Trincão: o campeão europeu que era «só mais um» no FC Porto - TVI

Trincão: o campeão europeu que era «só mais um» no FC Porto

Francisco Trincão (Foto: Vianense)

O percurso de uma das figuras de Portugal na Finlândia, relatado ao Maisfutebol por quem com ele se cruzou

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Artigo originalmente publicado a 30 julho de 2018

Francisco António Machado Mota Castro Trincão. Ou simplesmente Francisco Trincão. Um nome que não irá passar despercebido daqui em diante, sobretudo após as prestações no Europeu de Sub-19. Deu-se a conhecer ao mundo na Finlândia, mas a relação de amor com a bola começou muito antes.

O melhor marcador do Euro sub-19 – a par de Jota - é natural de Viana do Castelo e foi na cidade nortenha que pisou pela primeira vez um relvado. O Sport Clube Vianense abriu-lhe as portas e Trincão não tardou a evidenciar-se. João Branco foi o primeiro treinador de Trincão e, de imediato, apercebeu-se do talento que tinha em mãos.

«O Francisco era um miúdo muito simpático que estava sempre bem disposto. Além disso, mostrava uma enorme vontade de aprender. Era franzino, mas tinha um pé esquerdo que não enganava», lembrou com orgulho, o treinador.

A opinião de João Branco foi corroborada por Marco Miranda, coordenador da academia vianense. «Rapidamente se destacou dos restantes. Era muito rápido e fortíssimo no um contra um. Já com nove anos demonstrava excelente capacidade de finalização.»

O dom quase inato do canhoto com a bola era sinónimo de problemas tanto para colegas como para adversários. E nem o próprio treinador escapou ileso.

«Em determinados treinos, entrava no jogo com eles. Um dia, numa dessas peladas, o Francisco fez-me uma “cueca”. Parou, olhou para trás e começou a sorrir para mim», rememorou João Branco, entre risos.
 

Foto arquivo João Branco: Francisco Trincão, primeiro em baixo, da esquerda para a direita, na equipa de benjamins do Sport Clube Vianense.


De resto, o Sport Clube Vianense contou com uma geração de tremenda qualidade. Trincão partilhou o balneário com Pedro Neto (Lázio) e Tomás Silva (sub-23 do Sporting). Os três despertaram a atenção de vários emblemas e optaram por crescer em clubes diferentes.

Francisco Trincão rumou ao FC Porto e, sem saber, acabou por eleger o percurso mais sinuoso para chegar ao topo. Várias vezes por semana, os pais levaram-no de Viana do Castelo até ao Olival. Contudo, os esforços revelaram-se infrutíferos: a experiência nos dragões nem uma época desportiva durou.

Humberto Costa, à época treinador dos sub-10 dos dragões, recordou «um miúdo de trato fácil» que não se conseguiu evidenciar.

«O Trincão chegou ao FC Porto com 10 anos. Penso que estranhou a mudança de um clube mais pequeno para um com outra dimensão. O confronto com as instalações, o facto de saber que está no FC Porto, a competitividade interna… Há miúdos que demoram a encarar tudo isso e a evoluir. Notava-se que tinha gosto em jogar futebol, mas não se conseguia distinguir muito dos restantes. Havia colegas, na altura, que mostravam um rendimento superior. É perfeitamente natural», atirou antes de completar a ideia.

«Não se conseguia distinguir pela positiva. Mostrava gosto em jogar e tecnicamente era bom, mas no FC Porto existem muitos assim. Era mais um, não se destacava naquela época.»

O técnico refere-se ao jogador de Viana do Castelo como um jovem «muito educado, atento e que não levantava o mínimo problema». Ainda assim, acabou por sair da formação dos azuis e brancos.

«Saiu com a época a decorrer. Porquê? São assuntos internos do clube. Foi uma situação que me ultrapassou. Apenas me transmitiram a informação de que ele não iria continuar no clube. Não houve dispensa. O FC Porto dificilmente dispensa algum jogador a meio da época, enquanto lá estive era assim. As exceções são quando os pais solicitam para que os miúdos saiam», relatou.

 

Foto Maisfutebol: Gonçalo Trincão, pai de Francisco, à espera da chegada da seleção sub-19 ao aeroporto Humberto Delgado.


Foi o pai do futebolista bracarense, Gonçalo Trincão, que pediu ao FC Porto para libertar o filho. O progenitor de Francisco conduziu cerca de 200 quilómetros, semana após a semana, e começou a perguntar-se «se tanto esforço valeria a pena».

«Em dezembro abordei os responsáveis do FC Porto para que o Francisco saísse. Não foi possível. Dois meses mais tarde, insisti e deixei de o levar. Acabou por voltar a Viana do Castelo», esclareceu.
 

Trincão, juntamente com Jota, recebeu o prémio de melhor marcador do Europeu sub-19.


De saída do Olival, voltou onde foi feliz, ou seja, ao Sport Clube Vianense. De acordo com o pai, «esteve um período apenas a treinar até ao fim da época» e só depois foi recrutado pelo Sporting de Braga. Na Pedreira, encontrou o espaço ideal para crescer de forma sustentada e explanar todo o seu talento, antes de liderar, juntamente com Jota, a conquista do Europeu de sub-19.

«Fui acompanhando-o sempre nos sub-15, sub-17 e equipa B do Sporting de Braga. Desde os sub-15 que deu um salto qualitativo tremendo. As exibições dele no Europeu não me surpreenderam. Fico muito feliz por ele, naturalmente», disse Humberto Costa.

A diferença não está no talento. Está sim, nas condições que cada um tem para o desenvolver. Trincão é prova disso.

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