Tecnologia e lipoaspirações: a palestra de Collina sobre os árbitros - TVI

Tecnologia e lipoaspirações: a palestra de Collina sobre os árbitros

Pierluigi Collina (Foto FPF)

Líder do Comité de Árbitros da FIFA foi um dos oradores no último dia do Football Talks. Antigo juiz falou sobre a importância de se continuar a investir na preparação física dos árbitros e nas ferramentas que lhes são dadas na preparação para os jogos

Pierluigi Collina reiterou nesta sexta-feira que o futuro do futebol passa pela tecnologia no apoio ao trabalho dos árbitros. «É possível trabalhar na preparação dos árbitros e melhorar a preparação. Mas, mesmo assim, é impossível competir com a tecnologia. Vivemos num mundo em que estamos rodeados de tecnologia. O futebol não pode evitá-la», disse o líder do Comité de Árbitros da FIFA, que foi um dos oradores no último dia do Football Talks, nesta sexta-feira.

O antigo árbitro, considerado em 2010 pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol o melhor juiz de sempre, lembrou que só a tecnologia permitirá ajudar as equipas de arbitragem a reduzir ao máximo os erros e recordou um golo não validado à Ucrânia durante um jogo com Inglaterra no Euro 2012 e que daria ao país do leste da Europa, co-anfitrião da competição, o empate. «Houve algumas críticas contra o árbitro que não foi capaz de ver a bola entrar na baliza. A tecnologia provou que a bola entrou por 2,2 centímetros: 2,2 centímetros! Isso não é para um ser humano, mas sim para a tecnologia», sublinhou.

Para Collina, o conforto da tecnologia da linha de golo ou do vídeo-árbitro servirá, no entanto, de pouco, se não continuar a existir uma preocupação constante pela preparação das equipas de arbitragem. «Mesmo usando a tecnologia continuamos a precisar da melhor preparação para reduzir o número de erros.»

Durante o discurso, o antigo juiz italiano frisou a importância que uma boa forma física tem para a tomada de decisão. «Com o cansaço perde-se lucidez. Se não estiveres lúcido, é muito provável que cometas um erro. Simplesmente porque estás cansado.» E ser árbitro cansa: sabia, por exemplo, que os batimentos médios holandês Bjorn Kuipers, árbitro da final da Liga dos Campeões de 2014 entre Real e Atlético Madrid, em Lisboa, rondaram os 119 por minuto durante duas horas?

E lembra-se daqueles antigos árbitros com barriguinha que pareciam arrastar-se pelo retângulo de jogo? Também esse aspecto foi focado por Pierluigi Collina durante a palestra. «A imagem que tínhamos da forma dos árbitros não era, tirando algumas exceções, muito positiva. Trabalhamos fortemente nisso», garantiu, reconhecendo depois que o grau de tolerância para com um erro de um juiz em boa forma é maior do que para com um erro similar de outro árbitro que não aparente estar em boa forma física.

Collina apresentou provas de que os árbitros de elite de hoje em dia estão até cada vez mais parecidos a atletas de alta competição. Em 2012, por exemplo, apenas 28 por cento apresentavam os mesmos índices de massa gorda do que a média dos futebolistas; no ano passado os números apresentados eram de 83 por cento. «Não fizeram nenhuma lipoaspiração: apenas trabalharam muito.»

Preparação física, mental, treino no campo e constante formação. Tudo isto é importante para o sucesso do trabalho dos juízes. Ao longo do ano, a UEFA organiza duas formações, no início e a meio da época, mas tem à disposição dos árbitros uma plataforma permanente que lhes fornece uma série de ferramentas para analisar as decisões tomadas durante os jogos. Para os assistentes foi criado até um simulador de situações de foras de jogo. «Como na Fórmula 1», exemplificou, referindo que os assistentes acertaram em quase 95 por cento das decisões que tomaram em jogos das últimas temporadas na Liga dos Campeões.

Collina não quer deixar nada ao acaso. Até porque as tecnologias, o conhecimento das regras e uma boa forma física podem não bastar. É preciso, frisou, «estar um passo à frente».

O que é preciso mais, então? «Cada jogo é diferente de outro. É importante fornecer um serviço para um jogo em particular. Um árbitro deve saber tudo sobre o jogo que vai arbitrar. Assim não vai ser surpreendido por nada», apontou Collina. Saber tudo implica ter conhecimentos caraterísticas técnicas de jogadores, acerca dos sistemas de jogo das equipas e até de que forma são feitas as marcações nas bolas paradas.

Por isso mesmo, Collina, que é também presidente do Comité de Árbitros da UEFA, lembrou que antes do Euro 2016 foram contratados treinadores para que analisassem todas as 24 equipas presentes na competição e fornecessem às equipas de arbitragem as ferramentas necessárias para uma melhor condução dos jogos. «Antes de cada jogo sabiam o que esperar. Estou convencido de que uma das razões pelas quais o Euro foi tão bem sucedido em termos de arbitragem foi por causa deste apoio aos árbitros.»

Lá está: é preciso estar um passo à frente.

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