Aquário Vasco da Gama aposta em espécies «portuguesas» - TVI

Aquário Vasco da Gama aposta em espécies «portuguesas»

  • Redação
  • Helena de Sousa Freitas/Lusa
  • 22 mai 2008, 14:07
Aquário Vasco da Gama

Aquário tem-se empenhado na reprodução de espécies das ribeiras portuguesas em vias de extinção

O Aquário Vasco da Gama está a apostar na reprodução de espécies de peixe apenas existentes em Portugal e que estão criticamente ameaçadas de extinção devido à poluição das ribeiras onde habitam, escreve a Lusa.

«A boga do Oeste, que existia nas Ribeiras de Alcabrichel, Sizandro e Sarafujo, situadas entre Mafra e Torres Vedras, é um desses casos», contou Fátima Gil, responsável pelo Departamento de Aquariologia do Aquário Vasco da Gama, onde «centenas de exemplares da espécie nasceram na Primavera de 2007».

Segundo a bióloga, o problema da conservação afecta igualmente «a boga portuguesa, que só existe em ribeiras de Cascais e nas bacias dos Rios Tejo e Sado» e cujo processo de reprodução em cativeiro está também em marcha no Aquário.

Um quarto da fauna mundial desapareceu em 35 anos

Folhas revelam qualidade das águas

Num futuro breve, o «Projecto de Conservação de Organismos Fluviais ¿Ex Situ¿» - iniciado em 2006 em parceria com o Instituto Superior de Psicologia Aplicada, a Quercus e a Faculdade de Medicina de Veterinária de Lisboa - deverá incluir também o escalo do Arade, espécie da região algarvia cuja reprodução no Aquário foi já autorizada pelo Instituto da Conservação da Natureza.

Reprodução de espécies características da costa portuguesa

Paralelamente, o Aquário Vasco da Gama - que nos últimos 15 anos investiu ainda na reprodução de espécies que vivem junto à margem na costa portuguesa - fez procriar nas suas instalações o caboz de água doce, «um peixe do Rio Guadiana gravemente ameaçado de extinção devido à poluição das águas e à destruição do seu habitat».

«Trata-se do único representante de uma família cujos restantes membros são espécies de água salgada», explicou Fátima Gil, acrescentando que, no Aquário, «a reprodução das espécies não é forçada e só em casos muito excepcionais se recorre a medicação».

«Tentamos ir ao encontro das necessidades das espécies e, se conseguirmos que se reproduzam, é porque a sua manutenção está a ser feita de modo correcto, é porque está assegurada a boa qualidade da água e os baixos níveis de stress», assinalou a bióloga.

Apesar do Instituto da Conservação da Natureza autorizar o Aquário Vasco da Gama a ter exemplares em «stock», não autoriza a reintrodução da espécie no meio natural.

«Ainda que o fizéssemos, os animais iam deparar-se com as mesmas más condições que estão a comprometer a sua conservação», afirmou à Lusa a responsável pelo Departamento de Aquariologia.

«A verdade é que continuamos a ter casas isoladas que não estão ligadas a sistemas de saneamento e urbanizações que libertam os seus esgotos nos cursos de água, além das indústrias que fazem descargas directas, como sucede na zona do Cacém», revelou Fátima Gil, adiantando que «o depósito de esgoto que se forma no fundo dos cursos de água arrasa a vegetação e conduz à perda da fauna».

De acordo com a bióloga, «a presença de espécies é um garante da qualidade das ribeiras e isso é fundamental, pois as ribeiras desaguam no mar, afectando os peixes da costa, aqueles que vão parar à nossa mesa».

O Aquário Vasco da Gama, inaugurado em 1898, levou a cabo a reprodução de espécies quase desde o início, até por ser um dos primeiros aquários da Europa e por os transportes de então não facilitarem o intercâmbio de espécies entre este tipo de espaços.
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