E depois da goleada? Esquecer reviravolta e lutar para ganhar - TVI

E depois da goleada? Esquecer reviravolta e lutar para ganhar

FC Porto-Liverpool (Reuters)

José Alberto Costa, Jaime Magalhães e Barroso já estiveram em papéis semelhantes aos dos homens de Sérgio Conceição e projetam a segunda mão

O estrago está feito e, muito provavelmente, não há nada a fazer. Esta é a análise crua e simples da eliminatória que opõe o FC Porto ao Liverpool. Esta terça-feira, a equipa de Sérgio Conceição entra em Anfield Road praticamente eliminada, sabendo que só escrevendo uma das mais incríveis páginas da história do futebol aquele não será o último jogo na edição deste ano da Liga dos Campeões. Mas esse não deve ser sinal para se alhearem do jogo.

Esta não é, de resto, a primeira vez que o FC Porto sofre uma derrota pesada na primeira mão de uma eliminatória europeia, embora nunca antes jogando em casa. Em todas as outras vezes, a imagem foi melhorada na segunda mão. Aliás, em quatro exemplos, só por uma vez os dragões não venceram o segundo jogo.

Foi na última, já há mais de 20 anos, também nos oitavos de final da Liga dos Campeões e frente a uma equipa inglesa. No caso, o Manchester United. As semelhanças param aqui. Na altura, a equipa de António Oliveira perdeu por 4-0 em Old Trafford e empatou sem golos nas Antas.

Barroso foi um dos portistas titulares nos dois duelos.

«No primeiro jogo o Man. United foi muito eficaz. No segundo, as coisas foram muito diferentes e se tivéssemos a mesma eficácia poderíamos até ter conseguido dar a volta, porque tivemos muitas oportunidades. Mas naquele jogo nem com o Jardel a bola queria entrar...», lamenta, em conversa com o Maisfutebol.

Barroso em ação no jogo da segunda mão

«Ainda há pouco vi o jogo na RTP Memória e garanto que não era nada de anormal se tivéssemos dado a volta à eliminatória», sublinha.

O FC Porto não conseguiu. Empatou 0-0. Porque não foi só o onze de António Oliveira que teve uma noite diferente da vivida em solo inglês. «O Manchester veio diferente, claro. Veio para aguentar, aguentar. O tempo jogava a favor deles, era só ir gerindo, nós é que tínhamos de ir atrás. Acho que, agora, o Liverpool vai fazer o mesmo: esperar pelo FC Porto e tentar marcar no contra-ataque», projetou.

«É uma questão de honra deixar uma boa imagem»

O exemplo de 1997 é o último mas há outros. A primeira vez que o FC Porto teve de correr atrás de uma desvantagem tão grande foi em 1978/79, também na Taça dos Campeões, frente ao AEK Atenas. Na Grécia, a equipa de José Maria Pedroto sofreu a mais pesada derrota de sempre nas provas europeias, igualada por Julen Lopetegui em Munique, em 2015: 6-1.

«O resultado lá foi demasiado pesado mas não foi fruto da diferença de qualidade entre as equipas. O AEK não tinha, nem de perto nem de longe, equipa para nos dar 6-1. As circunstâncias do jogo e a eficácia deles assim o ditaram», lamenta José Alberto Costa, ao nosso jornal.

O antigo avançado foi titular nos dois jogos dessa eliminatória. E o FC Porto da segunda mão, atesta, foi tão diferente do da primeira que...ainda sonhou com a reviravolta.

«Corremos riscos logo de início. O Pedroto colocou uma equipa de ataque. De muito ataque. Por exemplo, o Rodolfo, que era o trinco, jogou como falso central: era central a defender e subia para o meio campo a atacar. A abordagem era a de tentar, no mínimo, mostrar que aquela não era a diferença entre as duas equipas», explica.

