O guardião do dérbi que o Benfica dispensou em júnior - TVI

O guardião do dérbi que o Benfica dispensou em júnior

FC Porto-Benfica (Lusa)

Vítor Alcino, treinador de guarda-redes de Ederson no Ribeirão, em 2011/12, recorda que o brasileiro «nunca se rendeu» após ter sido preterido nos escalões jovens dos encarnados

Nas suas luvas o Benfica segurou a vitória no dérbi frente ao Sporting; e para a redação do Maisfutebol Ederson é a grande figura da 13.ª jornada da Liga.

Curiosamente, a primeira vez que o guarda-redes brasileiro foi titular no campeonato com a camisola do Benfica foi no anterior dérbi frente ao Sporitng, a 5 de março, quando em Alvalade os encarnados venceram com um golo de Mitroglou e passaram para a frente da Liga numa fase determinante para a conquista do tricampeonato.

Ederson foi o dono da baliza do Benfica até ao final da temporada 2015/16, mas só ganhou em definitivo a luta pela titularidade com compatriota Júlio César (recuperado de lesão neste início de época) a 2 de outubro deste ano, desde a 7.ª jornada da Liga.

Desde a goleada por 4-0 ao Feirense, entre Liga, Taça de Portugal e Liga dos Campeões Ederson somou 12 jogos como titular na equipa de Rui Vitória, que nesse período sofreu dez golos. As exibições sobretudo nos clássicos frente a FC Porto (apesar do erro no golo de Diogo Jota) e Sporting mostraram a qualidade do guarda-redes internacional pela seleção olímpica do Brasil.

Nada que surpreenda quem conhece Ederson desde que este dava os primeiros passos como sénior no futebol português.

Vítor Alcino, atual treinador de guarda-redes do Famalicão, orientou o atual dono das redes encarnadas em 2011/12 quando ocupava as mesmas funções no Ribeirão.

Ederson havia sido dispensado em definitivo dos juniores do Benfica, onde tinha chegado aos 15 anos, proveniente do São Paulo, e acabou por rumar ao Minho por diligência do presidente, que o desviou de um clube dos arredores de Lisboa.

Tinha 18 anos, mas a idade de júnior não o impediu de afirmar-se como titular na equipa principal que militava no Campeonato Nacional de Seniores (atual Campeonato de Portugal), terceiro escalão do futebol nacional, deixando para trás o bem mais experiente António Marafona, então com 31 anos, irmão de Carlos Marafona, guarda-redes do Sp. Braga.

«Fiquei surpreendido com a dispensa dele dos juniores do Benfica, porque tinha uma margem de progressão e uma qualidade impressionante para a idade. Entre os postes já era um guarda-redes acima da média. Era fora do normal em termos de reflexos. Revelava muita frieza. Ia buscar bolas impossíveis com tranquilidade. E no jogo com os pés, apesar de só com o tempo ele ter melhorado a precisão, ele já mostrava ter um pontapé fortíssimo. No campo do Ribeirão ele conseguia atirar a bola de uma baliza à outra», destaca Vítor Alcino, recordando que a equipa aproveitou a oportunidade para criar uma jogada nas qualidades de Ederson:

Não há fora de jogo no pontapé de baliza, mas muitas equipas do Campeonato de Portugal não sabiam isso. Fazíamos uma jogada em que colocávamos o avançado entre a linha defensiva adversária e o seu guarda-redes. Como o Ederson tinha um pontapé de uma área chutava diretamente para o nosso ponta-de-lança. Isolámos três vezes o nosso avançado num jogo contra o Varzim. Recentemente, vi que o Benfica tem uma jogada em tudo semelhante: o Jonas fica esquecido lá atrás a apertar a chuteiras, junto ao guarda-redes adversário e para lá da linha defensiva, e o Ederson chuta forte para tentar isolá-lo. Aliás, não foi por acaso que quando na época passada jogou contra o Benfica, o Guardiola disse que o Ederson obrigava o Bayern a defender mais atrás.»

Ederson e a sua gama de recursos não demorou a dar nas vistas. De tal forma, que acabaria por transferir-se para o Rio Ave em 2012/13, onde seria treinado por Nuno Espírito Santo e Rui Barbosa, uma dupla que agora faz parte da equipa técnica do FC Porto. Na primeira época foi suplente de Oblak, outro que viria a brilhar no Benfica, mas nas duas seguintes ganhou a titularidade a Salin e Cássio.

Até que em 2015/16 teve o regresso ao clube encarnado, mostrando que a dispensa dos juniores havia sido um equívoco.

Vítor Alcino, que além de treinador de Ederson era seu vizinho em Ribeirão (viviam no mesmo prédio), lembra como o brasileiro estava destinado a altos voos: «Era um rapaz cinco estrelas, muito tímido, mas ambicioso. Ele nunca se mostrou rendido com a dispensa do Benfica. Sabia as qualidades que tinha e trabalhava muito para chegar longe. Por exemplo, sempre que fazíamos uma série de exercícios, ele pedia-me para repetir uma e outra vez. Quando não estava no treino, ia para o ginásio», diz o antigo treinador, concluindo: «Hoje é fácil falar. Mas na altura eu disse ao presidente do Ribeirão: “Este rapaz está na Liga daqui a dois anos. Nem demorou tanto. Sabia que ele ia ser um “monstro” na baliza. E não é que não me enganei?»

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