Quais são as odds para um choque entre Hamilton e Verstappen na primeira curva? - TVI

Quais são as odds para um choque entre Hamilton e Verstappen na primeira curva?

Lewis Hamilton e Sergio Perez no GP do Brasil (Sebastião Moreira/EPA)

O mundo vai estar domingo de olhos na televisão, à espera de ver um acidente na luta mais apertada pelo título de Fórmula 1 dos últimos anos. Quem gosta da modalidade a sério, porém, preferia ver uma corrida limpa. E diz que Hamilton tem uma ligeira vantagem.

O mundo do automobilismo está em suspenso até domingo às 13 horas. Em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, Vax Verstappen e Lewis Hamilton vão disputar aquele que se arrisca a ser o Grande Prémio mais mediático da história.

«Não me lembro de ver na televisão nacional e internacional falar tanto de Fórmula 1 como esta semana», diz Tiago Monteiro. «Porquê? Porque o Grande Prémio da Arábia Saudita, na semana passada, foi emocionante e esta última corrida vai ser elétrica.»

Vão ser milhões, portanto, a acompanhar pela televisão o último Grande Prémio do campeonato. A maior parte dos quais, à espera provavelmente de ver um choque entre os dois pilotos. Hamilton e Verstappen estão empatados no primeiro lugar, com vantagem para o holandês, pelo que a única coisa que se sabe é que se nenhum dos dois terminar, Verstappen é campeão.

Por isso as odds para um acidente na primeira curva devem estar altíssimas.

É verdade que a Fórmula 1 já veio avisar que não vai tolerar comportamentos antidesportivos, ameaçando tirar pontos a quem o fizer, mas da memória é impossível apagar choques mediáticos como aconteceram entre Ayrton Senna e Alain Prost ou Michael Schumacher e Damon Hill, quando na luta pelo triunfo no campeonato e os pilotos não hesitaram em provocar um acidente.

«Acho que as possibilidades de um choque são grandes, mas também acho que a Fórmula 1 já avisou de algo superimportante: pode tirar pontos por condutas antidesportivas. Isto traz muito à baila o que aconteceu entre Senna e Prost em 1990, quando o Senna disse que não ia sequer travar na primeira curta e não travou», diz o piloto Filipe Albuquerque, que chegou a testar a Fórmula 1.

«Numa corrida como esta, a possibilidade de haver um embate é muito alta e claramente vejo o Verstappen com feitio para fazer isso. Basta lembrar que na primeira metade do campeoonato, quando estava com o carro menos rápido, sabia que tinha de ser mais agressivo na frente e era-o.»

Filipe Albuquerque adianta, de resto, que ele próprio já passou por situações semelhantes e por isso entende que naquele momento valha tudo.

«Cada vez mais descarto um acidente na primeira curva, até porque a curva um é muito rápida e com escapatória, mas não descarto que isso aconteça mais tarde. Isso acontece com todos e aconteceu comigo em Daytona. Quando estamos apertados e não temos nada a perder, avaliámos todas as possibilidades. O cérebro de um piloto é ocupado em 50 por cento com o que é preciso fazer na corrida e nos outros 50 por cento é ocupado a fazer contas à classificação.»

Tiago Monteiro, que correu dois anos na Fórmula 1, também acha que a possibilidade de haver um toque que atire os dois para fora da pista «é grande».

«Sabemos que ninguém quer isso, que toda a gente quer evitar. O Versttapen tem a vantagem de saber que se baterem, ele é campeão. Os dois são ultracompetitivos e se a oportunidade surgir, os dois vão pensar nisso. Mas não acredito que de uma forma premeditada, até porque se for demasiado óbvio, quem o fizer é penalizado. Agora se um deles se põe a jeito e a oportunidade surge, numa prova com uma tensão tão alta...»

Francisco Melo, comentador de Fórmula 1, acredita, também ele, que pode acontecer.

«Depois do que vi na última corrida, acho que há uma probabilidade média-alta. Se o Verstappen fizer a pole e der a primeira curva na frente, ou se arrancar em segundo ou terceiro, mas passar para a frente na primeira paragem, acredito que existe uma possibilidade média-alta, sim», atira.

«O Verstappen é mais agressivo, em Imola e Barcelona só não aconteceu porque o Hamilton tirou o pé. Ele tem esse feitio como tinha o Schumacher de se atirar para cima do adversário, sem dúvida. Se estiver a correr riscos, não tenho dúvidas de que vai mergulhar.»

Francisco Melo refere, no entanto, tal como Filipe Albuquerque e Tiago Monteiro, que espera que a corrida seja limpa até ao fim. Até porque não acredita que a Fórmula 1 ganhasse mais com um choque entre os dois pilotos, por muito buzz que isso viesse a dar.

