As cadeias nacionais de televisão também difundiram a imagem. Uma imagem que vale, sem dúvida, mais do que mil palavras ou não fosse este um dos protestos que se espalharam pelos Estados Unidos após a decisão do Grande Júri que ilibou o polícia branco que matou um adolescente negro em Ferguson.
O tribunal não deu como provada a culpa do polícia de 28 anos, mas, na rua, a decisão trouxe desconfianças racistas, que obrigaram o presidente Obama a pronunciar-se sobre o caso. Por isso, esta imagem, a imagem de um abraço, tem uma mensagem, um significado, que ultrapassa a imagem, que vai para além do abraço.
E tudo se passou de forma espontânea. Os protagonistas são o sargento Bret Barnum, há 21 anos na polícia, e Devonte Hart, de 12 anos.
What I learnt from 12yr old Devonte Hart...When hate suffocates the air, let love be your only option! #Ferguson pic.twitter.com/RDNcl0Hzpr
— Catheryn Massamu (@africatrina) 30 novembro 2014
No dia 25 de novembro, o polícia estava de serviço a uma manifestação, em Portland - contra a decisão judicial de não levar Darren Wilson a julgamento, relativamente ao homicídio de Michael Brown -, quando surge um rapaz com um cartaz a anunciar «free hugs» (abraços gratuitos, numa tradução livre). O menino chorava e isso despertou a atenção do polícia, ao mesmo tempo que os ânimos aqueciam com as palavras de ordem vociferadas na marcha.
Barnum meteu conversa com o rapaz. Acabaram a falar da escola e da vida. Antes de cada um seguir o seu caminho e o seu papel naquela marcha, o sargento, em entrevista ao «The Oregonian», disse que perguntou ao rapaz se podia ter um daqueles, apontando para o cartaz. Ou seja, um abraço. Emocionado, Devone Hart abraçou o polícia e não conseguiu segurar as lágrimas.
Os dois não sabiam que estavam a ser observados por Johnny Nguyen, um estudante de 20 anos, aspirante a fotógrafo profissional, que nunca tinha publicado nada em meios de comunicação para além das redes sociais. De um dia para o outro, também a sua vida mudou. No dia seguinte estava na televisão local e daí, a sua fotografia deu a volta ao mundo e foi comprada pela Associated Press e pelo jornal local «The Oregonian».
Mas há um terceiro ângulo desta história. Os últimos são os primeiros. Devonte Hart é o grande protagonista deste flash. Para além da fotografia e do abraço, há uma história de vida que parece não caber nos seus 12 anos. Quando nasceu, o menino afro-americano já trazia drogas no corpo. Criado num ambiente de extrema pobreza e negligência, aos quatro anos já tinha fumado e experimentado drogas e até tocado em armas.
Mas, a vida de Devonte e dos seus irmãos mudou radicalmente quando foram adotados por um casal homossexual. Jen e Sarah Hart adotaram seis crianças.
«Naquela noite, depois de ter conseguido finalmente adormecê-lo, chorei como nunca tinha chorado na minha vida. Senti que não era capaz de criar esta criança e outros cinco», contou Jen Hart ao «Paper Trail» sobre a primeira noite que teve Devonte.
Sete anos depois, Jen tem a prova de que está a fazer um bom trabalho e o seu filho pré-adolescente tornou-se um ativista, ao lado da mãe, espalhando «abraços», a favor da paz, da tolerância e da solidariedade.