O FC Porto goleou, também, mas por números mais baixos. «Ganhámos 4-1», recorda Costa, que esteve ainda noutro cenário semelhante em 1983. Na altura a contar para a Taça UEFA, o FC Porto perdeu 4-0 em Bruxelas, com o Anderlecht, e na segunda mão venceu 3-2, depois de ter estado a perder 2-0.

Ainda sobre a eliminatória com os gregos sublinha: «Só não igualamos a eliminatória porque o AEK, desde cedo, se remeteu a uma situação muito defensiva e porque os golos surgiram já tarde no jogo. Só deu para quatro.»

De qualquer forma, o antigo jogador do FC Porto sublinha que o atual cenário tem de ser necessariamente diferente. Não aconselha, por exemplo, a que Conceição imite Pedroto e lance uma estratégia deliberadamente ofensiva. Por vários motivos, entre os quais, o poderio do rival.

«O Liverpool, mesmo que não seja uma equipa para uma diferença de 5-0 para o FC Porto, temos de admitir que é superior. Essa é logo uma desvantagem. Mas há mais. O resultado da primeira mão, claro, e também o facto de jogarem fora de casa. É praticamente impossível, mas é uma questão de honra deixar uma boa imagem e mostrar que o primeiro resultado não corresponde à realidade», sublinha.

«Nem se pode pensar em reviravolta»

O Maisfutebol ouviu ainda Jaime Magalhães, campeão europeu em Viena que, dois anos depois, viveu também o seu momento complicado numa eliminatória europeia. Em 1988/89, o FC Porto perdeu por 5-0 em Eindhoven, frente ao PSV, na segunda eliminatória da antiga Taça dos Campeões Europeus.

«Agora são outros tempos. Em primeiro lugar, jogam fora e nós jogávamos em casa na altura. Depois tudo é diferente. Tudo. Até o peso da bola», brinca.

O FC Porto venceu 2-0 nas Antas, com golos de Rui Águas e Domingos. Não chegou, claro.

Agora, Jaime Magalhães considera que nem é preciso vencer em Inglaterra para retocar a imagem: «A equipa já deu a resposta aos 5-0 nos jogos seguintes. É preciso é uma boa exibição e sair com a consciência de que se deu tudo.»

«Nem se pode pensar em reviravolta. Isso é extremamente difícil. Os jogadores devem entrar com a cabeça em dignificar o nome do clube. Tudo o que não seja ser novamente derrotado será um resultado positivo para a moral da equipa», defende o antigo jogador.

Barroso dá ainda outra achega: com a eliminatória praticamente decidida, o melhor para o FC Porto era pensar mais à frente.

«Acho que o objetivo do FC Porto deve passar por fazer um bom jogo e descansar alguns jogadores porque é mais complicado ainda, jogando fora. Com 5-0 em casa, acho que o melhor caminho para o FC Porto é focar-se no campeonato, mas encarar o jogo de frente. Não é fácil, mas claro que o FC Porto vai querer ganhar. Se ganhar, mesmo que não passe, será um bom tónico para a equipa e um mal menor na eliminatória», explica.

José Alberto Costa defende que Sérgio Conceição pode estar a viver um dilema precisamente entre a vontade de corrigir a imagem do clube e a necessidade de analisar o grupo e o calendário a médio prazo.

«As probabilidades de ficar por aqui são de 99 por cento. Acho que não deve arriscar como fizemos cá, naquela altura [1979]. Deve entrar com cautelas e jogar com cabeça. O FC Porto tem de ser realista e sair de cabeça erguida», encerra.

Goleadas sofridas em jogos da primeira mão:

1978/98 – AEK Atenas, 6-1 (Liga dos Campeões)

Resultado da 2.ª mão: vitória por 4-1

1982/83 – Anderlecht, 4-0 (Taça UEFA)

Resultado da 2.ª mão: vitória por 3-2

1988/89 – PSV Eindhoven, 5-0 (Liga dos Campeões)

Resultado da 2.ª mão: vitória por 2-0

1996/97 – Manchester United, 4-0 (Liga dos Campeões)

Resultado da 2.ª mão: empate 0-0

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