)

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