«O Drive to Survive trouxe muito mais gente para a Fórmula 1, sobretudo mulheres. Mas também trouxe muito uma mentalidade de claque de futebol, de fanatismo e daquela coisa do estás comigo ou estás contra mim. Para mim não seria bom haver um choque e espero que não aconteça. Daria um grande buzz, mas seria pela negativa e dava um mau exemplo para os miúdos, que ao ver os pilotos de Fórmula 1 decidirem um campeonato assim podiam achar que também o podiam fazer.»

Posto isto, resta esperar um Grande Prémio de Abu Dhabi para voar, e recordar.

Os condimentos estão todos lá: dois grandes pilotos, dois grandes carros e uma final. Tudo se vai decidir numa corrida apenas, o que promete colocar o mundo em frente à televisão.

Ora em vésperas da luz de partida ficar verde, os especialistas ouvidos pelo Maisfutebol acham que Lewis Hamilton parte com algum favoritismo.

«A lógica diz que Hamilton e a Mercedes têm uma pequena vantagem, tanto em performance como em experiência. O Verstappen é um jovem cheio de talento, sem dúvida, mas o Hamilton é mais experiente. E depois, claro, o material dele é melhor», considera Tiago Monteiro.

«Acho que estamos muito 50-50. O Verstappen foi mais rápido nos primeiros treinos, mas não será por aí. Estou inclinado para uma corrida mais limpa, com Hamilton a ganhar. Vai depender muito das primeiras voltas. Se o Hamilton liderar nas primeiras voltas, acho que vai ganhar», adianta Filipe Albuquerque.

«Acho que o Hamilton vai ser campeão, mas não vai ganhar a corrida. Acho que o Bottas vai ganhar a corrida, o Hamilton é campeão e vamos ter um dos Alpine top-3. Acho que o pódio vai ser Bottas, Perez e Ocon», termina Francisco Melo.

Já sabe. Domingo, 13 horas. Na Eleven.

Outros campeonatos que terminaram em embates entre os da frente:

Ayrton Senna vs Alain Prost, 1989

No Grande Prémio do Japão, Ayrton Senna precisava de ganhar para chegar à última corrida, na Austrália, com hipóteses de ser campeão. O brasileiro partiu na frente, mas Alain Prost tomou a liderança ainda na primeira volta. Na volta 47, Senna tentou passar, foi tocado por Prost. O francês saiu logo do carro, o brasileiro pediu ajuda e voltou para pista. Mesmo com o McLaren danificado, Senna foi até ao fim e ganhou a corrida. Os comissários, porém, desclassificaram Senna por ter saído pela chicana e Prost foi campeão logo ali.

Ayrton Senna vs Alain Prost, 1990

Novamente no Japão, novamente em Suzuka, surgiu a terceira decisão entre Ayrton Senna e Alain Prost. Desta vez foi o brasileiro a servir a vingança num prato frio. Prost precisava de fazer mais pontos do que Senna para levar a decisão para a última corrida, Senna partiu da pole-position, Prost tentou ultrapassá-lo na primeira curva e a discussão acabou após nove segundos… e 800 metros. Senna atirou-se para cima de Prost, os dois saíram de pista e o brasileiro era campeão.

Michael Schumacher vs Damon Hill, 1994

Michael Schumacher e Damon Hill partiram da última corrida, na Austrália, separados por um ponto, com o alemão na frente. Nigel Mansell conseguiu a pole, mas afastou-se logo na partida da disputa pela liderança e deixou os dois pilotos na frente. Schumacher foi sempre na frente, até que na volta 36 errou uma curva, bateu no muro e regressou à pista com o carro danificado. Damon Hill tentou ultrapassá-lo e o alemão atirou o Benetton para cima do Williams do adversário. O alemão ficou logo ali, Damon Hill ainda foi até às boxes, mas um problema no carro obrigou-o a desistir e Schumacher celebrou o primeiro título de campeão da Fórmula 1.

Michael Schumacher vs Jacques Villeneuve, 1997

A corrida era para ser no Estoril, mas problemas na pista mudaram o Grande Prémio para Jerez, em Espanha. Mais uma vez Schumacher, agora ao volante de um Ferrari, partiu com um ponto de vantagem e liderava a corrida, quando Jacques Villeneuve o tentou ultrapassar na volta 21. O alemão atira novamente o carro para cima do Williams adversário, mas desta vez correu-lhe mal: ele ficou na área, Villeneuve continuou e terminou em terceiro, sagrando-se campeão. Para além disso, a FIA considerou que Schumacher teve uma conduta antidesportiva e retirou-lhe todos os pontos, acabando por perder também o segundo lugar.

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