Cinco ideias táticas que explicam o resultado do clássico - TVI

Cinco ideias táticas que explicam o resultado do clássico

FC Porto-Benfica

A vitória do FC Porto sobre o Benfica no Dragão vista à lupa por João Pacheco, treinador e analista de futebol

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1. FC Porto entrou muito forte e pressionante

Tal como seria de esperar, o FC Porto entrou muito forte, com muita pressão e tentando levar o jogo para o meio campo ofensivo desde o início do jogo.

Estrategicamente o FC Porto tinha como objetivo claro anular a primeira fase de construção do adversário, pressionando muito alto desde a saída de bola, tentando impedir aquele que é um dos pontos fortes do Benfica: a circulação na linha defensiva, para depois encontrar jogadores dentro da estrutura adversária.

Desta forma o FC Porto tirou conforto à construção do Benfica, obrigando a errar e a ter de jogar algumas bolas longas, situação em que a equipa portista é claramente mais forte.

Pelo contrário, o Benfica, dentro da sua estrutura defensiva normal (1-4-4-2), entrou menos pressionante, com a primeira linha de pressão mais na expectativa, deixando os centrais do FC Porto com tempo e espaço para circular a bola. 

Isto permitiu ao FC Porto fazer aquilo que mais gosta: circulação de bola rápida de corredor a corredor (muitas vezes com variações longas) para depois conseguir acelerar e combinar nessas zonas, principalmente nos momentos inicias, colocando muita gente na frente, pouco preocupado com os equilíbrios e com intenção clara de ser dominante.

Bruno Lage bem pedia para que as linhas subissem, mas sem capacidade nos primeiros minutos para contrariar a força adversária, o Benfica viu o FC Porto acabar por fazer golo, num cruzamento com muita gente dentro da área e com os médios do Benfica com dificuldade em defender o espaço à frente dos defesas.

2. Nuance estratégica do Benfica para tentar superar a pressão

A perder, o Benfica melhorou então com bola, por alguns momentos, até empatar. Perante a pressão portista, Bruno Lage mudou ligeiramente a estratégia para tentar conseguir sair com bola: para isso fez descer Weigl para o meio dos centrais (numa construção a três que poucas vezes usa) e fez Chiquinho a baixar para o lado de Taarabt.

Normalmente, Chiquinho procura mais espaço nas costas dos médios. Hoje a estratégia, passava por ter superioridade numérica na primeira linha de construção tendo mais dois jogadores a tentar atrair a pressão dos dois médios portistas para lhes fazer entrar a bola nas costas em Rafa ou Pizzi.

Estes também surgiram com funções um pouco diferentes, jogando por dentro, como normalmente, mas mais altos, mais próximos de Vinícius, como menos participação na construção e mais preocupados em procurar timings para ruturas.

Durante a primeira parte a equipa conseguiu ser eficaz com a bola apenas nos momentos em que esteve a perder. Durante a maior parte de tempo, foi a equipa portista que teve mais capacidade para levar o jogo para onde é mais forte: o FC Porto é uma equipa que gosta de pressionar e que se sente confortável perante adversários que tentam sair a jogar.

Perante a nuance já referida do Benfica, o FC Porto foi ajustando a pressão na saída de bola adversária de uma forma assimétrica. Marega surgiu mais próximo de Ferro, Soares com Weigl e Luis Diaz saiu a pressionar Ruben Dias de fora para dentro.

3. Dinâmica ofensiva no corredor direito portista

Em termos ofensivos, o FC Porto teve uma estratégia clara de explorar o corredor direito, com Otávio muito interior e Corona muito projetado, enquanto na esquerda Alex Telles ficou baixo e Luis Diaz mais aberto.

Os golos do FC Porto surgiram todos do lado direito (até o penálti surgiu após falta em jogada no lado direito). Isto porque se viu muita capacidade individual de Corona para desequilibrar, para além de combinações com Otávio e de ruturas de Marega, seja para o corredor, seja nas costas do central desse lado (terceiro golo).

O Benfica demonstrou muitas dificuldades em defender. É uma equipa que fica desconfortável quando não controla o jogo com bola, acabando por cometer muitos erros defensivos quando passa muito tempo sem bola.

4. Benfica com mais bola na segunda parte equilibrou mais o jogo

O Benfica entrou melhor na segunda parte, com maior capacidade para ter a bola e fazê-la circular de corredor a corredor, chegando rapidamente ao segundo golo numa jogada típica do futebol da equipa: circulação paciente desde trás, associação entre jogadores e no timing certo bola nas costas para rutura de Rafa que assistiu para o golo.

Nesta fase viu-se uma maior dificuldade para o FC Porto condicionar a primeira fase de construção adversária.

Por outro lado, a primeira linha de pressão benfiquista (Chiquinho e Vinícius) estava mais alta e pressionante, com isso fazendo o FC Porto jogar mais longo. A segunda parte mostrou um jogo mais equilibrado e com o Benfica a chegar a área portista mais vezes.

5. Substituições foram mudando as equipas

Perante um jogo que se estava a partir, os treinadores optaram por abordagens diferentes às substituições. Lage fez sair Taarabt e entrar Seferovic, baixando Chiquinho. Com isto pretendia meter mais gente na frente, esticar mais o jogo e dar mais profundidade, enquanto que mantinha médios com capacidade para construção e ligar o jogo.

Perante a maior dificuldade em limitar a construção do Benfica e impedir a entrada nos médios, Sérgio Conceição alterava a estrutura, com Marega (que acabaria substituído por Manafá) na direita e Otávio no meio (1-4-1-4-1).

O Benfica tinha nesta altura mais bola, o FC Porto tentava controlar o jogo jogando um pouco mais baixo e explorando saídas para contra-ataque.

O Benfica acabaria com três avançados, com Chiquinho e Grimaldo nos corredores tendo um jogo mais direto e com mais cruzamentos para tentar o empate sem sucesso.

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