A «bomba» que explodiu na Suíça desmontada em cinco partes - TVI

A «bomba» que explodiu na Suíça desmontada em cinco partes

Dois vice-presidentes do organismo que regula o futebol mundial estão entre vários detidos por vários crimes que vão desde o suborno, à extorsão passando pelo branqueamento de capitais em investigações que cruzam o Atlântico

As notícias foram surgindo em catadupa, como estilhaços de uma bomba que demorou a calar-se. As detenções de altos responsáveis da FIFA, incluindo vice-presidentes revelaram as investigações que estão em curso nos Estados Unidos desde há bastante tempo e que recuam também a acontecimentos de há mais de duas décadas. Pelo meio, ficou a conhecer-se uma outra investigação suíça e a saber que o maior murro na mesa já foi dado pela UEFA. Fazemos em cinco pontos uma análise do que aconteceu nesta quarta-feira quente.

- O que está a ser investigado?
Há duas investigações em simultâneo, que são independentes.

1 - Uma investigação começou a 10 de março e diz respeito a irregularidades por enriquecimento ilícito na atribuição das organizações do Mundial 2018 na Rússia e do Mundial 2022 no Qatar. Há suspeitas de gestão danosa em prejuízo da FIFA e de lavagem de dinheiro através de bancos suíços.

2 - A outra investigação incide sobre conspirações para extorsão, fraude e lavagem de dinheiro, entre outros crimes, por atos de corrupção através do futebol internacional.

Há suspeitas de atividades criminais desde 1991 até ao presente incluindo as seguintes competições:
Qualificações da CONCACAF para o Campeonato do Mundo da FIFA;
Gold Cup da CONCACAF;
Liga dos Campeões da CONCACAF;
Copa América Centenário com organização conjunta de CONCACAF e CONMEBOL;
Copa América da CONMEBOL;
Taça Libertadores da CONMEBOL;
COPA do Brasil da CBF.

A acusação alega o recebimento de subornos e luvas por dirigentes dos organismos desportivos pagos por executivos de empresas de marketing. O objetivo do esquema era garantir o apoio oficial das entidades desportivas na obtenção de contratos. Ultrapassadas as empresas concorrentes através de subornos e luvas pagas a dirigentes do futebol (avaliados em 150 milhões de dólares – cerca de 137 milhões de euros), os contratos garantidos eram então negociados com outras empresas de marketing e com os radio e teledifusores.
 

Este foi um quadro apresentado pela justiça dos EUA.

Nestes esquemas de alegados subornos estão também incluídos dois outros eventos:
Escolha do organizador do Mundial 2010;
Eleições para a presidência da FIFA em 2011.

- Quem está a investigar?
A investigação às escolhas dos organizadores dos Mundiais 2018 e 2022 está a ser feita pela Procuradoria Geral da Suíça.

As suspeitas de corrupção no favorecimento de empresas e obtenção de contratos, que alegadamente dura há 24 anos através de subornos, estão a ser investigadas pela Procuradoria do Distrito Este de Nova Iorque (dos Estados Unidos) – bem como pela polícia federal dos EUA, no departamento nova-iorquino do FBI, assim como pelo departamento de Los Angeles da investigação criminal tributária norte-americana.

As autoridades suíças explicaram que foi o seu Gabinete Federal de Justiça quem ordenou as detenções das pessoas sob as acusações da investigação dos EUA, em resultado de coopração legal internacional.

- Quem está sob investigação?
As escolhas para os Mundiais 2018 e 2022 foram objeto de uma queixa contra desconhecidos interposta pela FIFA na Procuradoria Geral da Suíça a 18 de novembro de 2014.

Nesta quarta-feira, as autoridades helvéticas anunciaram o interrogatório de 10 pessoas que participaram na votação que atribuiu os Mundiais. Estes membros do Comité Executivo da FIFA em 2010 forma ouvidos na condição de pessoas que podem fornecer informações.

As autoridades suíças informaram ainda que, numa base de cooperação coma FIFA, confiscou dados e documentos nas instalações do organismo, assim como já o tinha feito em várias instituições bancárias do país.

A investigação feita nos Estados Unidos pronunciou nove pessoas: nove dirigentes do futebol e cinco empresários. Dos nove dirigentes, sete foram detidos – dois deles são atuais vice-presidentes da FIFA.

