Adeptos: a alavanca da recuperação dos clubes - TVI

Adeptos: a alavanca da recuperação dos clubes

Bruno de Carvalho

Presidente do Sporting e representante do Boca Juniors dissertaram na conferência «The Future of Football» sobre os pilares do sucesso das organizações desportivas mundiais. Caso da recuperação do clube argentino já foi estudado até por Harvard

Bruno de Carvalho recordou nesta quinta-feira o período que o Sporting atravessava quando assumiu a liderança dos leões em 2013.

Vínhamos da pior época da história do Sporting: sétimo lugar e a segunda vez em que não nos apurámos para as competições europeias», referiu o dirigente durante o congresso internacional «The Future of Football», que está a decorrer no Estádio José Alvalade.

O presidente do Sporting falou sobre os desafios que os dirigentes enfrentam nos tempos atuais e identificou os adeptos como motor principal do funcionamento de um clube e deu o exemplo do trabalho que tem executado no próprio emblema de Alvalade.

«O Sporting recentrou toda a sua política nos fãs. É para eles que nós trabalhamos, que queremos ganhar, ter vitórias e ter um clube sustentado financeiramente», frisou, defendendo que o sucesso económico e desportivo de uma organização está intimamente ligado ao reconhecimento dos apoiantes, o pilar, considerou, de tudo. «Conseguimos trabalhar na parte da reaproximação aos adeptos. O Sporting nunca esteve no top 10 dos clubes com mais associados do mundo e já estamos no top 5. Conseguimos fazer uma reestruturação financeira e daí seguimos para a terceira, que é a obtenção de resultados. (…) Conseguimos passar de um clube que estava prestes a fechar as portas para um clube que é hoje falado na Europa», apontou.

No mesmo painel, submetido ao tema «Gestão de nível de topo mundial, perspetiva de topo», falou Oscar Moscariello, embaixador da Argentina em Portugal e secretário de relações internacionais do Boca Juniors.

Depois de identificar a paixão dos adeptos com o único factor transversal à existência dos clubes («podemos mudar de partido, de mulher, mas nascemos e morremos adeptos do mesmo clube») Moscariello falou como o clube alviceleste se adaptou aos tempos modernos e conseguiu sair de uma situação difícil. «Depois de uma grave crise, a direção do clube foi assumida por alguém que é agora o Presidente da República do meu país [Mauricio Macri].»

O representante do emblema de Buenos Aires sublinhou que foi necessária astúcia, até porque, disse, o capital privado está impedido de entrar nas estruturas acionistas dos clubes daquele país. «O Boca Juniores conseguiu fazer a gestão do clube, indo para além dos próprios estatutos. Todas as secções do clube são pensadas do ponto de vista da organização de uma grande empresa.»

Para Oscar Moscariello, a reestruturação do Boca Juniors acabou por trazer resultados positivos, comprovados inclusive além-fronteiras. «Foi um caso de estudo na escola de negócios de Harvard, em que se estuda o clube como modelo de negócio de êxito.»

«Isso foi conseguido com muito esforço. Penso que o Boca Juniores deve ser um dos pouco clubes na Argentina que não tem dificuldades económicas e que pôde fazer investimentos ao nível da estrutura. Ainda há poucos dias foi estreado um centro de treinos semelhante ao de qualquer outro grande clube das ligas europeias. O Boca Juniors conseguiu mudar o sentido de organização, deixando de lado o amadorismo», rematou.

A violência transversal ao mundo do futebol foi também um dos assuntos discutidos neste painel do congresso organizado pelo Sporting. Em resposta a uma pergunta da plateia, Bruno de Carvalho considerou que é importante não generalizar a ideia de que os comportamentos marginais são regra. «Tenho muitos amigos que são do Benfica e do FC Porto e não podemos generalizar as coisas: 99 por cento dos benfiquistas não querem que nada disto aconteça e 99 por cento dos sportinguistas, dos portistas e dos adeptos dos outros clubes também não querem que nada disto aconteça.»

Oscar Moscariello destacou que até o Papa Francisco considerou que o desporto é uma boa via para fomentar bons valores como a «convivência e a tolerância».

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