Diogo Helena: do Porto à América por uma bola oval - TVI

Diogo Helena: do Porto à América por uma bola oval

Diogo Helena

Tem 19 anos e é o primeiro jogador de futebol americano em Portugal a participar no WDT, um programa que seleciona 99 dos melhores jovens jogadores não americanos da modalidade. O Maisfutebol foi conhecê-lo

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É daquelas paixões que surgem tarde e por acaso. Diogo Helena descobriu o futebol americano há quatro anos, quando encontrou na garagem de casa uma bola oval, algures entre o castanho e a cor de tijolo, uma das heranças que o pai trouxera do Canadá, onde estudou durante o high school (secundário) e o college (universidade).

«Fomos para a praia jogar. O meu pai fazia os passes e eu corria para apanhar a bola. Não conhecia muito o desporto, mas achei engraçado experimentar», conta à MF TOTAL o jovem de 19 anos.

Dois meses depois, Diogo já era jogador dos Porto Renegades, a primeira equipa de futebol americano a surgir em Portugal, em 2004, e uma das dez que integram a Liga Portuguesa de Futebol Americano. Ele, que confessa nunca ter sentido apelo (nem jeito) para a prática do nosso futebol ( soccer em «Terras do Tio Sam»). «Sempre tive uma mentalidade americana, que me foi incutida pelo meu pai. Já gostava de hóquei no gelo, por exemplo», diz.



No final de janeiro, Diogo Helena tornou-se no primeiro jogador português a participar no World Development Team Camp (WDT), um programa implementado em 2011 pela Federação Internacional de Futebol Americano (IFAF), que todos os anos seleciona 99 jogadores não-americanos, com idades inferiores a 20 anos, a participarem num estágio onde durante uma semana terão a possibilidade de melhorar os conhecimentos sobre o jogo.

«Achei que valia a pena tentar. Transmiti os meus dados e enviei um vídeo com o meus highlights (melhores momentos). A 19 de dezembro soube que tinha sido selecionado», recorda o atleta.

A Associação Promotora do Desporto de Futebol Americano em Portugal (APDFA), que se associou este ano pela primeira vez ao programa da IFAF, fez a ponte. «O Diogo Helena reuniu todas as condições para ir e representa um passo muito importante para que possamos contribuir para o desenvolvimento do Futebol Americano em Portugal», explica Isaías Moreira, presidente da organização que tutela a modalidade a nível nacional.


A quarta edição do World Development Team (WDT) realizou-se entre 25 e 31 de janeiro, em Arlington, arredores de Dallas (Texas). «Treinámos de segunda a sexta, três horas de manhã e entre duas horas e meia e três à tarde, com treinadores muito experientes. À noite, tínhamos uma sessão teórica onde fazíamos o balanço do dia», recorda o jogador.

Uma realidade muito diferente da portuguesa, onde Diogo Helena treina no máximo três dias por semana. «Estou a estudar engenharia eletrónica e telecomunicações em Aveiro e, por isso, não consigo acompanhar os treinos durante a semana. Nos Estados Unidos é tudo diferente. Conciliam a universidade com o desporto, ao contrário daqui, onde em primeiro lugar estão os estudos e só depois o desporto.»

Dos 99 atletas provenientes de 26 países, 50 foram selecionados para participar no International Bowl, um jogo que opôs os melhores jogadores não-americanos à seleção nacional sub19 dos Estados Unidos.

A partida foi realizada a 31 de janeiro no AT&T Stadium - palco do Super Bowl em 2011 e casa da equipa da NFL, Dallas Cowboys - e foi ganha pelos Estados Unidos por 20-15, com um touchdown já dentro do último minuto. Diogo não esteve em campo, mas fala de uma «experiência única». «Fiquei arrepiado quando entrei nesse estádio pela primeira vez. Durante a semana participei no Jamboree Game [jogo de treino contra a equipa sub 19 norte americana] e pisar aquele relvado foi um momento alto», refere.



Diogo Helena é wide receiver nos Porto Renegades. Em «futebolês», é uma mistura de extremo com ponta de lança, que recebe geralmente os passes do quarteback (o «cérebro» da equipa), membro responsável pela maioria das jogadas de ataque. É ele, portanto, quem conclui os golos ( touchdowns). «Um wide receiver precisa de ser rápido e de ter boas mãos para agarrar a bola», sintetiza o jogador.

Ter uma carreira ligada ao futebol americano é que parece estar fora dos planos de alguém que foi tocado pelo «bichinho» do desporto quase que por acaso. «Gostava muito, mas para isso precisava de ser mais novo. E, se quisesse, tinha de entrar primeiro para o high school e aí seguia com os estudos e o desporto em paralelo. Os planos para o futuro? Quero trabalhar na área das engenharias, mas não quero deixar de estar ligado ao futebol americano.»

End zone!

«Dentro de três anos, poderemos ter 15 equipas na Liga Portuguesa»

Isaías Moreira, presidente da Associação Promotora do Desporto de Futebol Americano - entidade responsável pela organização do campeonato nacional da modalidade - fala em aumento do interesse pelo desporto, mas lamenta falta de apoios

Qual a situação do futebol americano em Portugal?
«Tem vindo a desenvolver-se muito rapidamente. Em 2009 arrancou a primeira liga portuguesa de futebol americano, com apenas quatro equipas nacionais e uma vinda de Espanha, da Galiza. Entrámos na sexta edição, onde contamos já com dez equipas nacionais distribuídas pelo distritos de Braga, Porto Lisboa e Algarve».

Há perspetivas de continuar a crescer?
«Temos recebido contatos de imensas localidades que querem ter uma equipa de futebol americano, desde Coimbra, Viseu e Évora, esta já com um projeto em desenvolvimento. Temos fortes expetativas que este desporto se desenvolva ainda mais em Portugal».

Quantas equipas poderão estar na Liga Portuguesa de Futebol Americano (LPFA) a médio prazo?
«Na próxima época poderemos ter mais uma e, daqui a dois anos, talvez mais quatro equipas. Se daqui a três anos tivermos 15 equipas nacionais, será espetacular. Temos equipas com 60 atletas e isto só mostra o grande interesse que este desporto já desperta».

Quantos praticantes há em Portugal?
«Cerca de 450 atletas. Mas acredito que até ao final desta época poderemos ter 500 atletas com licença. Há ainda vários projetos a decorrer na área da formação e esse número pode disparar em breve».

Os portugueses estão mais interessados no futebol americano?
«Há cada vez mais pessoas interessadas em conhecer as regras do desporto. Há também mais público a aparecer. Em 2009 tínhamos uma base de fãs baseada nos familiares e agora já não é bem assim».

A APDFA recebe algum tipo de apoios para a organização da Liga?
«Não temos nenhum tipo de subsídios. Ainda não conseguimos ter uma candidatura a fundos públicos. Estamos a trabalhar nesse sentido. Precisamos de ter financiamento para conseguirmos colocar em práticas todos os projetos que temos em mente. Não somos financiados por via nenhuma, pública ou privada».

(...)
«Uma das ideias que queremos pôr em prática é a criação de uma seleção com os melhores jogadores portugueses de futebol americano e que possa participar em eventos internacionais como campeonatos do mundo ou europeus. Estamos a tentar reunir apoios nesse sentido».

Para quando?
«Se continuarmos a depender dos nossos próprios recursos, que são limitados, em 2016. Se encontrarmos apoios, acredito que já no final desta época possamos trabalhar nesse sentido».
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