Os sete arguidos detidos são:
Jeffrey Webb (vice-presidente da FIFA)
Eugénio Figueiredo (vice-presidente da FIFA)
Eduardo Li (membro do Comité Executivo da FIFA)
Júlio Rocha (diretor da FIFA)
Costas Takkas (assessor do presidente da CONCACAF)
Rafael Esquível (membro do Comité Executivo da CONMEBOL)
José Maria Marín (membro do Comité da FIFA para os Jogos Olímpicos)

Os outros dois arguidos nos EUA são:
Jack Warner (antigo vice-presidente da FIFA e ex-presidente da CONCACAF)
Nicolás Leoz (antigo membro do Comité Executivo da FIFA e ex-presidente da CONMEBOL)

Os cinco empresários arguidos são:
Alejandro Burzaco (diretor da Torneos Y Competencias)
Aaron Davidson (presidente da Traffic Sports EUA)
Hugo Jinkis (director da Full Play Group)
Mariano Jinkis (director da Full Play Group)
José Margulies (director da Valente Corp. and Somerton – tido como um intermediário)

Na investigação norte-americana, quatro indivíduos e duas empresas já se deram como culpados em várias acusações:
Chuck Blazer (antigo secretário-geral da Concacaf e ex-representante dos EUA no Comité Executivo da FIFA) deu-se como culpado, em novembro de 2013, de conspiração para fraude e lavagem de dinheiro (entre outras acusações);
José Hawilla (dono da Traffic Group, multinacional de marketing desportivo com sede no Brasil e várias empresas associadas) deu-se como culpado, em dezembro de 2014, de conspiração para extorsão, fraude e branqueamento de capitais (entre outras acusações);
Daryll Warner (filho de Jack Warner) deu-se como culpado, em julho de 2013, de fraude (entre outras acusações);
Daryan Warner (filho de Jack Warner) deu-se como culpado, em outubro de 2013, de conspiração para fraude e lavagem de dinheiro (entre outras acusações);
Traffic Sports International (conspiração para fraude);
Traffic Sports USA (conspiração para fraude).



- Onde fica a FIFA no meio disto tudo?
A FIFA reagiu a vários tempos ao que foi acontecendo e sendo revelado sobre as investigações nesta quarta-feira.

A primeira reação oficial foi feita pelo porta-voz Walter Gregorio. De manhã, o diretor de comunicação do organismo frisava que a FIFA era a parte lesada, como é destacado na investigação suíça, mas também ainda desconhecia as buscas reveladas pela procuradoria helvética.

Mais tarde, um comunicado do organismo destacava a investigação suíça aos Mundiais 2018 e 2022, porque pedida pela própria FIFA, e cuja realização como prevista tinha sido já antes mantida por Gregorio.

O porta-voz da FIFA também já tinha deixado claro que as eleições de sexta-feira para a presidência da FIFA se mantinham como previstas.

Mais tarde, e já depois de ter sido anunciado pelo Comité de Ética da FIFA a suspensão de qualquer atividade relacionada com o futebol para 11 envolvidos nas investigações (Jeffrey Webb, Eduardo Li, Júlio Rocha, Costas Takkas, Jack Warner, Eugénio Figueredo, Rafael Esquível, José Maria Marin, Nicolás Leoz, Charles Blazer e Daryll Warner), foi a vez de Sepp Blatter se pronunciar.

O atual presidente da FIFA e mais provável vencedor das próximas eleições destacou o papel do organismo na investigação das autoridades, não só prometendo ajudar no processo como promovendo o afastamento de quem violar a ética no futebol.

- As eleições para presidente da FIFA mantêm-se?

As reações do mundo do futebol não podiam deixar-se de fazer sentir. Uma das primeiras e com mais importância foi dada pela UEFA com a marcação de uma reunião extraordinária logo na quarta-feira com uma segunda parte agendada para esta quinta-feira.

Não foi preciso chegar ao segundo dia para a UEFA pedir o adiamento das eleições da FIFA. O secretário-geral do organismo que dirige o futebol europeu defendeu o adiamento do congresso da FIFA e a marcação das eleições para os próximos seis meses.

Luís Figo foi uma das figuras públicas do futebol a marcar a sua posição em nome individual apelidando de erro a votação que ainda está prevista pela FIFA para sexta-feira.

Leia e veja AQUI todos os episódios envolvendo a FIFA À medida que foram acontecendo.
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